Capítulo 22 - Você pode ser o que quiser...

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O olhar de Bakugou ficou marcado em mim de uma forma que dificilmente serei capaz de esquecer. A aflição em suas irises vermelhas ainda me assombra, junto com o turbilhão de sensações incomodas que me provocam causando-me um intenso desespero.

Agacho ao lado da cama e levo minhas mãos ao cabelo, puxando-o com força para que a dor no couro cabeludo me ajude um pouco a pensar. Tudo está girando, quase não tenho como lutar contra essa espiral que me puxa cada vez mais para o fundo de algo que não sei definir, só sei que está me prendendo, me sufocando.

- Respira... Ah... Droga, respira... – resmungo para mim mesmo torcendo para que o ar finalmente chegue aos meus pulmões, começo a chorar mais uma vez sentindo as bochechas tremendo pela dor, os músculos ainda não me obedecem e fico mais desesperado com esse sorriso enorme em meus lábios.

Ouço batidas na porta e não sei dizer o quão distante elas parecem, não sei quanto tempo já passei aqui nesta posição, só sei que meus joelhos doem e meus pés já se encontram dormentes, meu rosto está gelado e as lágrimas quentes continuam a escorrer, proporcionando uma sensação estranha em minha pele. Ignoro quem quer que seja na porta e decido me levantar e buscar algo que me dê um pouco de paz. Eu poderia recorrer a dor, mas com os fortes arranhões em meu braço eu já não tive resultados, creio que estas alternativas usadas até então só pioraram minha situação.

 Olho para o violino sobre a cômoda e pego-o posicionando-o em meu pescoço, pego o arco e começo a tocar o instrumento a principio de forma desgovernada, sem nenhuma música especifica em mente, logo busco em minha cabeça alguma melodia que me deixe um pouco mais calmo e mantenho esta música em minha mente, mesmo que a principio o toque do arco nas cordas seja brusco e agressivo, devido ao tremor em minhas mãos.

 Meus dedos no braço do violino erram diversas vezes até que consigo ter maior controle sobre os mesmos, aperto tanto as cordas em certos momentos que sinto as pontas dos dedos adormecerem pouco a pouco. Alguns fios do arco começam a estourar e vou diminuindo a velocidade a fim de preservar um pouco mais o instrumento, sinto meu coração desacelerar ao menos um pouco e já consigo inspirar profundamente sem muitas dificuldades, paro em frente a minha cama e olho para a imagem de Bakugou pequeno eternizado na fotografia que sua mãe me dera. Mantenho meus olhos no pequeno garotinho enquanto continuo a tocar a música agora em seu compasso original, de forma terna e lenta, permitindo que os acordes levem um pouco da angústia embora.

Movo os lábios e fico aliviado ao constatar que o sorriso finalmente se perdeu, meu rosto doi e tento não ficar mexendo demais as laterais da boca para evitar a dor incomoda que se faz presente em meu maxilar. Paro de tocar depois de repetir a música ao menos duas vezes e escuto passos apressados no quarto ao lado. Não demoro a ouvir batidas impacientes na porta e fecho os olhos suspirando por alguns momentos, eu deveria realmente falar com Bakugou, apesar de que ainda é muito forte o sentimento de que eu estaria sendo apenas um peso morto em sua vida lhe delegando mais das minhas incríveis idiotices.

- Qual é caralho, abre essa merda Kirishima, você precisa comer alguma coisa e me explicar direito qual foi a merda que aconteceu por que... – ouço a voz do loiro xingando do outro lado da porta e me surpreendo. O mesmo me deu o espaço que eu precisava até o presente momento, antes eu me recordo que suas batidas na porta não foram acompanhadas de ameaças. Talvez ele também saiba sobre como a música tem certa influência sobre mim, creio que este tempo todo ele esteve ao lado escutando o barulho que eu fazia.

Abro a porta e o rapaz quase cai para frente por estar recostando a testa na porta enquanto falava, olho para ele sem esboçar reação alguma, mais pela dormência em minhas bochechas do que pela falta de emoção. Com certeza, sentimentos é o que não faltam em mim neste momento. O loiro entra em meu quarto segurando algumas sacolas que não perco muito tempo para analisar, já que sua mão levemente inchada me chama mais atenção do que o restante do conjunto. Eu o machuquei, me recordo disso, meu peito se aperta e fico hesitante quanto ao que eu pretendia dizer, tudo o que venho fazendo é prejudica-lo, como posso ser egoísta ao ponto de despejar minhas mágoas em cima de alguém que não é obrigado a arcar com isso?

Depressed || KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora