Capítulo 3 - Parte 2

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Não podia ser verdade. A poça de sangue que se formava, ensopando seu cabelo preto e brilhoso, não podia ser real. Não deveria ser.

— Felipe, ele precisa ir para um hospital, rápido! — falei com urgência, segurando seu braço, o puxando para que ele me ajudasse com Taylor.

Mas Felipe nem sequer me ouviu. Encarava Gustavo, o garoto que tinha entrado com Taylor, como se nada tivesse acontecido.

Fiquei boquiaberta com a indiferença dos dois. Como eles não estavam se importando? A poça de sangue só aumentava.

Ouvi um ruído esquisito sair da garganta de Gustavo. Seja lá que tipo de som suas cordas vocais estavam produzindo, aquilo não era humano. Felipe respondeu com um grunhido similar, ainda ignorando os fatos.

— Felipe! — Precisei chacoalhar seu braço para que ele parasse com aquilo e me ajudasse. — Acorda garoto!

O que aconteceu a seguir me pareceu ainda mais assustador.

Com o mesmo braço que eu tinha chacoalhado, Felipe me empurrou de um jeito quase indescritível, batendo forte contra meu estômago. Meus pés deixaram o chão por uma fração de segundos, antes de eu me chocar contra o muro áspero. No primeiro instante não doeu, mas logo veio o ardor na pele ralada. Passei a mão pelo braço onde gotículas de sangue se formavam. A dor ficou intensa.

— Lipe, o que deu em você? — perguntei com a voz rouca, sentindo a raiva me dominar.

Ele virou a cabeça na minha direção e seu rosto me fez esquecer a dor por um momento.

Seus olhos brilhavam em um tom amarelado inumano. A raiva que pensei estar sentindo não chegava nem no rastro da fúria contido no olhar que Felipe me lançou. Me encolhi e ele voltou-se para Gustavo outra vez, se inclinando para o chão num movimento macabro, como se fosse um animal. Gustavo agiu parecido, só que ficou um pouco mais ereto, e os dois começaram a brigar.

Minha atenção foi roubada pelo barulho de alguém passando pelas portas duplas. Olhei assustada. Iam saber o que estava acontecendo, iriam ver o corpo de Taylor caído e ensanguentado. Descobririam que tinha sido Felipe!

Wellen e Adriele apareceram no pátio primeiro, como se soubessem que precisávamos delas. Em seguida, chegou Guilherme Wajnman.

— Mas que droga aconteceu aqui? — Adriele gritou.

— O que aconteceu com ele? — Gui perguntou mais para si mesmo. Sua proximidade fazia meu coração martelar. Olhei em volta e não vi mais os meninos.

— F-Felipe estava b-brigando com Gus-Gustavo... — respondi tropeçando nas palavras. — Os dois estavam estranhos... e...

Assim que terminei de gaguejar, Guilherme se aproximou de mim, tocando meu braço ralado, por onde o sangue escorria.

— O que aconteceu com você? — ele sussurrou e me olhou bem dentro dos olhos.

— Eu caí? — perguntei como uma retardada, já pensando na desculpa que precisaria dar em casa.

— Cadê Felipe e Gustavo? — Adriele perguntou com a voz extremamente irritada. — Vou matar aqueles dois!

— O que eles fizeram com esse garoto? — Wellen perguntou com uma voz doce e suave, próxima a Taylor.

Pisquei os olhos. Não sabia por que Gustavo estava metido naquilo ou por que Felipe estava agindo como um animal.

— Ele foi arremessado — não quis dedurar Felipe de início —, assim como eu fui. Precisamos levá-lo para o hospital depressa.

Quem tem medo do lobo mau? #2حيث تعيش القصص. اكتشف الآن