PRÓLOGO

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Eu sempre soube que confiar nela seria uma péssima ideia

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Eu sempre soube que confiar nela seria uma péssima ideia. No fundo, bem lá no fundo, eu sempre soube. Existia uma voz censurando-me a cada dois segundos toda vez que eu a via. Quando ela se aproximava, a voz sussurrava: afaste-a, mas eu apenas me intrigava ainda mais. Quando ela me tocava, a voz dizia: fuja, mas eu sempre corria de encontro ao seu toque. Quando ela me beijava, a voz dizia: saboreie, e eu obedecia. Porque Megan já havia invadido meu sistema e agora controlava o meu corpo.

Megan Foster... O que dizer sobre você?

Bem, ela quebrou o meu coração, isso é um fato. E eu deveria odiá-la por isso, certo?

Talvez.

A verdade é que Megan nunca me prometeu ser uma boa garota. Suspeitar que ela partiria meu coração era o mínimo que eu poderia ter feito, afinal, ela sempre teve uma má reputação quando o assunto era amor e um belo sorriso sacana.

Mas as coisas não aconteceram assim.

Ela me chamou a atenção, me seduziu de todas as formas possíveis e me dopou com seu falso amor.

Eu devia ter notado algo de diferente nela, é claro. Megan nunca foi exatamente comum. Sempre que seus olhos cruzavam com os meus, eu via fúria neles. Era leve, sabe? Mas existia. Como uma pequena chama ao fundo de um túnel. E eu admito que não facilitava muito as coisas no início também. Era constantemente arrogante e grosseiro. O ódio que — não só ela — nutria por mim, chegava a ser justificável.

Mas parecia haver algo a mais com ela. Tinha uma ponta solta nessa história que não se encaixava, porque sempre que nos esbarrávamos, era como acionar uma bomba. Aquela mulher me enlouquecia como ninguém, e no começo, por sermos diferentes e orgulhosos demais, eu achei que ela seria apenas mais uma. Uma garota quente, extremamente irritante e passageira.

Mas me enganei amargamente.

Com o passar das semanas, eu percebi que Megan era... incrível. Tanto no seu modo de viver quanto por ser quem realmente era. Ela não tinha vergonha de nada, muito menos de ser uma alma livre. E eu a admirava secretamente por isso.

O tempo passou. A pequena chama continuava lá. Ardente. Faiscante. Mas também havia outra coisa. Um brilho bonito e desconhecido. O que bastou para me distrair por meses.

Quando eu menos esperava, Megan conseguiu invadir o meu sistema. Ela descobriu os meus piores segredos e me beijou como se eu fosse a peça mais preciosa de um museu. Pareceu realmente me amar, apesar de todos os meus defeitos. E como o abstinente que eu era, deveria ter lido seu rótulo antes de reivindicá-la para mim.

Porque Megan Foster era uma droga. E como toda droga que te faz bem nos primeiros momentos, ela também tinha efeitos colaterais.

O seu em mim foi um coração partido.

— Por quê?

Apesar do tom firme que eu usava, a decepção em minhas palavras era palpável. Eu estava furioso, mas mais do que isso, decepcionado.

Pela terceira vez no dia, eu a amaldiçoei em minha cabeça.

Megan pendeu a cabeça para o lado, piscando inocentemente e avaliando-me dos pés à cabeça sem pressa. Ela me encarava como se soubesse cada um dos meus pensamentos; dos mais sujos aos mais irrelevantes. E por um momento, eu realmente temi que soubesse. Porque... céus, só eu sabia o quão difícil estava sendo fingir odiá-la.

Cínica, a garota estalou a língua no céu da boca e perguntou:

— Por quê o que?

A risada que escapou dos meus lábios não era nada agradável. Pelo contrário, continha cólera e revolta.

Eu já estava farto aquela altura, e precisava de respostas. Respostas dela.

Empurrando os cabelos em minha cabeça para trás, comecei a andar de um lado para o outro com inquietação. Ao contrário de mim, ela parecia terrivelmente tranquila com a situação.

Divertida, até.

Merda. Eu nunca conseguiria desvendar o enigma que era aquela mulher.

Após engolir em seco e fincar os pés no chão outra vez, voltei a encará-la.

Por que mentiu esse tempo todo?

Um sorriso cruel atravessou seu belo rosto, fazendo um arrepio subir a minha espinha. Megan tinha esse efeito sobre mim; sempre que sorria como o diabo, me fazia temê-la e apreciá-la feito um súdito.

Era automático.

— Eu sempre gostei da forma como você é direto, sabia? — me contou — É sexy.

Jogar. Era o que ela mais gostava de fazer com as pessoas. E eu sabia que se mordesse a isca não teria volta. Por isso, permaneci com o rosto duro e um olhar sério em sua direção quando ordenei:

— Responda a maldita pergunta, Foster.

A garota soltou uma risada nasalada, repousando as mãos sobre o colo; os pulsos voltados por uma corda. Ela estava sentada a mais ou menos três metros de distância de mim, sobre uma cadeira velha e empoeirada. O móvel, vez ou outra, soltava protestos baixos quando ela se movia.

— Sabe que não gosto quando manda em mim, amor — Megan fez bico, manhosa — A não ser na cama, é claro.

Então voltou a sorrir, diabólica.

Soltei o ar pelo nariz com força, cruzando os braços sobre o peito. Quando pareceu entender que eu não retrucaria às suas gracinhas como queria, Megan jogou a cabeça para trás e soltou um gemido banhado de frustração.

— Você é tãaao sem senso humor! — riu, voltando a me encarar logo depois. Ficamos assim por alguns segundos antes dela quebrar o silêncio, melodiosa: — Oh, Trevor... — balançou a cabeça para os lados — Parece que você ainda não entendeu a situação, querido.

Eu odiava com tudo o que eu era e com tudo o que eu tinha parecer ingênuo, mas sabia que perto dela era exatamente isso o que eu me tornava. A perversidade que corria em suas veias era o dobro do que corria nas minhas. Com somente algumas palavras, ela poderia destruir o que restara do meu coração. E eu sabia que, se isso acontecesse — e iria —, nunca mais seria o mesmo.

— Então deixa eu te explicar — continuou, inclinando o tronco na minha direção; o tom de voz baixo como se estivesse prestes a me contar um segredo.

Eu odiava não conseguir lê-la, decifrá-la.

— Eu não menti sobre amar você, se é o que está perguntando. Porque, sinceramente, eu amo, amor — fez uma pausa, umedecendo os lábios e esticando o sorriso — Mas tenho que admitir que omiti um pequeno detalhe.

Odiava o caos que a compunha. O brilho impiedoso em seus olhos.

E o detalhe é que eu também te odeio, Trevor Hunter. Mais do que poderia te amar um dia.

E eu também odiava a mim mesmo por amá-la.

Amar a pessoa errada.

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