Nublado

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Enquanto mastigava a massa insípida eu poderia cuspir todo o seu conteúdo.

Mas estava mais concentrado em devolver os olhares discretos que Jimin lançava em minha direção.

Eu estou perdido.

É estranha a forma como não precisamos falar para entender certos recados.

Por isso me levanto, o seguindo em direção ao banheiro.

Alguns minutos antes que todos voltem também.

Faz treze dias que dividimos esses minutos juntos.

E voltamos juntos do trabalho.

Saímos no mesmo horário.

Mesmo que não seja lado a lado, observo seu caminhar enquanto anda à minha frente, ou sinto meu rosto e orelhas aquecendo ao sentir seu olhar em minhas costas.

E então as conversas sussurradas.

Mas ainda assim, minha mente não se contenta. Porque no fim do dia, ainda me encontro encarando a parede vazia.

Às vezes meu maior desejo é quebrar a parede.

Às vezes ela é a barreira que faz minha respiração se normalizar.

Jimin é um amigo especial.

Ele abre a porta, passando direto e indo para a última cabine. Estica a mão para o sensor que abre a porta cinza, e entro logo atrás deles. Dividimos aquele pequeno espaço.

Nos encaramos, e quando queremos dizer algo, sempre é em sussurros.

Escoro na parede, observando-o cruzar os braços contra o corpo. A cabine é fria.

Simplesmente o segui na primeira vez. Ele abriu a cabine, me chamando com aquele mesmo olhar. E nos olhamos até ouvirmos passos dos indivíduos no corredor.

Na segunda vez, ele me seguiu.

E sem que percebesse, se tornou uma parte de minha rotina.

Ele me contou sobre como decidiu parar de usar os supressores. Eles faziam com que sentisse dores de cabeça, perdesse o sono. Com isso me justificou seu mau humor de sempre.

Mas não soube me explicar por que me evitava tanto mesmo depois de parar.

Enquanto pensou na explicação que não veio, vi seu rosto ficar confuso, como se nunca lhe tivesse ocorrido a razão de ter sido assim.

E então os minutos acabavam.

No outro dia, ele sussurrava um pouco mais.

Sempre buscando meus olhos, mas sinto meu rosto aquecer demais se mantenho o contato por muito tempo. Minha nuca parece formigar, minhas mãos gelam e vão até meus cabelos para arrumar o que não está desarrumado.

Mas então o olho de novo, e fica tudo bem.

Ele e os outros foram se identificando aos poucos.

Ao que parece, a espécie...

A humanidade não consegue existir sozinha.

Então tudo fez sentido.

Por isso que mesmo tão sozinhos e invisíveis, ainda insistimos em continuar juntos.

O vazio interior é melhor do que o completo vazio.

É por isso que me sentia desesperado para ser visto.

Porque as coisas são assim, naturalmente.

Às vezes segura minhas mãos. Mexe em meus dedos, entrelaça nos seus, e parece se divertir com isso, porque sempre sorri.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Where stories live. Discover now