vinte e três.

Começar do início
                                    

A expressão de Seth abraça confusão. Seus olhos castanhos cintilam sobre o entardecer, mas eu apenas sorrio e abro a porta. A rodovia está completamente vazia e o céu está prestes a despencar. Eu posso sentir a chuva chegando pelo modo como o vento zune contra mim, jogando meus cabelos para trás.

Dou uma última olhada no jipe. Seth abre a porta e balança o celular. Ele vai fazer o que tem feito durante todo o nosso passeio. Me capturar em momentos esquisitos. Não sei se ele já está filmando quando sorrio para ele por cima do ombro e solto os cabelos.

Começo a passos lentos e então estou correndo no asfalto. Sou eu, a música no carro ficando para trás, o vendaval que vem do leste e o céu cor de caramelo queimado. Meus pés ganham velocidade, mas não o bastante para que eu corra como se estivesse em perigo. Estou correndo porque estou muito feliz.

É como na cena em que Walter Mitty desce de skate por uma estrada deserta. É o momento favorito do meu filme favorito. E, apesar de não ter rodinhas sob meus pés, sinto que estou deslizando.

Quando eu paro e giro para acenar para Seth, ele está correndo até mim. Não sei por que faço isso, mas fujo dele, gargalhando. Provavelmente sua filmagem só consegue pegar asfalto, meus pés e pedaços de paisagem, porque ele está tentando me perseguir e se esqueceu de que estava gravando.

Só paro quando sua mão segura o meu pulso. Seth não me puxa, nós apenas diminuímos e vamos nos aproximando. Eu sei que um segundo beijo não estava nos nossos planos, mas quero beijá-lo de novo. Talvez Seth esteja considerando isso também porque ele encosta a testa na minha e fecha os olhos. Ergo o queixo e beijo seus lábios rapidamente.

Ele sorri. E não estou brincando sobre o quanto vê-lo rindo, desenhado pelo vermelho do céu e o terroso das montanhas, é esplêndido. Seus cabelos ganham tons carmim e sua pele está iluminada de laranja. Decido, a partir daquele momento, que aquela é a minha cor favorita: o alaranjado do pôr-do-sol na pele de Seth Rowan.

Sorrio também, sentindo o meu rosto ficar vermelho.

Mas o celular dele toca antes que possamos continuar. Nos afastamos tão rápido que é surpreendente. Como se a realidade nos avisasse sobre quem somos de verdade.

― Alô, Carson.

Seth se vira de lado. Mas mesmo assim posso ouvir a voz estridente de Carson do outro lado.

― Mano, você está com Liv Wilder? Cara diga que não!

― O que? ― Ele volta a me encarar. ― Não... Eu... O que houve, Carson?

― A merda do pai dela veio aqui dizendo que a sequestramos. Cara, onde você está?

― Estou indo para casa.

― Seth. Mano... Ok, eu entendo. Ela é gostosa. ― Desvio os olhos de Seth, sentindo algo como vergonha rastejar minha pele. ― Mas é a Wilder. Se estiver com ela, evite deixá-la em um lugar óbvio tipo a casa dela, ou seja lá onde ela esteja morando agora depois do incêndio.

― Tá, Carson. Eu já estou indo. Chego em poucos minutos. Valeu, irmão.

Seth desliga, mas antes que ele diga alguma coisa, abano a mão e me viro, evitando o contato com ele.

― Você pode me deixar na casa de Georgia Dayrell. ― É a ideia mais rápida que tenho. ― Posso, sei lá, inventar uma desculpa de lá. Que envolva Cherie. Eu não sei.

Voltamos para o carro em silêncio e terminamos a nossa viagem assim. Quanto mais perto de Seven Heavens chegamos, mais distante um do outro ficamos. E acho que é a melhor coisa para mim e Seth.

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