O fim de uma aventura e o começo de uma nova jornada.

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 — Mas o que aconteceu? Eles não voltaram mais para o Nautilus? — perguntou Juanita assim que terminei de ler a última página de "Vinte mil léguas submarinas", um dos meus livros preferidos de Júlio Verne.

— Não, eles eram prisioneiros do capitão Nemo, lembra? — perguntei.

— Ah é... — disse ela — Ah... Eu queria que continuassem explorando o fundo do mar... — eu ri.

— Eu também... — eu disse.

— E se a gente criasse um submarino e fizéssemos como eles? — perguntou ela. Eu ri.

— Seria mais fácil comprar um, já existem submarinos... — eu disse — Mas eles não fazem o que o Nautilus faz, a pressão é muito grande, destruiria qualquer submarino que fosse até essas profundezas...

— O que é pressão? E por que é tão alta? — perguntou ela.

— Dá para parar de falar coisas difíceis para a menina! — reclamou Joyce. Eu ri.

— Não! Eu quero saber! — protestou Juanita.

— Ahn...

— Não! A está na hora de dormir! Amanhã você tem um discurso a fazer! — disse Joyce — Esqueceu?

Discurso? Espera, acho que avancei um pouco a história, desculpe. Bem, acho que mesmo se escrevesse cinquenta capítulos não conseguiria descrever toda a minha experiencia no Peru, toda a terapia... Como você ter percebido a minha tem bastante melancolia e momentos conturbadores, então acho que seria contraproducente passar para quem quer que seja memórias perturbadoras se não servirem para algum aprendizado, então irei contar as coisas que me pareceram mais importantes, vamos lá!

— Quanta coisa... — eu dizia enquanto folheava o meu diário de terapia, algo recomendado por Hans para que fosse meu mapa de desenvolvimento pessoal, suas folhas eram amareladas, a capa era de couro. Lembrava-me um caderno de pirata, ou de magia.

— Então, como descreveria a si mesmo neste processo? — perguntou Hans. Era engraçado, as vezes ele parecia um cientista, com muitas hipóteses e teorias, mas só ficava satisfeito quando um experimento demonstrasse o esperado. Neste caso, o experimento era a minha percepção, enquanto eu não conseguisse ver a mim mesmo com a clareza que ele via, não se dava por satisfeito, e se por acaso eu apontasse para outra direção ele alterava a hipótese. Hans nunca me disse se estava realmente fazendo isso, mas convivi com cientistas na faculdade, o comportamento é muito semelhante. Suspirei com sua pergunta. Eu não queria mais que meu ego se manifestasse, e qualquer coisa positiva que pensasse sobre mim fazia-me sentir que estava sendo egocêntrico.

— Eu... Sou uma pessoa muito inteligente que passou muitas coisas difíceis e fez uso de suas habilidades para tentar superar seus traumas, mas que por falta de equilíbrio e habilidade com as próprias emoções acabou por se desestabilizar, se afastando de tudo e de todos... — eu disse.

— E por que se afastou? — perguntou ele.

— Lembranças boas estão ligadas a lembranças ruins e eu estava mais estimulado pelas ruins do que pelas boas... Dessa forma, afastar-me parecia a melhor forma de me proteger do que era ruim, criando muros em vez de pontes... Mas não é tão simples, somos seres reagentes, reagimos a tudo, e o ideal é conhecer o quanto cada coisa nos estimula e colocar-se no local de estimulo certo, no momento certo... — eu disse.

— Pode ilustrar isso? — perguntou ele.

— Eu já ilustrei... — eu disse — Está aqui! São as emoções que lido com mais frequência... Bem, falta preencher a lista dos estímulos, mas ainda estou com um pouco de dificuldade nisso... Porém sei que equilibro ansiedade com humor que está ligado a alegria, e raiva com estudo que me provoca empolgação... Não é uma balança exatamente precisa, mas me parece bom... E com a sua ajuda vou descobrir o restante...




Aventureiro De All Star - Concluído.Where stories live. Discover now