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Simon não soube o que o acordou primeiro. As pessoas gritando do lado de fora de sua cabine, ou as apitos da cabine soando, informando estado de emergência. Então caiu da cama quando a mobília começou a inclinar. Ele ainda permanecia com as roupas da noite passada, onde mesmo jovem, se aproveitando da aparência que especulavam ser maior de idade e sua boa lábia, conseguiu algumas doses de bebidas e jogar com os adultos. É claro que os conhecidos de seu pai, não abriam a boca, não quando o herdeiro de um Marquês estava querendo se divertir. Não que ele gostasse de se aproveitar de seu futuro título, ou posição hierárquica. Simon queria distância de toda a parafernália, o maior tempo que conseguisse, esperava que o pai fosse embora dessa vida quando estivesse bem velhinho. Não sabia como cuidar de tantas propriedades, administrar tudo e ainda por cima escolher uma boa esposa. Argh! Não queria nem pensar nisso por enquanto. Então quando chegou a cabine na madrugada, só sentiu o corpo cair na cama e adormecer. Agora acordava em toda a bagunça.

Saindo da cabine ele escorregou parando na grade da lateral do navio, a buzina começou a soar, gritos eram dados, ele passou a correr em direção ao convés para identificar o que estava acontecendo. Antes do navio se inclinar e afundar mais ele conseguiu se segurar na grade, olhando ao redor. Um caos total! Ele olhou para baixo e viu uma jovem chorando, mas corajosa e comprometida a continuar segurando e salvar sua vida. Quando tornou a olhar para cima, não soube o que o acertou, mas lhe causou uma dor tremenda, o fazendo soltar da grade e cair ao mar. Levando junto outra pessoa. Ele emergiu com rapidez, algumas pessoas caíam ao mar horrorizadas tentando se salvar em qualquer coisa flutuante. O enorme navio terminava de se afundar. Simon olhou ao redor procurando pela pessoa que caiu junto com ele e não a encontrou, o mar estava violento, os gritos e pessoas se afastavam cada vez mais. Ele ouviu um pequeno urro e ao virar de costas pequenos dedos afundando. Num impulso mergulhou e avistou a jovem afundando, se mexendo, perdida em meio a tanto tecido, então parou de se mexer, os braços pendentes, ele acelerou chegando até ela, se pudesse salvar pelo menos uma vida, ele faria. Contudo, o peso de seu vestido era um problema. Simon não pensou duas vezes antes de começar a rasgá-lo e tirá-lo do corpo da jovem antes que fosse tarde demais. Deixando o vestido afundar ele a trouxe para cima. Ele puxou o ar com força, preocupado ainda mais com ela. Com sorte ele conseguiu a colocar sobre uma porta quebrada, que flutuava e aguentava os dois. Não houve outra maneira do que começar a fazer seus movimentos de reanimação e respiração boca a boca. Ficou alguns bons minutos se recusando a deixar a bela jovem - muito bela aliás - morrer. Sua pulsação era fraca, mas provavelmente tinha engolido muita água do mar, ela tinha que voltar! Ele não poderia ficar sozinho naquele lugar, não que fosse egoísmo, mas, com um desastre daquele, pessoas tinham que sobreviver, pessoas jovens tinham de sobreviver. Alívio tomou conta de sua alma, quando a jovem passou a tossir e cuspir água. Muita água. Desorientada ela olhou ao redor, os olhos uma fenda, com cílios molhados.

- Você... Oh Deus...

Ela não terminou a frase, tossiu mais um pouco fechando os olhos. Desmaio, confirmou Simon ao checar sua pulsação mesmo que ainda preocupado se a jovem teria alguma sequela pelo afogamento. Pensando em não ficar vagando pela vontade de Cristo, ele se esticou pegando alguns pedaços de madeiras, não muito eficiente, mas passou a utilizar como remos, e levar ele e a jovem para algum lugar de terra firme, mesmo não sabendo onde estavam, ou se demoraria muito para encontrarem algo. Até onde sabia estava no meio do oceano.


Levaram cinco horas, pela contagem de Simon para encontrar terra, uma ilha, de aparência desértica. Mas já era alguma coisa. Ele passou esse tempo todo debaixo do sol, assim como a jovem que ele não fazia ideia do nome. Mas não desistiu de encontrar terra firme ao invés de ficarem no meio do mar. Ele não admitiria mas quando avistou terra, seus olhos marejaram e ele deixou um soluço escapar, deitando ao lado da jovem. Seus braços estavam exaustos de tanto remar, sua pele queimada pelo sol, ardendo. Graças ao bom Deus, a jovem passou a se mexer, fazendo uma careta pela pele também queimada.

Em um Naufrágio com o Marquês [LIVRO 1]Where stories live. Discover now