18. Liberdade

Começar do início
                                    

Abro a porta e saio, fechando-a atrás de mim. Uma vez no camarim, reúno todos os meus pertences, coloco tudo em minha bolsa e, pela primeira vez desde que deixei a máscara cair, presto atenção ao meu reflexo no espelho.

Estou mudada. Completamente. Talvez essas mudanças sejam mais visíveis fisicamente: meus olhos azuis estão serenos e calmos, porém, ao mesmo tempo, parecem vazios como se não tivessem esperança; minha boca assumiu um tom rosa pálido porque não estou mais usando o batom vermelho do disfarce de stripper; meus cabelos louros estão curtos agora, batendo no nível de meu pescoço, cortados em um chanel com as pontas repicadas e uma franja na lateral. As camadas superiores de cabelo estão presas para trás em uma fivela. E minhas roupas são tão ordinárias quanto as de qualquer garota: calças jeans desbotadas, uma camiseta branca e uma jaqueta preta de ginástica aberta na frente, com mangas que batem nos cotovelos.

Olho para essa nova mulher e consigo ver quem ela é, mas não consigo encontrar onde sua felicidade está. Apesar de tudo, ela está aliviada enquanto caminha na rua sorrindo em silêncio por finalmente estar livre dos grilhões de ser stripper.

Qualquer um pode se atrever a dizer que tive uma grande vida, e talvez eu realmente tenha tido. Com apenas 24 anos, já vi mais maldades do que bondades, mas isso não significa que eu esteja desistindo. Não mesmo. Jo está esperando por mim, mamãe e... quem sabe outra pessoa.

Ajeito a alça da bolsa sobre o ombro, fazendo meu caminho usual para o ponto de ônibus, quando olho para o lado, deparando com uma construção que não havia reparado que já está quase pronta. Eu via apenas operários indo de um lado a outro com seus capacetes e ferramentas de construção, alguns dando ordens e outros obedecendo. O que antes era apenas uma construção antiga, agora é um prédio novo e reformado com poucos andares. Mas ainda não tem uma placa de identificação, o que significa que ainda não foi inaugurado.

Eu paro, e um mar de pessoas apressadas estão passando por mim em plena manhã, quando sinto que alguém está me olhando do outro lado. Giro o rosto para minha esquerda e encontro Aiden na multidão.

Minha respiração fica suspensa por alguns segundos. Somos as duas únicas pessoas paradas na calçada sem pressa para chegar aos nossos destinos.

Desvio o olhar, subitamente insegura, ciente das roupas nada atrativas que estou usando e do corte curto que levou junto alguns bons centímetros dos meus cabelos, que antes eram longos. Meus dedos correm timidamente pelas madeixas cortadas, colocando-as atrás de minha orelha.

Ouço passos ao meu lado.

— O que está fazendo aqui? — pergunto assim que me sinto corajosa o suficiente para sustentar seu olhar.

Aiden ainda é aquele homem confiante de que me lembro. Continua encantadoramente bonito e não consigo deixar de olhar para seus olhos castanhos gentis. Ele me pediu e eu não confiei nele. O homem a quem não me doei completamente. Esse seria meu eterno arrependimento.

— Eu trabalho aqui. — Gesticula para o lado, o que me faz olhar na direção indicada e encontrar dois operários carregando uma placa de metal com dois nomes gravados: Blackwell & Connelly.

Ele vai trabalhar aqui. Vai ficar por perto. Deixou toda sua vida em Los Angeles para vir para cá. Faço de tudo para não deixar a surpresa transparecer, mas sei que Aiden percebe enquanto tento me recompor.

— É um belo prédio — elogio. Mal sei o que dizer. O que tudo isso deveria significar?

— E você ainda nem viu nossa casa.

— Nossa? — repito, olhando-o em uma mescla de confusão e nervosismo.

Ele apenas faz um movimento de confirmação com a cabeça. Aiden está se aproximando com um passo na minha direção, seus olhos fixos nos meus, mas não me toca, ainda que eu perceba em seu comportamento contido que ele quer fazer justamente o contrário.

Escândalo [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora