Capítulo 20 - Cisco

15 3 0
                                    

Seus dedos da mão direita tamborilavam contra a lateral do corpo. Erguia e baixava rapidamente os calcanhares. Estava ansioso, nervoso e preocupado. O rapaz do seu lado estava tranquilo, com uma serenidade invejável. Ambos observavam o horizonte mais ao norte da Cidade Fantasma. Olhavam de longe, da janela de um dos quartos mais altos de um prédio conservado e mais moderno que os demais. Centenas deles estavam vagando apáticos por uma área aberta, na frente de uma barricada fortemente construída, aguardando um estímulo, ou uma ordem. Infectados, e não mortos, como Cisco conhecia.

- Você não está com medo de fazer isso!? - perguntou olhando o rapaz de olhos negros e cabelos igualmente negros, lisos e curtos, que caiam até os ombros, tocando a roupa escura.

- Olha só quantos deles tem lá em baixo - respondeu Mordecai, apontando para o grande grupo. - É claro que sim! - sorriu.

Cisco achava Mordecai muito bem humorado para alguém que ficou sozinho por tanto tempo matando pessoas infectadas e conversando com uma coruja. Porém, isso não o impedia de gostar do rapaz. Era corajoso e otimista.

Na noite anterior, acompanharam o carregamento dos contêineres com os infectados. Depois de enchê-los, os caminhões seguiram para o norte. Com um comando, o Wendigo os dispensou e, acompanhado pelos soldados e pelo cachorro metálico, seguiram também rumo ao norte. Os que não entraram nos caminhões ficaram perdidos por um tempo, mas depois retornaram para os cantos sombrios de onde vieram. Os dois esperaram no terraço até que a rua ficasse mais vazia. Observaram os estranhos soldados enquanto conseguiram, para saber aonde iam. Quando puderam descer com segurança, seguiram o rastro que os trouxe até ali.

- Acha que o Wendigo está lá dentro? - perguntou Cisco apontando além dos muros da barricada.

- Quem? - devolveu Mordecai.

- O Wendigo... - Cisco fez sinal nas mãos indicando a criatura alta, de garras compridas.

- Vamos dar um nome para... Aquela coisa? - perguntou Mordecai.

- Como quer chamá-la? Aquela coisa?!

- Por que Wandingo? - perguntou Mordecai, franzindo a testa e erguendo uma das sobrancelhas.

- Wendigo.

- Por que Wendigo?

- Temos um cara na Forja, bem parecido - disse Cisco abrindo os braços. - Deve ter uns três metros de altura, também.

- E por que chamam ele de Indigo?

- Wendigo.

- Wendigo! - repetiu Mordecai, revirando os olhos.

- Não sei - confessou Cisco. - O comediante que o nomeou. Ele nomeia todos.

- Por que você é Cisco? - perguntou Mordecai, curioso.

- Por que faz tantas perguntas? - rebateu Cisco.

- Porque Diana nunca me responde. Mas você responde - disse ele, divertido. - Ei! Olhe! - falou apontando para um grupo de prédios à esquerda da barricada.

Cisco voltou sua atenção para onde ele apontava e se deparou com alguns homens de roupa escura se esgueirando entre os prédios. Não conseguia ver os rostos para dizer se eram seus irmãos de ferro, mas as roupas eram parecidas com as que ele estava usando. Um deles vigiava o movimento dos infectados, para sinalizar aos demais que era seguro avançar. Após o comando, os outros seguiam quase em uma fila.

- Algum deles é o seu amigo? - perguntou Mordecai. - Fantasma, não é?

Cisco se esforçou para tentar enxergar melhor, mas, como estavam longe, conseguia diferenciar apenas o tamanho e a quantidade de cabelo que cada um possuía. Se fossem seus companheiros da Forja que vieram com ele para fazer os testes, todos os coletores haviam morrido, pois não viu nenhum com uniforme cinza.

As Crônicas do Apocalipse - Livro 1 - O Senhor do Tempo (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora