Ponto De Abertura

14 0 0
                                    

      Não paravam de bater na porta, mas eu estava sem paciência e não ia parar meus cálculos naquele quadro, não podia parar.

— Isaac! Abre essa porta! — ele gritava do lado de fora.

— Não tenho tempo pra rolês Tobias, preciso terminar isso aqui! — eu disse.

— Já faz um mês que você está trancado nesse quarto, e não comparece as aulas! — disse ele.

— Não preciso ir, estou muito a frente delas, só preciso mostrar os resultados da minha pesquisa, e ganharei uma bolsa para o meu doutorado! — eu disse, deixando cair minha caneta, peguei-a no chão ao lado de uma maçã mofada, e continuei.

— A faculdade está prestes a suspender sua estádia na república, você vai ser despejado! — disse ele.

— Antes do despejo término a pesquisa! — eu disse. Então ouvi um barulho bem alto, olhei para o lado e vi a porta ser derrubada, Tobias entrou acompanhado de mais dois dos meus colegas. Voltei a olhar para o quadro, continuando meu trabalho.

— Ótimo, já estava pensando em trocar essa porta por uma à prova de som... — eu disse. Ele entrou desviando dos restos de comida e da roupa suja no chão, o cheiro do quarto não estava bom, mas eu garanto que estava tomando banho todos os dias, aquilo só ia durar até eu terminar meu trabalho. Se terminasse...

— Isaac, eu sei como está se sentindo, mas essa não é a melhor forma de ficar em luto... Você não está...

— O que? Sozinho? Quantas vezes você acha que eu escutei essa frase nas últimas semanas? E ainda assim não deixa de ser mentira... Porque pelo que eu saiba nós somos o que existe dentro de nossas cabeças, uma massa cinzenta responsável por tudo que sentimos, e pelo que eu saiba o espaço onde ela fica não é compartilhado com ninguém... Dormimos sozinhos, sonhamos sozinhos e pelo que eu saiba também morremos sozinhos... Então eu estou sozinho assim como meu avô estava quando morreu... — eu falhei na minha tentativa de usar a raiva para sobrepor minha tristeza e comecei a chorar, parando meus cálculos. Ele tossiu, tentando disfarçar:

— Estamos aqui para o que precisar... — disse Tobias. Sequei minhas lagrimas e continuei meus cálculos.

— Quero continuar meu trabalho... — eu disse. Tobias suspirou.

— Vamos cara, deixa ele aí, não vale a pena... — disse Matheus atrás dele.

— Não, eu quero ver no que ele está tão obcecado... — disse Tobias.

— Ah eu não tenho paciência pra isso... Ele passou o curso todo se achando e agora faz isso, tô indo embora... Vamos Wallace! — disse Matheus. Eles saíram, Tobias os ignorou enquanto observava meus cálculos e os desenhos na minha mesa.

— Isso é impossível... — disse ele. Parei os cálculos, faltando apenas uma linha para concluir, e olhei pra ele.

— O que é impossível? — perguntei.

— Hidrelétricas usam a força da gravidade para gerar toda aquela energia, não vai conseguir fazer o mesmo ocupando um metro quadrado — disse ele.

— É possível se criar um modo de motor semi-perpetuo, precisaríamos de algo com movimento continuo pra movimentar molas que gerariam cada vez mais força pra mover um motor... Seriam diversas molas num sistema complexo de engrenagens, quanto mais tempo estimulado mais energia será gerada, e o que seria melhor que a correnteza de um rio para manter o movimento disso? Basicamente é um gerador eletrostático colocado em motor semi-perpetuo através da indução mecânica e fluvial... — ele me olhou desconcertado, confuso, coçando a cabeça.

Aventureiro De All Star - Concluído.Where stories live. Discover now