Em busca da mala

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Casa extremamente organizada. Livros arrumados em ordem alfabética. Lençol escuro. Cozinha impecável.

Não importasse o quanto Cassandra olhasse pela casa de Dominic, não conseguia encontrar nada fora do lugar. Tudo estava exageradamente organizado como se ele não pudesse suportar algo desordem. Ela olhou para trás, encontrando Dominic sentado no chão da sala lendo um dos livros concentrado ignorando-a por completo. Suspirou assim que voltou a sua atenção para a geladeira a sua frente ainda desconcertada ao ver a organização dos alimentos a sua frente. Tudo estava separado por potes, os quais eram organizados com extrema precisão.

― Parece que tem comida preparada para toda a semana – Cassandra murmurou ao fechar a porta da geladeira olhando em volta sem saber ainda o que deveria fazer naquela situação. Quanto mais pensava, menos tinha certeza se tomara a melhor decisão. Por mais que Dominic afirmasse que a conhecia, ela não tinha certeza se realmente o homem que dizia ser seu ex-namorado era realmente alguém eu a conhecia.

Eu posso estar sendo paranoica.

Pegou-se analisando a si mesma antes de menear a cabeça recordando-se da fotografia deles e do álbum que ele lhe prometera.

― Não encontraram alguma mala com minhas roupas? – Cassandra perguntou ao aumentar a sua voz antes de virar. Ela então deparou-se com Dominic a encarando como se estudasse um enigma. – Preciso tomar um banho e trocar de roupa – Explicou sem ao menos se dar conta do sentimento confuso que apoderou-se de si diante do olhar dele. Recordou-se que desde o momento em que o vira, jamais o viu demonstrar uma expressão como aquela antes. Uma expressão fria e descuidada.

― Ah verdade! – Levantou-se colocando o livro de lado ao caminhar em direção a Cassandra, a qual manteve seu olhar nele sem desviar. – Não lembro de Jonny ter mencionado isso, mas ligarei para ele – Prontificou-se ao retirar um aparelho simples do seu bolso discando alguns números – Oi Jonny, sim estamos bem. Hoje irei tirar o dia de folga, sim isso mesmo – Parou alguns instantes ao olhar para Cassandra com mais atenção tentando identificar algo além de sua expressão apática – Sabe se encontraram alguma mala com Cassandra? Sem problemas, irei sim. – Desligou em seguida esforçando-se ao máximo para não gargalhar ao ver a expressão preocupada dela – Jonny, o médico, lembra-se dele? – Ela assentiu ansiosa – Disse que você foi levada para o hospital por um policial da cidade. Vou até a delegacia descobrir se acharam alguma mala.

― Não é melhor eu ir junto?

Dominic negou ao recordar-se da ínfima possibilidade de ter algum cartaz dela dada como desaparecida ou por não desejar que ela se recordasse de algo se fosse exposta as cenas do acidente. O mafioso pretendia postergar o máximo possível a sua condição de amnesia, pois seu objetivo era descobrir como seria viver ao lado de alguém como ela. Alguém que não se aproximasse dele por interesse e que tivesse uma personalidade genuinamente gentil e carinhosa.

Demorou mais do que ele gostaria de admitir para sair de casa após convencê-la a ficar. Sempre odiou pessoas que insistiam acreditando que uma argumentação vazia o faria mudar de ideia, pois elas o recordavam de sua infância.

Caminhou pela rua mais silenciosa do que o normal, sorrindo para as poucas pessoas que permaneciam na rua e o olhavam. Dominic tinha certeza que a noticia da mulher com amnesia levada para a sua casa já corria pela pequena cidade como um fogo se alastrando por um celeiro seco. Acabou dando de ombros ao continuar seguindo pela rua em direção a delegacia, a qual se encontrava no fim da rua. Dominic tinha certeza que os policiais daquela cidade não seriam capazes de pará-lo se ele decidisse fazer alguma coisa ou se todos descobrissem a sua verdadeira identidade. Os olhos do mafioso percorreram as casas, as arvores e em seguida suspirou ao se dar conta que nunca vivera de forma tão confortável antes. Em suas recordações nunca teve um momento de sua vida tão calmo quanto aquele.

Continuou caminhando até parar em frente a delegacia, a qual possuía dois andares e se destacava pela cor extravagante de amarelo, algo que ele não conseguia entender o proposito.

― Olá, como estão policiais? – Dominic saudou os dois policiais sentados atrás do balcão ao sorrir largamente assim que adentrou no prédio. – Sou Dominic Revalli, acredito que já sabem sobre isso – Sorriu ainda mais ao ver os semblantes relaxados dos policiais – Teve um acidente na estrada dias atrás e gostaria de saber se conseguiram encontrar alguma mala. – Olhou expressando ansiedade ao imaginar que era esse tipo de sentimento que os policiais desejariam encontrar no rosto do homem que acabara de descobrir que sua ex-namorada retornara.

―Sim, encontramos uma mala e estávamos prestes a ligar para o hospital – Um policial acima do peso com o rosto avermelhado falou fazendo com que Dominic o olhasse com o semblante frio. Ele não precisava ser um mafioso para descobrir as mentiras por trás da voz hesitante do homem. Ele tinha certeza que o policial nunca iria ligar para o hospital ou buscar pela proprietária da mala, o que significava que a desconhecida tinha algo de valor.

― Estou aliviado em escutar isso – Modificou a sua expressão para algo semelhante a gratidão. – Poderia levar a mala? Ela está realmente cansada e precisa se trocar – Omitiu o nome que ele lhe dera, pois não sabia se na mala haveria algo que pudesse identifica-la. – Esqueci de falar que ela é minha ex-namorada, provavelmente, atual agora.

O rosto do policial empalideceu antes de assentir e sumir por um estreito corredor fazendo o mafioso revirar os olhos diante da facilidade com que conseguira obter o que desejava. Ainda não conseguia acreditar na debilidade dos policiais da pequena cidade, pois nem ao menos se dignaram a pedir algo para identifica-lo.

Não é como se eu realmente esperasse algo deles.

Deu de ombros assim que viu o policial retornar puxando uma mala. Uma mala na cor rosa mais berrante possível.

Isso me diz que ela gosta de chamar atenção.

Ponderou ao manter uma expressão neutra até o momento em que o policial lhe entregou a mala. Dominic apenas sorriu antes de agradecer, pegando a mala em seguida colocando-a em cima do balcão, abrindo-a após ficar surpresa por não ter nenhuma trava ou cadeado. Para ele, aquilo significava que a desconhecida viajava sozinha ou com alguém em quem confiava em demasiada.

Um aroma doce penetrou em suas narinas ao abrir a mala deparando-se com roupas em cores neutras, alguns pares de sapatos, produtos de higiene pessoal e uma bolsa pequena cheia de documentos. A pegou sem conseguir evitar que um sorriso de vitória estampasse o seu rosto. O nome da desconhecida era , mas por alguma estranha razão desconfiava do que leu. A fotografia no documento era recente demais como se tivesse sido feita as pressas por alguém extremamente profissional. Ela não tinha indicativos de ser casada ou possuir filhos pelo que averiguou em seus documentos, os colocou no bolso de sua calça, fechou a mala novamente e deu um olhar gélido para o policial antes de sair da delegacia.

Dominic se viu curioso em como poderia ser divertido torturar o policial para descobrir o que tanto lhe interessou para ele estar disposto a esconder aquela mala.

― E eupensava que cidade pequena era chata – Gargalhou ao imaginar formas deconseguir obter a resposta para o que tanto desejava. – Acredito que devo fazeruma visita para esse policial hoje a noite. – Decidiu-se ao puxar a mala derodas pela cidade sem se importar com o largo sorriso doentio que estampava oseu rosto.

CONTINUA...

Doce PerigoWhere stories live. Discover now