Ele sabia que precisava descansar direito, estava exausto, mas não conseguia parar de pensar na grande vontade de ter uma casa confortável e segura, pois aquele local nem de longe era adequado para se habitar.

Sua mente estava uma bagunça.

Deixou que suas lembranças viessem com tudo, principalmente as ruins, que pareciam tomar conta de todas as outras. Delas, o sentimento angustiante por ter sido abandonado tantas vezes se destaca entre os outros. De vez em quando, se perguntava o que havia feito de errado para afastar as pessoas que um dia amou. Pensava que, de certa forma, até seus pais haviam se cansado da presença do filho e resolveram partir.

Depois, vinham as lembranças do homem que tanto amou e que lhe tirou da rua. Por sua vez, preferiu fugir ao ter que continuar ao seu lado, mesmo tendo ajudado antes.

E então ficou só. O homem simplesmente sumiu, sem dar notícia ou ao menos ter consideração pelas crianças, uma delas nem tendo conhecido o mundo ainda.

Mas Jungkook era bom. Céus, Jeon Jungkook era um homem incrível, e infelizmente, um tanto ingênuo também.

Apesar de Chung-ho tê-lo deixado para trás com Tae e seu pequenino ainda no ventre, sem nenhum dinheiro reserva, não conseguia odiar o ex, pelo contrário, era de certa forma grato por ele ter lhe dado ao menos uma chance de sair das ruas, embora tenha que enfrentar elas outra vez.

Eram tantos os questionamentos que acabou dormindo novamente, mesmo que nada tenha melhorado.

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Finalmente desperto, Jeon sentiu um par de pequenas mãozinhas acariciando sua barriga por cima da roupa. Ainda grogue pelo sono, sorriu ao ouvir a voz infantil de Taeyong dizer algo como "Não chuta muito, papai está dormindo" de forma errada, porém fofa na concepção de Jungkook.

Se sentiu bem com a presença pura e automaticamente levou suas mãos até os cabelos lisos e escuros do filho, acariciando devagar, chamando a atenção da criança.

— Papai, eu nom quelia te cordar*... Mas olha! Meu bacinho tá dodói!* — Disse, de forma embolada e um tanto afobada, com um biquinho no rosto.

Para mostrar o que queria, teve que aproximar um pouco mais seu braço do rosto de expressão preocupada de Jungkook, revelando que seu braço estava machucado por alguns arranhões. Parecia ter ralado em algum lugar.

— Como se machucou, filho? — Perguntou preocupado, se sentando no chão de forma rápida.

Ignorando a dor que lhe atingiu no fim da coluna, analisou o ferimento do bracinho magro. Aquilo definitivamente não estava ali antes.

—  Eu Levantô e fez dodói no chão.* — Murmurou.

Jungkook suspirou profundamente, triste. Já não se sentia mais tão bem assim.

— É minha culpa. — afirmou — Me desculpe, amor... Papai promete que não vai dormir tanto, Okay? — Sorriu pequeno, antes de beijar uma das bochechinhas que insistiam em ser gordinhas e adoráveis.

Passaram-se mais alguns minutos até que Tae reclamou de fome. Jungkook até tentou achar algo na bolsa, mas realmente não tinha nada ali.

As bolachas haviam acabado, ele já não tinha mais como ir até a tenda da moça gentil pedir algumas frutas... Estava perdido.

Uma enorme vontade de chorar lhe atingiu. A imagem de seu bebê passando fome lhe assombrou a mente. Não poderia deixar isso acontecer! Ele era só um menininho, se sentiria o pior pai do mundo caso Tae chorasse por fome, por medo.

Levantou-se devagar, ainda abalado. Olhou por cima da lixeira verde e se certificou de que não tinha ninguém ali. Ignorando o peso, as dores e a pressão em sua barriga, pegou Taeyong pelos bracinhos e o ajeitou de lado, jogando a bolsa em seu ombro livre.

Rapidamente caminhou para fora do estacionamento, começando a andar pelas ruas já um pouco mais movimentadas. Andou e andou por vários quarteirões procurando por algum lugar onde pudesse pedir alimento para seu pequeno. Não se envergonharia, faria aquilo e o que mais fosse preciso para o bem de seu filho.

Enfim parou em frente a uma padaria. O local não estava tão cheio, então resolveu entrar.

— Appa! — Enquanto analisava o lugar, ouviu Tae gritar e se animar. Olhou na mesma direção que o garotinho estendeu os braços e encontrou a pessoa que menos esperava achar.

Não podia ser ele, podia?

Ah, podia sim. E é ele.

Chung-ho... — Sussurrou o nome, não desviando a atenção que foi roubada pelo homem atrás do balcão.

— Jungkook. — Pôde ouvir, bem baixo. Aproximou-se dele, ainda surpreso — O que faz aqui? — o homem perguntou, de forma fria, ignorando totalmente o filho que ainda pedia colo com gestos animados.

— Eu que deveria te perguntar, você sumiu! — exclamou, sentindo muitas coisas ao mesmo tempo.

— Jeon, apenas vá embora. — Chung-ho saiu de trás do balcão e pegou Jungkook de forma violenta pelo braço.

Taeyong já tinha desistido de tentar chamar a atenção do outro pai, então apenas fez uma expressão triste e um tanto assustada.

Ao chegar na calçada e ser liberado do aperto sem cuidado, Jungkook se virou para o homem jovem que não tinha mais que vinte e cinco anos. Olhou bem fundo em seus olhos, com uma mágoa sem tamanho, segurando as lágrimas.

Não ficaria calado, precisava lhe contar sua situação, teria que tentar receber ajuda de alguma forma, mesmo vindo de Chung-ho.

— Sabe o que aconteceu? — a voz estava trêmula, tinha um sorriso triste no rosto — Fui despejado da casa da Sra Min.

Analisou o rosto em sua frente, pensando em como amava o sorriso daquele homem que agora parecia mais um estranho do que pai dos seus filhos.

— Estou morando na rua, Chung-ho. Com nossos filhos! — uma lágrima escapou, mas não parecia ter feito o homem se compadecer. Ele apenas virou as costas, mas parou quando ouviu a próxima frase. — Nós estamos prestes a passar fome!

— Eu não ligo.

— O-o quê? — como ele podia dizer algo assim?

— Eu não ligo se estão ou não ao ponto de passar fome, Jungkook. Apenas vá embora daqui! — não podia acreditar no que estava escutando...

Quem é esse homem?

— Isso é sério? — questionou, desacreditado. Mas prestando atenção na situação e em como seu filho parecia muito assustado com suas frases, decidiu não prolongar a conversa.

Limpou as lágrimas que insistiam em descer, grossas e pesadas. Negou de forma desleixada com a cabeça.

— Tudo bem. — olhou uma última vez para o ex antes de se virar e começar a andar para bem longe dali.

Nunca imaginou que Chung-ho pudesse tratá-los daquele jeito. Tão... frio e rude. E tudo bem, não imaginava que iria encontrá-lo outra vez, mas o choque inicial se transformou em apenas tristeza. Estava angustiado.

Quando ia virar a esquina, ouviu seu nome ser chamado. Suspirou fundo pela milésima vez só naquele dia e virou-se para trás, enxergando Chung-ho caminhando apressado em sua direção.

— Eu realmente não posso fazer nada em relação a tudo isso. — Murmurou, ao já estar próximo o suficiente — Não posso te dar um lugar para ficar. Mas pegue isso. Coma algo. — estendeu algumas notas.

Jeon olhou para o dinheiro, que logo estava em suas mãos. Agora, só consegue sorrir em meio às lágrimas.

Finalmente irão poder comer algo bom e isso não poderia deixá-lo mais feliz, apesar de ainda sentir mágoa em seu coração.

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• Betado por: mar_ryxz
• Escrito por: twominnie &HehSalles

THE RIGHT FATHER TO MY SON • jjk+pjm Where stories live. Discover now