3. Debaixo da ponte

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A T U A L M E N T E

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A T U A L M E N T E

É madrugada e não consigo dormir. Dessa vez não é por conta de pesadelos, mas sim por um objetivo que preguei em mente.

Não visto roupas esportivas, escolhi um moletom escuro, jeans e um coturno. Mal cumprimento o Sr. Castillos no saguão — ele sempre preferiu pegar o turno da noite —, limito-me a um aceno breve e passo pelos seguranças do prédio. No ar frio da noite, inspiro profundamente e tento me aliviar neste ambiente gélido. Caminho vagarosamente pelas calçadas, dobrando algumas esquinas e parando aleatoriamente para ler algumas placas turísticas.

Quinze minutos depois, estou no centro da cidade e a Glock está presa no cinto apenas por precaução.

Eu paro em um plantão de bebidas e compro um fardo de seis cervejas long neck. Saio balançando-as em minhas mãos, caminhando até meu alvo. Algumas pessoas me encaram, pessoas bêbadas e drogadas, todas indo e vindo de clubes noturnos. Puxo o capuz sobre a cabeça em uma tentativa falha de me esconder dos meus demônios.

Passo pela longa fila de espera de uma das principais boates da cidade. Eu mal encaro aquelas pessoas, não quero público e muito menos contato humano, por isso dou as costas e caminho para longe dali.

Poucas quadras depois, deparo-me com um morador de rua. Ele está sentado na calçada fria e tapado até o nariz por um trapo comprido. Eu o encaro e, sem pensar muito, sento-me ao seu lado. O homem também me analisa, desconfiado, e se ele pensa em me correr, muda de ideia rapidamente quando destaco uma cerveja do fardo e entrego em suas mãos. Abro outra garrafa para mim e fico ali no chão, sentindo a bunda congelar pelo frio quase negativo, e bebo tranquilamente com o mendigo, observando o ir e vir daquelas pessoas.

Elas sequer têm noção das merdas que acontecem por aí?

Elas reconhecem os inúmeros inocentes que são assassinados em um conflito entre criminosos e policiais corruptos?

Ergo a cerveja e vejo que está na metade. O Sr. Carrancudo ao meu lado continua quieto e aprecia o álcool em suas mãos. Ele não me corre do seu lado e suponho que minha companhia seja bem-vinda.

Trago outro gole. Um casal passa risonho em nossa frente, nos ignorando. É bom assim. Raras seriam as pessoas que me notariam ali. Assisto a porta principal dessa boate sem desviar a atenção. Alguma meia hora decorre lentamente e o Sr. Carrancudo me cutuca com o cotovelo. Ele me indica sua garrafa já vazia e eu entrego outra cheia para ele.

A fila para entrar no clube é enorme e juro que não entendo o que os jovens veem de tão especial nesse cubículo. É um amontoado de gente bêbada dançando e tentando transar. Sinceramente... Bufo alto e o sem-teto me encara. Não sorrio, não falo nada, apenas bebo cerveja nesta noite gélida.

O Sr. Carrancudo me surpreende quando tira do bolso um maço de cigarro e me oferece um. Aceito cordialmente, porém o guardo no bolso do meu moletom, tentando não voltar aos antigos vícios, por mais que, no fundo, eu já saiba que é em vão.

LETAL: Vítima da própria consciência - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora