Capítulo 40 - O fim

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− Abram a porta! – Liberty gritou. Ela já nem sentia o frio do metal, tal era a força com que seus punhos embatiam na porta fechada. – Sou eu, a Liberty. Abram a porta!

Ela não sabia quem ia encontrar lá dentro. Os mortos que se espalhavam por aquele corredor deixaram-na receosa de que o pior tivesse acontecido. Quando vira o corpo da rainha imóvel e embebido em sangue, ela soube que a ameaça era real. Mas nem o príncipe, nem o rei estavam entre os mortos, haviam apenas vestes brancas e negras a revestir os homens que perderam a vida naquela escura madrugada.

− Abram a... − A voz da garota esmoreceu com o som da porta a abrir-se. Ela passou pela passagem estreita antes que quem quer que lhe tivesse cedido a passagem do outro lado acabasse por se arrepender.

− Ainda bem que você chegou, Liberty – disse Gaston com um sorriso rasgado. − Sem você, nada disto teria sido possível. – Ele gesticulou para o cenário à sua frente.

Taupe mantinha a navalha, ainda marcada com o sangue da rainha, pressionada contra a jugular do príncipe. Aos pés de Gaston, o rei ajoelhado sangrava por inúmeros cortes ao longo do corpo. O tecido da roupa, reduzido a simples frangalhos, não conseguia esconder as feridas recentes mescladas com as de anos de tortura. LeFou empunhava uma barra metálica um pouco acima do crânio do monarca. A arma improvisada tremia-lhe nas mãos com a recordação do homem a que ele havia tragado a vida no jardim.

− Eu... sabia... − A voz do rei saiu em esforço, quase num mero sussurro, mas audível o suficiente para chegar até à jovem estacada junto à porta.

− Eu não fiz nada – defendeu-se Liberty. Os seus olhos agarraram-se aos de Elroy numa súplica para que ele acreditasse nela.

Killian, que tinha recebido a ordem de Gaston para abrir a porta, observava apenas a cena, calado e quieto. Ele obedecia cegamente às ordens do republicano, porque não havia outra opção. Ele se via de mãos atadas, completamente inútil, sabendo que um simples passo seu poderia significar a morte do monarca. Porém, a entrada da selecionada tinha vindo mexer com a dinâmica de um jogo viciado. Se ela estivesse do lado dos rebeldes, o guarda poderia usá-la para manipular Gaston. Talvez nem tudo esteja perdido, pensou ao orquestrar o próximo plano de ação. Seria Liberty a ponta solta dos republicanos?

− Mas como não? – Gaston se animava cada vez mais com a ideia de estragar o romance que nunca deveria ter surgido em primeira instância. − A escuta implantada no teu antebraço foi o que nos garantiu estar aqui agora. – A garota volveu os braços na procura de algo que lhe tivesse escapado. Ela não sabia se haveria de acreditar ou não naquela história aparentemente ridícula, mas o tom do republicano transmitia uma confiança que a perturbava. − E você ainda nos trouxe aquele dispositivo com acesso às câmaras e à abertura das portas desta mansão.

− Não! Isso é mentira! – gritou indignada. – Você roubou-o! Eu não lhe entreguei nada – assegurou a Elroy, concentrando-se, de novo, no fundo de seus olhos.

O futuro monarca engoliu em seco e a navalha reclamou um pouco de seu sangue, num corte superficial, que este nem sentiu. Apesar de confuso com tudo o que ouvia, ele continuava absolutamente convicto do julgamento que havia feito do caráter de sua amada. Para ele, Liberty seria incapaz de enganar os outros em benefício próprio. Mas e em benefício de uma causa?, a dúvida cresceu dentro de si.

− Você vai negar que eu e você passámos muito tempo juntos antes da proclamação do resultado da seleção?

− Não, mas... − Elroy sentiu seu coração parar, por instantes, com a resposta dolorosa da selecionada. Então, eles se conheciam, o pensamento martirizou-o. As especulações sobre a natureza daquele relacionamento cortavam mais fundo do que a lâmina colada ao seu pescoço.

A Bela RedomaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon