6. Família Blackwell

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A semana corre sem grandes incidentes. Leio todo o dossiê que Aiden me deu e ficamos nos correspondendo por torpedos e e-mail, por onde mando alguns detalhes sobre minha vida. Acho o processo completamente invasivo, mas não digo nada. Afinal, eu já havia concordado em participar disso. Nós seremos um casal na frente dos pais dele, logo, invasivo um com o outro é o que temos que ser.

Invasivo. Tenho que parar de falar essa palavra, porque a primeira coisa que me vem à cabeça é o nosso beijo e o modo como fui pressionada. Literalmente pressionada. Durante a semana inteira, não falamos nada sobre o que aconteceu. Recuso-me a fazer isso, e ele parece estar imerso em outros pensamentos sempre que nos encontramos na hora do almoço. Pergunto-me se é por causa do iminente reencontro com os pais.

Nos primeiros dias após o beijo, eu sei exatamente como agir. Tudo está programado na minha cabeça, como sempre esteve. Apenas não sei definir o que sinto por dentro. Não quero admitir, mas isso está me assustando. Honestamente, minha semana foi estressante. Minha mente está prestes a explodir como se estivesse entrando em curto-circuito, mas, por fora, continuo sendo a garota racional e lógica que sou com as pessoas. Elas esperam isso de mim. Não quero ser cobrada ou inquirida sobre alguma coisa mais tarde. Não quero dar nada a elas que eu não queira dar. Não quero ficar devendo satisfações a ninguém. Nem mesmo quero que Holly e Beth percebam que há algo errado comigo, então enterro tudo para longe, porque eu tenho tudo sob controle.

Eu. Estou. No. Controle.

Este formigamento nas mãos quando encontro Aiden no intervalo para o almoço é apenas uma reação desregulada do meu corpo que certamente está relacionada ao fato de meu ciclo menstrual estar perto de acontecer.

Claro, porque isso é biologia.

E mesmo a biologia não consegue explicar o que a TPM faz com as mulheres.

Faço as malas escolhendo cuidadosamente cada peça de roupa que vou usar na casa dos pais de Aiden. Sigo a sugestão dele de preparar uma bagagem que não tenha que ser despachada, já que são apenas poucos dias que estarei fora. Um fim de semana inteiro... Isso quer dizer dois dias, sábado e domingo. Mas estamos partindo sexta de manhã, então, dois dias e uma noite. Meu salário não cobre gastos com roupas chiques, mas procuro levar as melhores que tenho. Pedi a Dragon três dias de folga, e agora estou devendo para ele. Prevejo muitas horas extras a serem cumpridas.

— Por que estamos indo para Kingston? Achei que você morasse em Toronto.

Olho para minha passagem, inconformada. Serão mais de dez horas de viagem ao lado dele. Isso é quase metade de um dia, o que significa muito para mim.

— Eu morava. Estudava na Universidade de Toronto antes de conseguir a transferência para Oregon. Mas a casa dos meus pais fica em Kingston.

Wow. Universidade de Toronto. Não consigo evitar encarar Aiden com surpresa.

— Você definitivamente não é qualquer merda. — As palavras soam mais alto do que desejo. Ele se inclina sobre o balcão enquanto estamos fazendo o check-in, sua boca curvada como se estivesse se divertindo com minha espontaneidade. — Desculpe.

Permaneço calada nas próximas horas, censurando-me por ficar engatando conversas com ele como se fôssemos dois bons amigos. Eu realmente não quero saber sobre a vida dele além do que preciso saber. E ele também não precisa saber sobre a minha além do essencial. Será apenas um fim de semana e, então, tudo acabará. Isso é certo.

É assim que será.

Mesmo dentro do avião, assumo minha expressão apática quando sento perto da janela. Olhar através do vidro é um ótimo truque para fingir que você está entretida o suficiente para as pessoas não quererem falar com você.

Escândalo [COMPLETO]Where stories live. Discover now