Sabrina fazia companhia para mim por Skype enquanto eu preparava uma panela cheia de brigadeiro. Decidi fazer alguns doces para vender na universidade na sexta-feira. Tive a ideia no dia anterior e corri para comprar os ingredientes. Precisava que tudo ficasse pronto para vender durante a aula. As pessoas gostavam de doces, certo?
Queria que minha irmã estivesse no meu apartamento para me ajudar. Era o nosso doce preferido, fazíamos juntas todo fim de semana.
— Você devia conseguir sentir o cheiro, está muito bom — disse, mexendo na panela.
— Poderia mandar um pouco pra mim por correio.
— Você pode muito bem fazer aí.
Ouvi um suspiro do outro lado da tela.
— É, mas não seria a mesma coisa.
Larguei a colher e me virei. Sabrina estava com as pernas encolhidas ao sentar na cadeira a frente de sua escrivaninha. Ao fundo vi alguns pôsteres colados na parede.
Seu cabelo moreno estava preso no alto da cabeça. Os seus olhos castanhos claros me encaravam com afinco. Sempre tive inveja de seus olhos, eram tão lindos. A única coisa que tínhamos em comum era o cabelo e os olhos grandes e castanhos. O resto de seu rosto era bem diferente. Ela tinha bochechas predominantes e uma expressão mais velha. Eu parecia uma criança.
Ela me contou que vovó estava mais calma e Isabel conseguiu um emprego temporário em uma loja de roupas. Antes ela trabalhava com marketing em uma empresa e até conseguir algo próximo disso, iria ficar na loja ganhando menos do que antes. Um imenso peso saiu de dentro de mim e eu respirei, aliviada. Elas vão ficar bem por um tempo. Isabel conseguiria outro emprego, ela sempre achava.
Quando perguntei sobre a escola, o rosto de Sabrina mudou, suas pálpebras caíram um pouco e seus ombros se curvaram. Um suspiro alto saiu de seus lábios. O ENEM chegava cada vez mais perto dentro dela. Ano que vem ela precisaria decidir qual curso faria.
— Não quero falar sobre essas coisas, tudo bem? Se não juro que desligo essa ligação nesse momento.
Segurei um riso.
— Tudo bem, nem sei mais o que essas palavras significam.
Decidi não pensar mais nelas depois de ter entrado na universidade. Passei um ano estudando enfiada no livro por horas todos os dias. Minha cabeça quase explodiu depois de tudo. Foi enlouquecedor, nem sei como consegui sair viva. Como eu fazia para estudar mais de oito horas por dia? Como eu conseguia ter saúde mental?
Bem, talvez eu estivesse pagando o meu preço naquele momento. Meu psicológico ia se destruindo aos poucos.
— Seu brigadeiro vai queimar, San — disse ela, apontando para meu fogão.
Me virei e notei que ela estava certa. Voltei a mexer.
— Deveria estar aqui pra me ajudar. Você é a melhor doceira que existe.
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Frangos Explosivos [Completo]
Romance[História vencedora do Wattys 2018 na categoria coringa e classificada como uma das Melhores Histórias de 2019 e 2020] Sandy saiu do interior de Pernambuco para viver em Belo Horizonte e cursar Medicina na UFMG. O que era para ser o melhor momento d...