Felix

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Dessa vez eu corria e não conseguia fazer as lágrimas pararem, tudo a minha volta parecia desabar. Eu me odiava e me sentia inútil naquele momento. Eu não entendia nada sobre estatísticas ou números, mas quais eram as chances de tudo dar errado em um único dia? Meu pai logo ao café da manhã tratou mais uma das minhas conquistas com desprezo e indiferença, tudo bem, receber um “A” em uma avaliação talvez não seja grande coisa para ele, mas para mim é um grande mérito. Na escola as pessoas pareciam ansiosas e á beira de um colapso com a apresentação iminente do tcc no dia seguinte, e eu não me sentia diferente delas. Eu surtava em silêncio comigo mesma enquanto arrumava detalhes da documentação, quando por um motivo que eu desconheço meu computador reiniciou, apagando todo o documento do trabalho. Como diabos eu íria recuperar aquilo? Senti tudo girar a minha volta, respirei fundo e segurei minhas lágrimas, eu daria um jeito naquilo. Eu sempre dou um jeito. Sem tempo para almoço cheguei atrasada no trabalho. Passei a tarde toda correndo de um escritório para o outro enquanto ouvia meu chefe reclamar dos meus relatórios. Ao fim do expediente o mesmo veio até minha mesa e jogou todos os meus arquivos no chão dizendo que eu era uma funcionária incompetente e que eu não precisava voltar mais para lá. Saí correndo da empresa sem conseguir acreditar no que estava havendo, eu perdi o emprego, perdi o tcc, eu era um completo caos ambulante. Minhas pernas doíam de tanto correr e com tudo isso acabei me perdendo, eu estava em uma parte da cidade completamente desconhecida, senti grandes gotas de água caírem acima de mim e percebi que nuvens carregadas emolduravam o céu, aos poucos a tempestade começou a cair, eu não tinha guarda-chuva e muito menos algo que pudesse me proteger, avistei uma única lojinha que ainda estava aberta, corri até lá e adentrei o lugar. Assim que fechei a porta atrás de mim senti o ar quente do ambiente me envolver, livros estavam empilhados desde o chão até o teto, a iluminação amarela assim como o teto de madeira e o carpete do chão traziam um sentimento de acolhimento, procurei por algum atendente mas o lugar atrás do balcão se encontrava vazio, continuei observando o lugar, duas mesas de dois lugares estavam dispostas um pouco em frente ao balcão, as prateleiras tinhas mais livro e na parede contrária à porta de entrada duas grandes janelas estavam cobertas por cortinas de um tecido claro e aparentemente pesado, caminhei até as prateleiras e vi que na seção de baixo haviam alguns brinquedos antigos de madeira, me abaixei e comecei a examinar os objetos, me levantei segurando uma peça que era um cavalinho marrom usando uma cela vermelha e verde, eu estava fazendo uma análise completa do brinquedo quando senti uma mão em meu ombro.

— Posso ajudá-la? — Um garoto de fios loiros e sardinhas fofas me mostrava um belo sorriso.

— Perdão, eu entrei por causa da chuva, não quero atrapalhar. — Falei rápido enquanto limpava meu rosto das lágrimas que antes escorriam por ali. Ele me lançou outro brilhante sorriso e disse:

— Não há problema algum, sente-se onde quiser volto em um minuto.

O garoto saiu e assim depositei de novo o brinquedo na prateleira, me sentei em uma das mesas dali. O garoto era muito bonito, seus traços orientais misturados a tantos elementos ocidentais do seu rosto traziam uma beleza quase rara para o garoto que aparentava ter a mesma idade que eu. Ele logo retornou com uma bandeja que continha duas xícaras do que parecia ser um chá, e um prato com uma fatia de torta alemã, coincidentemente a minha preferida. Ele colocou a bandeja na mesa e se sentou de frente para mim.

— Tome esse chá e coma a torta, vai se sentir melhor. — Abri a boca para questioná-lo porém o mesmo me interrompeu: — Aceite, é por conta da casa. — Ele sorriu me encorajando.

Peguei a xícara e com calma levei - a até os lábios. A temperatura do chá estava perfeita, um sabor levemente adocicado e com o frescor da hortelã, era perfeito. Sorri e disse:

— O chá está no ponto. — Ele apenas sorriu de volta.

Provei da torta apenas para constatar que o gosto era melhor do que eu esperava, não muito doce e nem sem graça, outra perfeição. O garoto riu da minha reação ao provar a torta já que eu arregalei os olhos assim que saboreei um pedaço. Limpei os lábios com um guardanapo e perguntei:

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