PRÓLOGO

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2005

As grandes cortinas ondulavam do teto ao chão. Sua cor era bordô e cheirava a lavanda, ela separava as meninas do burburinho de fora. Essa era a primeira apresentação de Lindara Fincher. Ela é uma doce menina de sete anos, que estava com seu pequeno coração na mão, assustada, pois seus pais estavam do outro lado das cortinas esperando o recital de balé começar.

As meninas estavam uma ao lado da outra, com seus tutus cor de rosa e suas sapatilhas com fitas prateadas de cetim.

— Vocês já ensaiaram inúmeras vezes, vamos fazer eles nos aplaudirem em pé, meus amores. — Amélia, a coordenadora da escola, tentava acalmar os pequenos, que estavam aflitos tanto quanto ela.

As cortinas subiram e Lindara foi a primeira a entrar no auditório. Ela era a menor de sua turma, porém era a melhor também. Ela desceu os degraus com uma graciosidade impressionante e se encaminhou para o centro do palco. O auditório estava lotado e seus pais estavam na primeira fileira. Sua mãe batia palmas, animada, e seu pai assobiava. Assim que todas as quinze meninas entraram no palco, ficando posicionadas uma atrás da outra, a música que elas haviam ensaiado arduamente começou a tocar.

Lindara, levantou graciosamente seus braços e, em seguida, suas colegas repetiram seu gesto. O palco era enorme e as meninas podiam rodopiar agilmente sem baterem uma na outra, o piso de parquet cor de mel havia sido polido e nele, Lindara conseguia ver seu próprio reflexo. Ela estava radiante, aquele poderia ter sido o dia mais feliz de sua vida, mas naquela mesma noite houve um trágico acidente.

Os Fincher moravam em Upper East Side, um bairro nobre do condado de Manhattan. Naquele ano em Nova York, estava fazendo um inverno rigoroso, a neve tampava as ruas e as calçadas. Por mais que Manhattan fosse uma cidade viva em cores, naquele inverno o que se sobressaia era o branco da neve.

Matthew dirigia seu carro novo, um Touareg V8, e sua esposa Juli escolhia uma música clássica a pedido de Lindara, quando tudo aconteceu. Uma caminhonete S10 prata, vinha em direção aos Fincher a mais de 100 km com os faróis desligados. Quando o pai de Lindara viu a caminhonete vindo desenfreada na direção deles, não houve tempo de fazer nada, sua última visão foi ver os olhos aterrorizados de sua filha pelo retrovisor.

O baque foi tão grande que fez Juli ser arremessada contra o para-brisa, fazendo seu corpo ficar preso lá. O pai de Lindara estava com sua cabeça sangrando encostada ao volante. O motorista que estava dirigindo a caminhonete estava embriagado e não prestou socorro. Pensando que todos haviam morrido, ele deu a ré e depois partiu a diante com seu carro amassado. Naquela mesma noite ele jogou seu carro no rio Hudson.

Lindara acordou depois de horas, seus lábios estavam roxos e ela tremia de frio, pois estava vestindo apenas o tutu. O carro estava coberto por neve, ela não sabia se era dia ou noite.

— Mamãe? — clamou pela sua mãe até sua garganta ficar seca e sua voz rouca.

Um homem encontrou Lindara horas depois, ela estava completamente roxa e seu coração batia lentamente. O homem afirmava com toda a certeza do mundo que uma mulher o parou na estrada e lhe contou sobre o acidente. Ela o acompanhou até o carro e disse para ele cuidar da menina. Quando ele pegou Lindara do banco traseiro, a mulher já havia desaparecido misteriosamente.


Onde está a Felicidade? (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now