Capítulo Onze - Primeira lição

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Como se estivesse a deriva...

Era assim que Cibelle havia terminado seu encontro com Celine. Estava entorpecida pelos acontecimentos... Sua ousadia, as palavras trocadas, a sensação estranha que tomou sua pele ao tocar na dela, aquele momento angustiante no piano, tudo dava voltas e voltas sobre seu cérebro letárgico. Havia realmente conseguido propor o acordo mais insensato de sua vida e o pior é que sua inimiga aceitara! Teria mesmo aulas com ela! E no dia seguinte!

Dia seguinte... Dia seguinte... Dia seguinte...

Sabia que havia algo da qual deveria lembrar, um detalhe tão importante que fazia sua cabeça repetir aquele último fato na esperança de fazê-la recordar.

Dia seguinte... Dia seguinte... Dia seguinte...

A cada trotar dos cavalos sobre o cascalho, a cada curva da estrada aquelas palavras eram invocadas.

Dia seguinte...

Mas, não tinha algo para fazer nesse dia além de comparecer a um evento beneficente, mas não era algo, era alguém... Por Deus Joseph! Céus estava tão concentrada em convencer lady Marchand a aceitar seu acordo que se esqueceu do detalhe mais importante.

O que diria a ele?

Como esconderia isso de seu marido?

Se ele soubesse de seus encontros com a ex-amante certamente a encurralaria atrás de respostas e apesar de as vezes ser boa em conseguir desviar de um assunto, Cibelle não tinha mesma habilidade para a mentira.

Quando estava sob pressão suas palavras confiantes teimavam em tremer, sua respiração se tornava irregular e ela era incapaz de olhar nos olhos de seu oponente. Nunca precisou mentir para Joseph, mas sabia que bastaria apenas uma fração daquele poder sobre ela e Cibelle lhe despejaria toda a verdade em segundos. Estava tentada a gritar para o cocheiro parar, mas já era tarde demais e  os portões de Herveston Hill a esperavam.

"Mesmo se conseguisse escapar para onde iria? A casa do seu irmão? Sua mãe a enxotaria em segundos alegando que o lugar de uma mulher era ao lado de seu marido." Puniu seu cérebro fazendo pouco dela.

Rezando por algum milagre que fizesse seu marido tão ocupado ao ponto de nunca descobrir uma temporada inteira ao lado daquela mulher, lentamente ela adentrou e tentou parecer casual ao perguntar por ele.

- Eu lamento minha senhora, mas sua graça partiu a poucas horas. - A sorte realmente estava ao seu lado, ou isso ou agora os céus atendiam as suas preces.

- Partiu? Para onde? - Perguntou ela entregando as luvas, o chapéu e a sombrinha para uma criada jovem demais para ser qualificada a atender uma duquesa, mas ela precisava pôr comida na boca dos filhos e Cibelle nunca lhe negaria isso.

- Para Kent, acho que se tratava de algum problema com os trabalhadores.

"Uma forma bonita de dizer escravos." Ironizou ela secretamente.

Provavelmente sua ida era para executar ele mesmo a ordem que ela propora. Quase conseguia ver os pensamentos calculista que o levaram a tomar aquela decisão, com certeza sua presença seria bem mais efetiva... Assim que vissem seu marido chegando a cavalo o próprio chão tremeria com medo de Joseph Herveston. 

Não conseguia acreditar na injustiça daquilo, com apenas meia dúzia de palavras ela ajudava a punir homens simplesmente por lutarem por sua liberdade. Com raiva de si mesma Cibelle sentindo um forte amargor decidiu que mandaria mais algumas somas para a causa abolicionista.

Há anos Cibelle anonimamente era uma das maiores patrocinadoras daquele movimento. Os integrantes imploravam atrás de uma oportunidade para conhecer sua benfeitora oferecendo até mesmo um lugar na liderança, mas nem se ela quisesse poderia. O que diriam eles ao ver a esposa de um dos seus maiores inimigos lhes guiando a liberdade? Um riso amargo se sobressaiu ao pensar na resposta...

A outra [FINALIZADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora