1. O voo para o fim

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A T U A L M E N T E

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A T U A L M E N T E

Já são quase quatro horas da madrugada quando decido voltar para o apartamento. Sinto-me descansado por ter corrido, como se um peso enorme tivesse sido arrancado dos meus ombros, e solto um longo suspiro quando jogo o moletom suado no canto da sala.

Por um segundo fico em silêncio analisando o local e não há um único ruído fora do comum. Sara deve ter voltado a dormir.

Encontro minha esposa adormecida no quarto de hóspedes. Estamos passando por algumas turbulências em nosso casamento e ela crê que dormir separada é uma boa ideia. Eu discordo, no entanto ultimamente tudo que sai da minha boca não parece chegar aos ouvidos dela.

Não a acordo e, pelo contrário, fecho a porta e encaminho-me para a suíte principal. No banheiro, sinto-me particularmente incomodado pela visão das duas pias sobre a bancada. Caralho, eu não preciso disso. É ridículo. Definitivamente preciso de um lugar menor e menos caro. Essa cobertura que vivo é um exagero desnecessário.

Não observo meu reflexo no espelho por muito tempo enquanto removo as roupas, sei que nutro receio de desenterrar algum ato fatídico em meu olhar.

Abro o chuveiro e aprecio a água quente que banha o suor de minha pele. Penso em Sara, aliviado por ela estar dormindo, e recordo das cagadas que fiz com ela. Na verdade, errei com todos os meus companheiros, porém dentre todos, Sara é a única que eu sei que eu jamais serei capaz de me perdoar.

Eu havia feito uma promessa. E a havia quebrado.

Sinto-me culpado, mas não sei exatamente pelo o quê. Sinto-me perdido, mas não sei para onde deveria ir.

É como se eu estivesse na extremidade de um elástico e, toda vez que eu tento avançar, sou puxado para trás e jogado para frente novamente, quicando até permanecer suspenso neste ar rarefeito, onde a vida me parece turva demais para ser compreendida.

Esfrego meus cabelos curtos com vigor, jogando espuma para todos os ladrilhos do box, e o desejo de bater em qualquer coisa material se intensifica em mim, contudo me controlo para não quebrar mais um dedo.

Saio do box enrolado na toalha e caminho apressadamente até o quarto. Finalmente a troca de temperatura faz efeito em mim, então o desespero para vestir roupas de inverno me toma. Visto uma calça de moletom e uma camiseta de manga comprida. Encaro a cama encharcada pelo meu suor e sei que a Srta. Suarez, a governanta do apartamento, irá ficar preocupada comigo novamente.

Suspiro alto, sem vontade alguma de arrumar a bagunça, e decido dormir no quarto de hóspedes ao lado de Sara. Embrenho-me debaixo dos cobertores, puxo minha esposa para meus braços e aninho o rosto entre seus cabelos castanhos e desgrenhados. Por alguns segundos, conquistado pelo seu aroma cítrico, sinto-me completo como poucas vezes me senti na vida.

LETAL: Vítima da própria consciência - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora