Capítulo 14 - Lágrimas Sob a Chuva

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Quarta-feira, 28 de Agosto de 2019

Acordo cerca de uma hora antes do momento em que preciso realmente levantar, sinto-me cansado como se tivesse apenas piscado desde que me deitei para dormir, meu corpo pesa e me sinto um completo lixo. Essa sensação já se tornou tão comum que ela não me afeta tanto assim, ela só se mantém impregnada nos meus pensamentos, me fazendo duvidar da real motivação que possuo para continuar existindo. Aperto as mãos em punhos e trinco o maxilar pela raiva que me domina sem ao menos ser algo racional, é algo agridoce, efêmero e instável. As emoções se misturam e acabam sendo um pouco de cada e nenhuma ao mesmo tempo. É doloroso, mas prometi aguentar por aqueles que se preocupam comigo, infelizmente.

Levanto da cama sem conseguir mais conter a ansiedade, é sufocante estar na minha presença, mas isso é algo que não dá para evitar, de qualquer forma. Pego meu uniforme muito lentamente e vou para o banheiro a fim de tomar um banho para acordar um pouco do meu estado letárgico e deprimente, tiro a roupa e me coloco debaixo do chuveiro sem me importar com a temperatura extremamente gelada da água que cai sobre minha cabeça, lavo o cabelo e o corpo, respectivamente, sem me permitir pensar demais.

Devo apenas sair e ir para a aula, fingir que estou entendendo a matéria e sorrir para que meus amigos pensem que estou conseguindo superar. O problema é que isso tudo não passa de uma farsa, o que me leva novamente ao sentimento de culpa, por estar assim, por ser quem eu sou. É exaustivo não ser capaz de me aceitar, algo que antes era tão corriqueiro, nem passava pela minha cabeça que um dia eu repensaria as minhas qualidades e as encontraria tão subjacentes em relação aos defeitos que parecem surgir a cada segundo.

Saio do banheiro e me seco esfregando a toalha em meu corpo com certa força, causando uma leve ardência na pele para me trazer de volta à realidade, visto o uniforme vagarosamente olhando para o relógio e suplicando aos céus que esse dia passe rapidamente, para que eu possa mais uma vez deitar minha cabeça sobre o travesseiro e me esbaldar com uma das opções que geralmente tenho, passar a noite diminuindo a mim mesmo ou dormir sem sonhar com absolutamente nada, somente para acordar como se tivesse feito tudo menos descansado.

Fico sentado na cama até que deduzo ser um bom horário para sair, abro a porta e me surpreendo ao notar Sero em frente ao meu dormitório, sentado com as costas apoiadas na parede oposta à minha porta.

- Eai Bro, bom dia! Estava esperando você – ele diz sorridente e sorrio minimamente para mostrar que estou bem e feliz por sua vinda, não que eu não estivesse, mas ter que pensar para fazer isso de forma consciente só mostra a minha real situação. Antigamente isso seria algo simples que não exige muito da minha vontade, porém agora devo me policiar sobre como me mostro para as pessoas, para não feri-las ainda mais com minha prepotência em viver como uma pessoa normal.

- Bom dia Sero, valeu cara – respondo fechando a porta e caminhando ao lado do rapaz. Ele começa a falar sobre assuntos corriqueiros e procuro prestar atenção de verdade em suas palavras, mesmo que minha mente tente constantemente fugir de onde estou fisicamente me deixando inerte aos acontecimentos ao meu redor.

- Pois é, mas já consegui me acertar com meu mano, pelo menos. Olha, o Bakugou mandou te dar isso aqui, ele disse que você não anda comendo direito e vai explodir sua cara se tu recusar – Hanta declara estendendo um embrulho para mim. Abro e vejo que se trata de um sanduíche natural que eu costumava comprar às vezes na lanchonete do colégio, meu peito se aperta um pouco pela lembrança de tempos felizes e assinto positivamente agradecendo ao rapaz que permanece caminhando tranquilamente ao meu lado.

- Muito obrigado – falo e sinto meu estômago embrulhar, Sero permanece com os olhos fixos sobre mim e creio que deve estar esperando para ver se realmente irei comer. Sorrio sem graça e dou uma mordida no lanche, ele está realmente gostoso, como sempre esteve, mas meu paladar que parece ter alguma divergência, no entanto, não sinto fome como antes, alimentar-me é algo que venho fazendo apenas por saber que minha estadia nesse colégio exige de mim um preparo físico adequado, mas o enjoo prostrado em minha garganta deixa-me em uma situação complicada ao mastigar o pão que antes não demorava a ser devorado por mim.

Depressed || KiriBakuWhere stories live. Discover now