"Que pena: você errou"

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            Agora entendi tudo, e como sempre, Freud já havia explicado lá do século passado, uma vez o Sigmund disse do alto de sua empáfia "De erro em erro se descobre toda a verdade". É auto-ajuda essa porra? E o bambu Freud? E o bambu do Freud? Enfim, par de oposição ta ai desde a lógica Euclidiana (o grego não o racista de Os Sertões). Mas, voltando ao ponto, entendi tudo: é por isso tanto erro. Como fui ingênuo, essa é a genialidade da aparente burrice contumaz e vergonhosa a assolar nossos tempos.

Tentarei ser, para o desespero de alguns e meu próprio, um pouco mais prático e objetivo dessa vez. Tenho deixado lacunas para juízo moral no grande vazio de meus rareados e tacanhos argumentos. Acho que é resultado da falta de clareza de uma mente confusa e perdida, enfim, veremos onde podemos chegar hoje.

Erra-se como nunca. A projeção da ideia de Brasil do futuro existe pra isso, é o nosso destino manifesto. Uma Paidéia global, racial e racista, posiciona nossa Terra Brasilis na grande periferia do planeta voltada para o grande além. Como no mito antigo, uma terra fantástica, um paraíso perdido no horizonte da existência. Estamos voltados para esse horizonte, "de costas para a África" e "descendo aos infernos para que possa romper a manhã". Descobrimos a cada novo erro grotesco um novo alçapão no inferno, mas há de pelo menos uma vez Freud estar certo e tudo isso ser nosso calvário até toda a verdade. A verdade é o paraíso no horizonte que decidimos adorar como musa grega, mas sem prejudicar sua perfeição com a fealdade da realidade.

Aqui, na planície da realidade, dançamos engalfinhados com o erro. Esperando que desse nasça outra coisa que não outro erro maior. Nietzsche também já foi categórico na Genealogia da Moral, é do erro que nasce o acerto. O acerto não é outra estirpe de coisa, senão o erro invertido. "Faz sentido isso pra você?" Erramos, muito, repetidas vezes, das maneiras mais perigosas e deliciosas, estamos errando ainda. Construímos uma forma de sociabilidade traumática e fraturada, baseada num pacto de omissão sobre a violência.

Tentarei ser mais específico. O erro, esse plano holístico-hermenêutico, esse conceito ôntico de existência do brasileiro não tem nada a ver com nossa brasilidade. Mas com a tentativa de negá-la. O povo, as pessoas, os grupos e indivíduos, em sua vida cotidiana, tentam se defender da imposição imperiosa das vicissitudes de uma existência de potência pulsante. Essa vida que visa viver além do erro, ela, sim, é coisa outra. O fundamento do erro está na prepotência e na hierarquia, no arbítrio. A prepotência de acreditar, com toda a base da lógica e da razão moderna, na gradiência do humano, na imposição de uma lógica ideal que separa "o joio do trigo social", o humano do quase humano do não humano. O erro é o fundamento do eu perpetuo e global. A incapacidade de compreender o outro e os outros, a intensa parcialidade e incapacidade de compreender um meio, uma sociedade, um grupo. O erro são as impossibilidades do espaço público, a burrice de não conseguir compreender causa e efeito e que há algo no ser humano para além do que ele é. Que um grupo não é apenas a soma de suas partes e nossas relações são fenômenos independentes, individuais, múltiplos e muito numerosos. Ver o outro como eu e aceitar nele a humanidade.

Nesse sentido temos errado pra caralho. Pois, como já disseram, se desde o século XVII o povo que reside onde seria o Brasil é "pouco republicano" e vivemos sob a máxima de "pouco pirão minha farofa primeiro" de fato, fazemos circular o medo e a visão de que o outro é sempre uma ameaça. Essa é uma das fraturas traumáticas. Uma das ausências constitutivas de nosso povo, somos uma pátria de um sem número de EUS. Erramos e erramos de novo, para definir os horizontes do erro.

Somos exploradores aventureiros a desbravar as fronteiras do erro, repetindo que nosso país é "do futuro" esperando inconscientemente que essa quantidade massiva de erros se pague eventualmente em um ponto absolutamente indefinido nomeado de futuro.

Erramos, não todos, mas todos. Esperamos não errar errando. Eu amo o erro. Esse texto foi um erro. 

Ai ajuns la finalul capitolelor publicate.

⏰ Ultima actualizare: Mar 27, 2023 ⏰

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