Capítulo Doze - Um chamado dos céus

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Nem o ameaçador mordomo poderia parar o furacão de cabelos loiros e olhos castanhos que esmurrava a porta e estremecia as paredes do Lune. Assim que os jornais foram entregues Cibelle estava cega pela raiva e pela vergonha. Quando lera a coluna de fofocas imediatamente enxergou o plano por trás dos atos daquela francesa petulante e uma fúria completa lhe tomara. De repente a dócil duquesa de Manchester já não mais estava presente e seu lado selvagem assumiu o controle.

Uma inútil tentativa de reparar o dano fizera ela levar a primeira mulher que viu como dama de companhia e por isso Zarina completamente perdida a seguia com espanto no olhar. Quando as portas foram abertas ela praticamente exigiu Celine, mas o barulho de uma melodia a respondera e ela em passos furiosos já se dirigia até a sala de música. 

Um jornal sendo jogado pelas teclas impediram os dedos da condessa de continuarem a executar "Serenata" de Franz Schubert e pouco surpresa Celine com uma calma enervante levantou os olhos para a mulher que se erguia ameaçadoramente ao lado dela.

- Sua... Sua... Sua... - Com a mandíbula cerrada, as narinas fumegantes e mãos cerradas Cibelle Herveston gritava indignação.

E lá estava aquela fúria ensolarada que Celine mencionara espelhada nos cabelos dourados e naqueles olhos que guardavam o fogo do próprio sol. 

- Sua? - Estimulou ela provocando o sol.   

- Sua traidora!

- Traidora? - Desdenhou rindo calmamente. - Você consegue fazer melhor. 

- Trapaceira! Mentirosa! Enganadora! - Uma sombrancelha se erguera em zombaria com a escolha não muito melhor de ofensas. - Aargh! Sabe o que significa aparecer nessa coluna? Nenhuma mulher honrosa tem o nome citado em jornais de fofoca! Você fez de propósito!

- Não seja tão melodramática, sua passagem deve ter sido o que mais inocente aparecera nessas folhas. - Respondeu Celine se refugiando numa segunda leitura da coluna. 

"Depois do que eu temia achar ser uma das temporada mais insípidas de Londres, eis que um acontecimento um tanto curioso chegou aos ouvidos dessa senhora. Lady Cibelle Herveston nada mais do que a duquesa mais influente de nossa sociedade e a mulher de caráter inquestionável foi vista acompanhada da condessa Celine Ellsworth (ou como a dama gosta de ser nomeada lady Marchand). 

A dama de reputação duvidosa e o motivo de nós mulheres nos revirarmos em preocupação pelos nossos maridos foi vista ao lado da duquesa andando por lojas com uma aparente intimidade. Segundo fontes confiáveis antes delas partirem numa nada sutil carruagem branca uma soma ridiculamente alta foi gasta por lady Herveston no que só poderia ser descrito como um verdadeiro banho de loja. Devido a natureza incomum desse encontro me atrevo a supor que essa não será a última vez em que veremos essas duas ladies tão próximas novamente... E aproveitando meu atrevimento, ouso ainda indagar:

O que será que damas tão opostas faziam juntas? 

Podemos esperar mais escândalos vindo dos nobres?

Será esse o surgimento da amizade mais estranha que veremos? 

Embora isso não se trate de mais um tórrido caso de amor ou mais um alvoroço de nobres flagrados como vieram ao mundo temos que confessar que essa amizade é no mínimo intrigante. "

- É inútil me unir a você se ninguém prestar atenção. - Falou Celine como se aquela frase justificasse tudo.

- Então foi por isso o nosso passeio? Por isso aquela carruagem medonha e por isso você não me soltava um segundo sequer?

- Eu pretendo mudar rapidamente minha situação lady Herveston. - Continuou ela sem um traço de arrependimento enquanto contemplava o jornal ainda sobre seu precioso piano. - Embora eu tivesse minhas dúvidas se isso atrairia mesmo a atenção daquela colunista ela nunca perderia a chance de falar sobre mim. Já vendi tantos jornais para aquela megera que essa mulher deveria escrever uma matéria exaltando meu nome. 

A outra [FINALIZADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora