Significância/Negar

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— Irmão, por favor acorde, por favor, acorde! — Um menino de pele cinzenta balançava o corpo de um garoto mais velho que não se mexia, sua roupa cheia de sangue coagulado e nanomáquinas mortas misturado a ele.

Em meio aos escombros e corpos por todos os lados aquela criança continuava a suplicar a sua única família para voltar para ele.

— Não se preocupe, eu vou fazer você acordar! Você só deve estar com fome.

O menino se afasta e vasculha ao redor sentindo os vários cheios: fumaça, sangue, esgoto, carne queimada. Nos corpos humanos pegou os ossos e raspou o interior deles obtendo um pouco de soma. Reuniu o máximo possível em um recipiente e correu até seu irmão. No caminho, por conta da pressa e afobação, escorregou e caiu. Todo o conteúdo do recipiente se espalhou pelo chão se misturando a sujeira nojenta que impregnava todos os lugares. Seus olhos se encheram de lágrimas. Olhou o irmão caído e se sentiu impotente. Levantou e limpou as lágrimas do rosto. Voltou a vasculhar corpos e procurar soma.

Com cuidado dessa vez ele conseguiu chegar ao seu irmão. Tentava fazer ele ingerir o soma, mas não conseguia. Não tinha reação alguma e suas súplicas não eram ouvidas.

— Ele está morto — escutou uma voz soar próxima a ele.

O menino procurou a origem daquelas palavras e se deparou com um par de olhos brilhantes em uma face alva. A garota sentava sobre uma pilha de sucata e apoiava o queixo na mão direita. Não existia traço de emoção em seu rosto, não havia nada dele, como se fosse uma tela em branco. Mesmo não sabendo quem ela era, o menino sentia que de alguma forma ela era diferente de tudo que conhecia.

— Por que você diz isso? — Perguntou ele. — Meu irmão está só cansado, ele fez de tudo para me proteger e conseguimos chegar até aqui, logo ele vai acordar.

— Você está errado. Ele está morto e nunca mais vai voltar.

Lágrimas despontaram nos olhos dele. Deu às costas a estranha garota e continuou naquela insistência inútil. Por dentro ele se segurava para não se partir. O que faria sem seu irmão? O que faria sem a pessoa que sempre cuidava dele? Mesmo quando todos diziam que era uma aberração por conta daquele chifres azuis em sua testa o único que o protegia era Ulv. Esfregou os olhos e cerrou os punhos.

Olhou para trás e a garota havia sumido. Naquela noite dormiu perto do corpo e sonhou com seu irmão e no sonho ele dizia para continuar vivendo.

Quando acordou aceitou o fato de que estava sozinho. Era estranho pensar que foi o único que sobreviveu ali. Humanos e silicantes, mortos por conta de um tipo de criatura horrível. Um ser vermelho portando uma espada com um sinistro olho nela. Por que havia sobrevivido se ia ficar sozinho?

Arrastou o corpo do irmão até perto do lugar onde moravam e começou a reunir pedaços de tijolos e concreto, fabricando assim um túmulo decadente.

— Então você aceitou que ele morreu? — A garota havia retornado.

Agora mais próxima ele via como ela era diferente, o principal eram os olhos, nada humanos, nada similar a de um silicante. E seus longos cabelos esmerada que parecia ter um tipo de luminescência, haviam certas linhas marcando algumas regiões do corpo dela, próximas aos ombros expostos e o redor do cotovelo.

— Quem é você?

— Eu sou a Erin e você?

— Wolf. Wolfgang Wulfran.

— Como um lobo?

— O que é um lobo? — Sempre foi chamado de Wolf, nunca se perguntou o que queria dizer.

Serpente do Vazio - Irregular (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora