Capítulo 14 - Yohan

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– O que houve? – perguntou olhando para Fiapo, que voltava de mãos vazias.

– Não tinha nada, senhor – respondeu o rapaz magricelo.

– Não tinha a corrente?

– Não, senhor.

– Nem as velas?

– Não, senhor.

– Nem os parafusos?

– Não, senhor.

A cada negativa o rapaz encolhia mais os ombros, como se a culpa fosse dele. Mais cinco perguntas e talvez ele se enterrasse no chão. Mais dez perguntas e talvez ele se enforcasse. Yohan riu daquilo e o rapaz ficou sem entender.

– Calma, Fiapo. Não é culpa sua. Só vamos ter que ir atrás de mais peças no Cemitério de Ferro – disse acalmando o rapaz, que imediatamente se animou.

Yohan definitivamente gostava de Fiapo.

– Vamos lá falar com o Braço e pedir autorização.

O rapaz fez sinal positivo com a cabeça e foi limpar a graxa que tinha nas mãos. Yohan também estava com as mãos sujas da manutenção que estava fazendo em uma das motos de um dos coletores, Eco. Ele era um sujeito cuidadoso com a sua moto e Yohan gostava dele por isso. Foi até o tanque e, com a mão em forma de concha, pegou um pouco do sabão que usavam para se limpar. Colocou um pouco de areia fina, disposta numa pequena caixa de plástico e esfregou vigorosamente as mãos. A areia ajudava a tirar toda a graxa, do contrário, ela apenas se espalhava mais. Ele não se importava de sujar as mãos, mas gostava de mantê-las limpas tanto quanto possível.

Saíram da oficina e logo se depararam com o sol, impiedoso. Com o passar dos anos, o sol parecia estar ainda mais quente. Como se estivesse chegando cada vez mais perto. Caminharam vagarosamente pelo solo seco. O vento vindo do Deserto dos Mortos era de cortar e ninguém conseguia ficar muito tempo na rua sem sentir a boca seca.

Yohan olhou ao redor da Forja. As sentinelas continuavam vigilantes, as torres com seus contrapesos subindo e descendo rigorosamente, os agricultores cuidando dos campos e alguns operários podiam ser observados ao longe, cuidando da refinaria. Alguns pontos coloridos distribuídos. Nem parecia que na Forja havia tantos irmãos quanto ele viu no dia dos testes.

Como será que estão Cisco e Fantasma?

Já havia dois dias que seus amigos tinham saído para fazer os testes na Cidade Fantasma e até então ninguém tinha uma notícia sequer. A prova deveria ser extensa, mas ele sentia que alguma coisa não estava certa. Milles escondia algo. Sobre o combustível, sobre os testes, ou sobre tudo. Desde que Cisco lhe trouxera sua suspeita, Yohan não conseguia dormir direito. Ficava se revirando na cama, tentando ligar os pontos.

O prédio principal ficava no centro da Forja, chegar ali de qualquer um dos pontos era rápido. Como de costume, havia um guarda à porta para evitar a entrada de alguém sem ser convidado. O sol da manhã estava contra eles e Yohan teve que levar a mão na testa para conseguir enxergar quem estava lá. Era o Rascunho. O homem era franzino, tinha as feições do rosto extremamente feias, e a pele retorcida, como se alguém houvesse ateado fogo no seu rosto e apagado batendo com um machado. Quem tinha o coração fraco com certeza não importunaria Milles.

– Bom dia, Rascunho. Precisamos falar com Milles.

O homem olhou para os dois, considerando o pedido quase um insulto.

– E sobre o que seria? – respondeu com tom arrogante.

– Você se chama Milles? – perguntou Yohan, sem mudar a expressão.

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora