Pamela o encarava com uma expressão triste e derrotada no rosto. A mãe permanecia inabalável. Ele estava sem reação.

Aceitar o pedido da mãe e esperar os seis meses, insistir na discussão e continuar encontrando Pam mesmo se derrotado ou desistir daquilo e se afastar?


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Os seis meses seguintes foram agitados.

A mãe de Pam resistiu mesmo diante da insistência. Os eventos daquela tarde pareciam bastante distantes e difíceis de compreender, mas algumas pequenas imagens ficaram marcadas na memória dele: Pam chorando e sua mãe gritando, finalmente perdendo a compostura; ele sendo praticamente enxotado da casa com certa parte inclusive de violência; os gritos da briga entre Pamela e a mãe que ele escutara vindos de dentro da casa enquanto estava sentado na calçada tentando se acalmar.

Não conseguiu falar com Pamela pelas duas semanas seguintes. Ela não atendia ao telefone, não respondia mensagens. Mas, por alguma obsessão doentia, ele insistiu em procurá-la. Finalmente, numa manhã de domingo, ela atendeu ao telefone. E então marcaram o primeiro de muitos encontros escondidos que teriam nos próximos tempos.

Existia algo de muito mais divertido e animado em se encontrarem dessa forma. A proibição por parte da mãe parecia ter acendido algo dentro dele, uma teimosia absurda que o fazia querer encontrar Pamela sempre que possível. Nunca antes daquele dia em que fora proibido de vê-la gostara tanto da garota. Ela parecia tão mais divertida e espontânea agora, como se não precisasse mais interpretar para ele: tornou-se também mais sincera, finalmente abandonando todos os seus maneirismos e excessos. Pamela não precisava mais tentar impressioná-lo de forma alguma.

Existiram os momentos mais perigosos, é claro. Em dada ocasião, foram pegos juntos pela mãe, que decidira seguir Pam em um momento de desconfiança. Outra grande briga poderia ter acontecido se ele, decidido a não se irritar mais, não tivesse dado as costas para as duas e ido embora sem olhar para trás. Lembrava-se com certo orgulho de como se mantivera indiferente e caminhara tranquilo enquanto os gritos da mãe o seguiam logo atrás. E esta não fora nem mesmo a pior das ocasiões. Pamela chegara a passar quase uma semana presa no próprio quarto para ser impedida de encontrá-lo, mas nada daquilo adiantava. Nos últimos tempos, chegava a fugir de casa no começo da madrugada para voltar de manhã e ir para a escola. Quando teve a certeza de que passaria de ano, faltava às aulas para encontrá-lo.

O que faziam juntos variava. Certas vezes apenas passavam tempo conversando, outras iam para a casa dele. Ele chegou a conhecer duas ou três amigas de Pam nas ocasiões em que foi vê-la na escola, mas nunca saíram com mais ninguém. Eram sempre apenas os dois juntos, fosse bebendo, indo ao cinema, fazendo compras ou apenas escondidos em alguma praça. Pamela também nunca mais tentou levá-lo para algum lugar como a festa para qual foram quando se conheceram. Primeiramente, por certo medo de que algo parecido ao que acontecera daquela vez pudesse se repetir, em segundo por respeito aos gostos dele, que deixara claro que não gostava daquele tipo de lugar. Mesmo aparentando certa decepção quando ele confessou isso, ela nunca reclamou ou insistiu a respeito.

Pam se formou em dezembro. Faria aniversário em fevereiro, no dia 19. Nesses últimos dois meses, seus encontros eram quase que diários. Se antes ele tinha grandes problemas em encontrar assuntos ou o que fazer com Pamela, agora o tempo que tinham parecia não ser o suficiente para passarem juntos.

E o dia do aniversário chegava. Apenas mais dois dias, dois dias para a data que tanto esperaram. Fizeram planos absurdos e riram juntos deles quando a data ainda estava distante, mas quanto mais se aproximava, menos tocavam no assunto. Agora que faltava tão pouco, ele finalmente gostaria de conversar com ela sobre o que realmente aconteceria. Finalmente teriam seu último encontro "secreto", em que ele esperava decidir o assunto.

Eram três e cinquenta da manhã e ele esperava na esquina, observando de longe a casa de Pamela. Conseguiu, mesmo com a escuridão da noite, reconhecer a silhueta dela abrindo silenciosamente o portão da frente e vindo correndo em sua direção, ligeiramente ofegante. Nos últimos tempos, ela não se preocupava mais nem em se arrumar de qualquer forma antes de encontrá-lo. Trajava seu pijama, de tecidos leves e um tom claro de azul, e sorriu ao vê-lo. Seus cabelos vermelhos estavam ligeiramente bagunçados e embaraçados, mas tudo parecia apenas contribuir para a beleza natural que tinha.

Andaram alguns quarteirões e se dirigiram até um banco de ferro apoiado no muro de uma casa. Era uma rua sem saída e dos três postes de luz, apenas um ainda funcionava. Todas as casas ao redor eram ligeiramente antigas e as raízes das cinco grandes árvores quebravam os blocos de cimento das calçadas. Era um lugar bastante escondido e silencioso, daqueles que tornaria seria difícil para qualquer um encontrá-los ali, perdidos entre as árvores e as luzes precárias.

Pamela suspirou ofegante quando finalmente sentaram. Beijou-o por longos minutos e o encarou sorridente nos momentos seguintes.

— Eu nem acredito que está tão perto! — Ela disse, com a voz transbordando animação. Ele sorriu de volta e se manteve em silêncio por um tempo, encarando a rua deserta e sentindo o frio da noite tocar sua pele. Pam ao seu lado parecia exalar calor. Finalmente, depois de alguns minutos de silêncio, ele perguntou:

— Pam, o que vamos fazer?

Ela olhou para ele deixando clara sua confusão. Seus olhos de um castanho dourado pareciam brilhar na escuridão.

— Como assim? Não vamos mais ter que nos encontrar escondidos assim, oras! Minha mãe não vai poder fazer nada.

Ele suspirou, medindo as palavras do que falaria a seguir. Juntando coragem, fez a proposta em que tanto pensara nos últimos tempos.

— Você não quer vir... Morar comigo?

Os olhos dela cintilaram com a pergunta. Ela sorriu e o beijou. Não era necessária confirmação maior do que aquela.

Na madrugada do aniversário de Pam, ele aguardava impaciente dentro de um táxi na esquina da casa dela. Batia os pés enquanto o taxista esperava com o taxímetro ligado. Já estava para ligar novamente para Pam quando finalmente viu o portão da casa se abrir. Ela saiu atrapalhada, carregando duas grandes malas. Ele abriu a porta do carro e foi ajudá-la. Colocaram tudo no porta-malas e foram levados até a casa dele. Subiram as malas com alegria aparente. Não conseguiam parar de sorrir.

— Feliz aniversário, Pam — ele disse ao colocar a segunda mala para dentro da sala de casa. Ela sorriu de volta e pulou sobre ele, agarrando-o num abraço animado. Era o começo de algo novo.

Ela seguiu para a faculdade na metade do mesmo ano. Morar com ela parecia deixar a vida mais alegre de alguma forma e mesmo nas pequenas brigas ele encontrava a alegria da presença dela. Pam também não aparentava insatisfação alguma. De fato, parecia tão satisfeita quanto ele na maior parte do tempo. Seus maiores problemas e insatisfações costumavam vir da faculdade ou de qualquer outra coisa corriqueira, mas nunca dele.

A companhia de Pam parecia ter algo de belo mesmo no cotidiano. Ele se habituara com sua presença e beleza, descobrira e se enraivecera com seus inúmeros defeitos, mas jamais enjoara dela. Era como se a garota tivesse sempre algo mais para surpreendê-lo, sempre imprevisível e espontânea. Desbravar a vida ao lado dela parecia uma tarefa ao mesmo tempo árdua e bela, cheia de algum significado bobo que ele realmente não gostaria de perder tempo tentando descobrir. Pam estava lá com ele e assim sempre estaria. Ele tinha certeza disso, uma certeza infantil e infundada, mas que a cada dia se provava verdadeira. Ela era a garota de sua vida. Pam estaria com ele.

Fim.


Três GarotasOnde histórias criam vida. Descubra agora