Capítulo 8

249 21 1
                                    

Kate, pelo contrário, aproveitou-se mudanças febris da adolescência, descobriu o seu corpo e o seu coração. Amou e esqueceu. Deu e recebeu.
Entretanto Anastasia, com os olhos, com a mente, pensava que era injusto não haver amor para ela. Sentia que o mundo estava muito mal feito, que daria anos de vida por um só segundo de amor. Dizia isto a Kate, que lhe respondia que ela devia fazer um esforço.
- Mas Ana - dizia-lhe a amiga quando ainda acreditava que ela pudesse mudar - , deixa lá a tua tia e faz o que te digo. Põe-te direita, deixa de andar curvada, veste como uma rapariga. Não vês que és bonita mas assim ninguém se apercebe ?
Mas ela ficava calada e punha-se a olhar para o chão, longe de tudo, encerrada numa prisão cujas barras eram feitas de medo e de vergonha. O passado tinha demasiado peso e Anastasia não podia ultrapassa-o.
A sua vontade não contava.
À medida que foram passando os anos, Kate deixou de insistir e acabou por considerá-la um caso perdido.
Mas regressemos onde estávamos. Dizíamos que Anastasia pensava que ninguém gostaria dela mesmo que se vestisse como Kate. Na verdade, quando Anastasia se referia a ninguém, queria dizer Elliot.
Elliot era o amor platônico de Anastasia, a materialização dos seus desejos. E Kate também gostava dele. Já na escola passava a vida a falar dele com a pobre Anastasia que a escutava com o coração apertado. Aquilo durou muitos anos e Anastasia foi-se habituando a dissimular porque nunca se atreveu a confessar o amor que sentia por Elliot. Assim, sem o saber, Kate martirizava a amiga com os seus projetos de conquista amorosa e as suas ilusões apaixonadas.

Diário de uma virgemWhere stories live. Discover now