Capítulo 1

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Quando o coração está em maré baixa, o mundo acaba por ser uma onda á deriva. Nessa tarde, Anastasia Steele passeou pelas ruas de Paris, de mãos dadas com a solidão. O acaso levou-a ao canal de San Martin, situado a dois quarteirões da praça da república, no noroeste da cidade.
As comportas estão fechadas, a água não corre, este é um rio órfão de mar. Há doze pontes circulares que saltam languidamente sobre a água e formam, com os seus reflexos, um túnel imaginário por onde parecia ir chegar um comboio.
Tendo subido á terceira destas pontes, Anastasia observava como o vento desenha milhares de ondas sobre a superfície do canal. Aquele irreparável fluir diz-lhe respeito.
Também de alguma forma, a sua vida, o seu corpo se vão lenta e incessantemente. A superfície do canal é como um espelho que a reflecte, ampliada. Aquelas ondas inquietas são a sua pele, os reflexos desordenados os seus ossos, aquele ir e vir a sua alma.
Anastasia não é feliz, e a água do canal de San Martin recorda-lhe que o tempo também passa para ela e que chegará o dia em que nada a poderá fazer sofrer.
É que Anastasia quer morrer... Mas de momento é jovem e chora sobre as águas do alto daquela ponte. As suas lágrimas caem sempre sobre as ondas.

Diário de uma virgemWhere stories live. Discover now