REDENÇÃO [rafe cameron]

4 | ELES SÃO O PROBLEMA

"Como você pode sentir a maneira que eu estou sentindo
Se você não está dentro da minha cabeça?
Eu tenho algumas emoções misturadas
Sobre a forma como estou lidando com o estresse"
Wiped Out! ♪ The Neighbourhood

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RAFE

  O cheiro de cigarro está espalhado pela casa, há horas os dois homens estão debatendo acordos no enorme escritório. Com a porta apenas encostada, me aproximo sorrateiramente, ouvindo com mais claridade.

  — Como tem tanta certeza de que é uma história real? — Pergunta Brian Robinson. O homem não chega a ser mais velho que meu pai, e é o principal parceiro nas folhas de nossa família.

  — Há anos tenho pesquisado sobre isso, todos indícios são reais, estou cada vez mais próximo. — O outro argumenta, mostrando algo no computador.

  — O Royal Merchant está imerso a séculos — Brian suspira —, mesmo se a lenda for real, é praticamente impossível encontrar o ouro em alto mar.

  — Talvez nem todo o tesouro tenha afundado. — Meu pai debate confiante e o parceiro parece pensar seriamente.

  Royal Merchant. Um navio que naufragou cheio de jóias, pratas e ouro, durante o século XIX. Os milhões imersos na água virou um famoso mito que, aparentemente, meu pai acredita ser real. O mesmo nunca comentou nada sobre isso para mim. Apenas uma lenda. Mas ele parece realmente interessado, e Robinson não questiona a legitimidade.

  Ambos não agiriam como piratas se uma parte de toda a história não fosse real. Então porque estou fora disso se posso ajudar? Daqui um tempo irei administrar os negócios de nossa família, tenho que saber de tudo que rola por baixo dos panos. Ele não confia no próprio filho?

  — Não podemos jogar tudo em busca disso. — Brian lança um olhar para a porta e me esquivo rapidamente.

  — Não tudo, mas temos que progredir.

  Ignoro o resto da conversa ao me sentir nauseado, a queimação em meu estômago tornando a tontura pior. Ando rapidamente em direção ao banheiro que fica próximo a sala, com a bile latejando em minha garganta, tornando o caminho longo.

  Ao entrar, me ajoelho, inclinando sobre o vaso, e o vômito se esvai em meio a tosses. Me encosto na parede gelada e fecho os olhos fortemente, tentando me acalmar.

  Inferno.

  Dou descarga e vou até a pia. Bochecho a água e jogo em meu rosto várias vezes, molhando até o meu cabelo, na tentativa de amenizar a fadiga.

  Mas que porra.

  Antes que alguém presente em casa me veja, eu saio, indo direto para a lanchonete onde Barry Lopez marcou de me encontrar — e a irmã dele trabalha.

  Entro no local já vendo o garoto sentado com olhar voltado para mim. Me sento de frente para ele. Com a luz do sol, os machucados da noite anterior são mais visíveis, um roxo pelo olho de Barry, vermelho pelo braço e alguns arranhões pelo resto do corpo. Rolar pela areia e mato só piorou as marcas.
  
  E eu não estou diferente. Há cores por todo o meu corpo, se misturando com as que já haviam antes da briga. Felizmente, ninguém em casa me questionou, ou sequer percebeu.