Capítulo quarenta e seis

798 112 70
                                    

Eu estava à deriva no mar, presa em um barco apertado sem saber ao certo qual direção tomar

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Eu estava à deriva no mar, presa em um barco apertado sem saber ao certo qual direção tomar. Apenas conseguia olhar para a imensidão do mar ao redor, pensando sem parar se deveria ir na direção do Norte ou o Sul. Vovó era como minha bússola, ou como o sol que meu planeta orbitava. E naquele momento sem ela, eu iria girar ao redor de quem?

Devia ter me preparado melhor para esse momento. Queria que minha psicóloga estivesse ali. Era bom conversar com ela, Lúcia sabia o que dizer.

Será que era errado demais mandar uma mensagem contando tudo?

Peguei o celular e olhei para a tela, cogitando fazer isso. Pensei em todas as palavras que iria utilizar, porém, me contive quando alguém bateu na porta do banheiro, me chamando. Precisei de alguns segundos para lembrar que estava sentada no banheiro de uma funerária.

Sabrina abriu a porta alguns centímetros e colocou a cabeça para dentro. Os olhos dela estavam inchados de tanto chorar.

— Todo mundo já chegou.

Eu não vou sair daqui. Não iria levantar do chão do banheiro para encarar o velório de uma das pessoas mais importantes para mim.

Era melhor fingir que nada estava acontecendo. A sensação de choque ainda não foi embora, impedindo as lágrimas saírem de dentro de mim.

Sabrina entrou no banheiro e sentou ao lado, envolvendo os braços pelo meu corpo.

— Você consegue fazer isso.

Ela me apertou. Ficamos por mais alguns minutos assim, em silêncio, até mais pessoas baterem na porta e sermos obrigadas a enfrentar o velório organizado as pressas.

O tempo passou diferente naquele dia. Agi no modo automático, cumprimentando todos os parentes e amigos de vovó. Se tornou exaustivo quando eles começaram a contar histórias dela, me deixando mais irritada quando tinham a ousadia de dizerem que Eva estava melhor morta do que viva.

Como eles tinham coragem de dizer isso?! Eles faziam com que o pesadelo se tornasse um inferno para mim. Eu não conseguia respirar direito com tantas pessoas ao meu redor e por mais que tentasse fugir delas, elas encontravam um jeito de me dizer sinto muito.

Eu não aguentava mais os olhares de pena.

Foram horas torturantes até me obrigarem a ver o caixão sendo enterrado. Esperei que as lágrimas saíssem de mim, quando todo mundo chorava ao meu redor, mas nada aconteceu. Eu ainda não conseguia acreditar que vovó estava dentro dela. Não parecia certo. Na última vez que a vi, ela estava consciente, sorrindo para mim. Era para ter sido um bom sinal, uma melhora para ela e não como seu último momento de abrir os olhos.

Minha garganta se fechou, com algumas pessoas lançando olhares julgadores para mim, sem entender como eu não estava chorando. Ninguém entendia de qualquer forma, eles não sabiam o turbilhão de coisas que eu sentia por dentro.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora