Epílogo

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Talvez tenha se passado vinte e cinco anos desde aquele dia, no shopping, em que me encontrei com Isaac. Hoje ele é ser um homem com vários fios brancos na cabeça. Os dentes devem continuar perfeitos, bem alinhadinhos e alvos, mas com um sorriso mais maduro, que formam rugas em seus olhos mais serenos.

Nesse meio tempo muita coisa pode acontecer em nossas vidas, na de Isaac a partida de Vítor seis anos depois por causa de um ataque cardíaco já era esperada. O transplante não funcionou como esperavam e o corpo do rapaz cedeu à Morte de rosto falcifórmico em uma dessas noites frias, tão raras em Teresina.

A chegada da primeira filha, Joana, nem tanto. Ela fez dezoito anos semana passada. Irani nunca se conformou de saber que a menina cresceu e precisa se mudar para continuar com os estudos em outra cidade. Esta será Parnaíba, porque ela ama o mar como você bem sabe. Suspeito que a decisão da moça também foi por sua causa, afinal, é lá que você está trabalhando.

Queria lhe apresentar a Isaac algum dia. Esse dia irá chegar naturalmente, quando Joana lhe apresentar como namorado. Será assustador para ele descobrir que sou sua mãe. Então, peço que prepare bem o terreno antes disso.

Minha memória nunca me traiu até hoje, mas escrever isso para você foi um grande desafio, principalmente porque quis ser a mais fiel possível aos fatos verdadeiros, para que essa história não se confunda com lendas desacreditadas.

Desde bem pequeno eu já lhe falava que sou o que sou. Automaticamente você olhava para o lado pensando se os outros filhos também passavam pela mesma coisa, se eles também tinham uma mãe louca. Você nunca foi dado a acreditar em qualquer coisa que lhe contassem.

Depois de adulto, vi uma urgência em lhe detalhar isso, porque preciso que me avise sobre qualquer alteração em seu comportamento, como por exemplo, se você sentir uma incrível vontade de uivar para a lua.

Conrado acha que estou exagerando, que você não herdou a maldição dele. Não tenho bons pressentimentos. Enfim, espero sua resposta.

Estou sentindo falta de você, Vicente. Seu pai também. Quando vem nos visitar? Traga Joana também, mas não se preocupe, eu não irei falar nada sobre essa minha segunda "profissão", nem sobre a sua predisposição genética. Ser filho de quem é não é algo que se pode contar para qualquer um, mas vejo nos olhos da sua menina que ela te ama a ponto de isso não ser um grande problema.

Seria como aqueles detalhes que chamam a atenção em uma pessoa, como um nariz grande, uma perna torta ou um cabelo colorido. Mulheres apaixonadas são um tanto mais corajosas que a maioria, não tanto quanto as mães, mas ainda assim podem surpreender.

Espero com ansiedade a sua resposta.

Saudades, sua mãe. 

Quem Tem Medo de Assombração?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora