18. Liberdade

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Libertador é a palavra. É oficialmente meu último dia de trabalho no clube. As poucas aulas que ainda frequento não terminaram, mas o dinheiro que juntei com os turnos dobrados está sendo suficiente para proporcionar certa estabilidade até eu encontrar uma vaga na minha área.

Depois do meu discurso na festa da piscina, o clima acadêmico mudou totalmente, o que não significa que ainda não tenham idiotas fazendo idiotices, mas todo o mal-entendido finalmente foi corrigido.

Sinto o receio de algumas pessoas quando passam por mim, o desconforto vindo de outras e, na maioria das vezes, elas não sabem como agir comigo. A maior parte disso é quebrada quando sou cautelosamente convidada por professores a falar em um evento sobre violência e direitos humanos. Narro uma pequena parte do meu cativeiro, fazendo algumas considerações, e incrivelmente não choro.

Primeiro faço um levantamento de dados sobre garotas desaparecidas que vão desde o México — momento em que aproveito para falar sobre o tráfico de pessoas — passando pelo Canadá e chegando finalmente aos Estados Unidos.

— O desaparecimento de garotas é um problema que ultrapassa as fronteiras norte-americanas. Na maioria das vezes, quando essas garotas chegam a nós, não conseguem verbalizar suas vivências que levaram ao trauma. Nós procuramos ajudá-las a dar um sentido às suas vidas. — Nunca me senti tão útil em poder unir meus conhecimentos da graduação com o que vivenciei. — O meu sequestro faz parte da minha vida, mas ele não é tudo. — Observo cada rosto presente naquele auditório, encontrando a familiar beleza de Holly e Beth. Elas nunca me pareceram tão fragilizadas. — Após anos, posso dizer que aos poucos eu já não vou sendo mais dominada por ele. E, ao estar aqui, sendo capaz de falar tudo isso para vocês, é porque eu me sinto finalmente livre. Obrigada.

Sou aplaudida de pé pela plateia enquanto flashes de câmeras vêm de todos os cantos. No final, consigo fugir dos repórteres antes que me façam perguntas que ainda não quero responder. Daqui a um tempo irei, mas não agora. Agora eu quero apenas terminar o que comecei. Isso significa dizer que estou me preparando psicologicamente para o último dia no trabalho.

Os caras da faculdade pararam de frequentar o clube há algum tempo. Não sou mais perturbada por ninguém, nem mesmo por Dragon, logo depois que uma pequena notícia sobre mim saiu no jornal local. Todos que me conhecem agora sabem quem sou e quem fui. A vantagem sobre trabalhar como stripper é que posso me disfarçar o quanto quiser com acessórios e maquiagem, e ninguém me reconhecerá, pois nem mesmo sabem meu nome. Eles não têm nada além de um nome artístico: Rainha do Gelo. Essa é a utilidade de um nome de palco. Nossas verdadeiras identidades são protegidas.

Danço para dezenas de caras nas mesas, faço lapdances, danças eróticas no balcão e atendo todos que me solicitam na sala VIP. Tudo isso é feito com indiferença. Embora eu mal possa esperar para pisar fora do Dragon's Club, formei laços de amizade com as garotas a ponto de me ver melancólica quando me despeço de cada uma, especialmente de Hannah.

— Vá e seja feliz — ela me diz com um sorriso doce após um abraço. O rádio da casa está ligado em uma estação e meus olhos estão marejando com Rosi Golan cantando algo sobre não poder voltar atrás. É quase como se soubesse como me sinto por dentro. — Você merece, garota.

Depois de algum tempo, encontro Dragon em sua sala particular.

— Essa é a última parte do dinheiro que devo a você. — Coloco o envelope sobre sua mesa.

Ele me olha de uma forma que não sei descrever como nada além de arrependimento. Então me viro, prestes a ir embora.

— Você é uma garota durona, Kristanna. — Suas palavras me fazem parar. Isso é o mais perto de um elogio que ele já fez a mim que não é relacionado aos meus atributos físicos. — Uma verdadeira garota durona... — termina como se estivesse pensativo.

Escândalo [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora