Observemos

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Já nem sei mais se a pós-modernidade começou ou terminou. Foi-se um tempo em que esse era O Assunto a ser debatido, descoberto, revelado. Era tão óbvio e excitante o mundo das falências modernas. Mas agora a cada evidência de sua aterradora evolução aparecem outras duas de uma cabal condição natimorta. Até iria aos fatos, mas eles são chatos, casuais e concretos, fiquemos na teoria.

A contemporaneidade de pós-verdades vem temperada de um totalitarismo tão século XX que chateia. Parece que nunca os fatos foram tão irrelevantes quanto as versões, mas para ajustarmos nosso ponteiro moral e histórico, ou como diria Freud: "para aquietar a periquita", não esqueçamos a Idade Média. Um feliz tempo onde as versões eram mais importantes, maiores, mais legais e principalmente, socialmente muito mais aceitas que os fatos.

Vivemos um misto de contemporaneidade agressiva com tons de modernidade a moda medieval que chega dar uma linda vontade de morrer. Não aprendemos nunca. A humanidade é uma criança olhando pra um aquário onde diversas espécies tramam umas contra as outras numa guerra muda e infinita. As criaturas do aquário comem se reproduzem e conspiram enquanto as coisas acontecem a despeito do entendimento da criança do lado de fora achando bonitas as cores dos peixinhos pequenos.

Queria escrever mais, mas pra isso teria que apelar aos fatos. Recuso-me a usar fatos.

Até ano que vem talvez.  

Freud Já DiziaWhere stories live. Discover now