Serpente do Vazio - Irregular (Completo)

Marcado

No terraço de uma das torres mais altas da área 23, 50 faces aproveitava um copo de licor vermelho enquanto observa as ruas abaixo. Adaliz e Aliz estavam ao seu lado, intrigadas com o que ele aguardava, não podia culpá-las, não contava todos os seus planos para elas que serviam de cães de guarda. Toda a bagunça que causou ao manipular estúpidos grupos deram resultados, alguns contratempos aconteceram, mas nada fora do cronograma, imprevistos sempre acontecem e agora ele sabia exatamente onde estava a chave que seria o início e o fim do último ato. Por muito tempo planejou com cuidado cada jogada naquela cidade fedida, cada pessoa que aliava a uma causa de mentira, um objetivo falso, não se podia confiar em ninguém de verdade, por isso precisava de muitas histórias e todas sustentadas por evidências forjadas. Humanos e silicantes no final eram a mesma coisa, manipuláveis. Bastava encontrar um erro e explorá-lo e então te levaria direto na fraqueza que cada um possuía. Família, amigos, emprego... bastava passar sutilmente a mão invisível que eles sempre caiam.

Uma sombra negra pairou sobre o lugar e a sua frente envolto em escuridão a lenda urbana surgiu. Finalmente o visitante que esperava chegou.

— Você tem muita coragem de aparecer na área 23 — disse o motoqueiro negro.

— Ora minha doce Helena, tudo que fiz foi tentar impedir que um grupo liderado por um peixe causasse mais estragos — um sorriso cínico se abria em seu rosto. — Deveria ver mais os noticiários

— Cale a boca — um projétil se formou ao lado de Helena e ela disparou contra 50 faces que moveu a cabeça para o lado evitando. — Eu sei que você está por trás disso.

— Que provas tem?

— Sua presença aqui — Helena tirou o capacete e sorriu, — acho que devo te matar e evitar todo um transtorno futuro.

— Mas que medo.

O terno que 50 faces vestia se dissolve, chifres coloridos surgiram em sua testa enquanto sua pele mudava de cor assim como sua aparência masculina se tornava uma feminina. Agora com um metro e cinquenta e cinco centímetros de altura, pele cinza no tom mais claro que existia e cabelos em um corte chanel com fios coloridos, cada fio de cabelo sendo de uma cor diferente do outro. Olhos com a íris em forma de rosa com pétalas de todas as cores.

Uma nova roupa cobria agora 50 faces, algo similar a um kimono branco com estampas de serpentes coloridas e por cima dele um haori cor-de-rosa. Uma roupa formada pelo seu bortz. 50 faces estava diante de outro irregular, por isso não podia vacilar, principalmente com um tão agressivo como Helena.

— Então resolveu mostrar sua cara — disse Helena.

— É porque você é uma garota especial — sorriu ao dizer em uma voz calma e doce.

Tentáculos negros surgiram por todo o terraço. Adaliz e Aliz se puseram a sua frente.

— Acho que está se precipitando — disse 50 faces. — A partir de agora a festa só está começando e não tem hora para acabar.

Algo explodiu não muito longe daquele lugar. Helena virou a cabeça na direção do barulho e viu uma enorme nuvem de fogo subindo de um prédio.

— Tenho quase certeza que esta direção é de um certo bar de silicantes — o sorriso no rosto da 50 faces aumentou ao ver a expressão da Helena, seria fúria ou desespero? Não sabia ao certo.

Tentáculos negros se moveram contra 50 faces. Adaliz e Aliz bloquearam o golpe. A força da Helena se mostrou maior e ambas foram jogadas para fora do terraço. Tentáculos coloridos surgiram em oposição aos negros e se enroscavam em um abraços destrutivo.

— Tem certeza que deveria ficar aqui me atacando? — 50 esquivou de vários ataques em sequência. — Uma briga não é a melhor coisa para nós duas. Ainda mais agora que parecia que seriamos grandes amigas — não tinha como não se divertir das expressões raivosas de Helena, brincar com os outros sempre foi um hobbie que passou a cultivar quando começou a entender como aquele mundo funcionava.