"Nossa, vocês são bem fortões, hein?", ele dizia enquanto era levado contra sua vontade, embora parecesse bastante à vontade. "Eu tinha um tio que era tipo vocês, ele também era muito bom em arrastar pessoas...", foi falando, enquanto os homens esquisitos, porém normais, não sabiam muito bem o que responder para o louco, apenas se entreolhavam, confusos. "Pena que agora quem é arrastado também é ele...", concluiu João, sem deixar o sorriso morrer.

Quanto a porta bateu, indicando que os irmãos já haviam dado um jeito no novo doido, Arlete se virou para o Psicólouco e desabafou: "Senhor, acho que esses últimos loucos parecem mais desafiadores que os anteriores...", sua voz era de preocupação sincera, "Parece que o Depósito de Malucos seria um lugar melhor para eles, a meu ver. Eles não serão fáceis que nem aquele imbecil lá do pijama...", comparou.

"Arlete, se eu quisesse sua opinião, eu pediria...", cortou o Psicólouco, olhando as notícias do dia em um jornal, com os pés encima da mesa, quase derrubando, sem perceber, a placa dourada que anunciava para todos que ele era o incrível Dr. Psicólouco. "Além disso, como sabe, eu estudei, tenho diploma, e isso quer dizer que eu sou capaz de acabar com qualquer doido estúpido que passar por essas portas...", dizia ele, sem saber que cada palavra fizera o coração de sua secretária sangrar discretamente. "Admito que, para uma pobre pessoa desinformada e semianalfabeta como você, deve parecer impossível, mas eu nunca me deixei abater por paciente algum, por mais retardado que fosse... Preocupar-se e assumir sua ignorância, minha cara", e levantou-se, dobrando o jornal e jogando-o na mesa da secretária, que levou um susto entre as lágrimas que derramava, e começou a atravessar o salão, rumo a uma sessão com o mais novo doido da casa.

Quando o Dr. Psicólouco, acompanhado dos armários, destrancou todos os cadeados da sala número quatro, entre dós, gritos, e perguntas vindas de outras salas, atravessou a passagem e foi pego de surpresa por uma imagem bizarra. João corria pela sala vazia, formando um círculo em seu centro. Em seguida, o sem noção começou a fazer alongamentos, polichinelos, e os mais diversos tipos de movimentos dignos de um aquecimento esportivo.

O doutor diplomado riu, pensando: "Então o problema desse idiota é, simplesmente, esse: ser retardado!", constatou, com base nos estudos de recebera na faculdade de Psicolouquia. Aquele seria, provavelmente, o caso mais simples de ser solucionado.

Porém, quando o Psicólouco desviou sua atenção para sua prancheta, anotando o nome do biruta, voltou-se para encarar o doido com espanto, esperando que seu paciente estivesse praticando embaixadinhas. Mas, na verdade, João estava brincando com um ioiô. Percebendo que aquele maluco era ainda mais idiota do que esperava, o doutor pigarreou, exigindo um pouco de respeito devido sua presença, para que pudesse iniciar a sessão. Porém, o doido demorou um tempinho para perceber a intenção do médico, isto é, se é que em algum momento percebera.

"Esse é o meu talento!", disse João, fazendo coisas nada mirabolantes com o ioiô, ou, pelo menos, nada que o Dr. Psicólouco não tivesse visto sendo feito por outro babaca. "Minha mãe sempre disse que eu sou ótimo no ioiô... e o senhor sabe, né? Mãe é mãe!", disse, com um sorriso que ia de uma orelha a outra.

O Psicólouco bocejou, cansado de pacientes tão desgastantes. Foi até sua cadeira confortável e se sentou, anotando as tolices que o louco fazia naquela sala. João, de repente, se virou e disse: "Veja só isso!", e deu um giro desajeitado, quase deixando o ioiô cair. "Muito louco, né? ".

"Sim, você é muito louco...", disse o Psicólouco, com seu costumeiro sono que se manifestava no período da tarde. "Do contrário eu não estaria aqui, não teria emprego e... bla, bla, bla!", zombou. "Agora, repita seu nome para eu checar se anotei corretamente...", e foi vendo a lista em sua prancheta.

Gatilho VerbalKde žijí příběhy. Začni objevovat