Insanidade?

6K 432 33
                                    

O barulho irritante do bipe de Dominic, o fez abrir os olhos a contragosto. No instante que o fez arrependeu-se por perceber que era um chamado simples. Espreguiçou-se após se levantar do sofá e seguir para o quarto da única paciente do, pequeno, hospital. A desconhecida havia acordado, ele descobrira ao abrir a porta do quarto onde ela estava.

—Os exames estão aqui – a enfermeira falou logo atrás de Dominic ao lhe estender alguns papeis, e somente então ele percebera que não havia prestado atenção em nada a sua volta ao olhar para a desconhecida. Ela possuía algo que lhe era familiar e hipnotizante.

Talvez ela emane perigo. Avaliou após pensar. Olhou para ela mais uma vez antes de pegar os papeis e começar a ler concentrado.

— Onde Jonny está? – E ao escutar que ele havia desaparecido, não foi discreto ao expressar a sua raiva com um xingamento. Aquela não era a primeira vez que acontecia. – Pode sair, eu conversarei com ela – a enfermeira assentiu antes de sorrir, deixando-os a sós. – Meu nome é Dominic Revalli, sou o médico que lhe atendeu – começou a se aproximar lentamente dela, até enfim perceber que ela não sorria, e o encarava com curiosidade e temor. – Se lembra do seu nome? – ela o olhou fixamente por algum tempo para em seguida negar. – Se lembra o que aconteceu? – ela negou novamente com uma calma que lhe era estranha – Sabe que dia é hoje? – ela parou novamente e disse após pensar.

— 15 de maio – respondeu sem perceber o semblante de Dominic. Ela está meses perdida. Estamos em setembro. Pensou após se dar conta que havia achado a sua voz adorável. Ela é uma cantora? Se perguntou ao perceber que começava a ficar curioso por uma completa desconhecida, e que provavelmente, estaria envolvida com algo perigoso. Ninguém como ela iria para uma cidade daquelas, e não havia grandes cidades próxima. Ele escolhera aquele lugar exatamente por isso. A cidade era perfeita para um refugiado se abrigar. Não preciso me envolver nisso, e nem eu quero.

— Certo – olhou novamente os exames inconsciente de sua aproximação da cama dela. Se ele esticasse a sua mão poderia tocá-la com facilidade, mas não o fez, e nem pretendia. Entretanto, não demorou para senti-la tocar a sua face. Sua mão era gelada e ao mesmo tempo confortável. – O que pensa estar fazendo? – o tom de voz dele não a assustou, a fez sorrir, como se estivesse acostumada. – Não deve tocar as pessoas assim.

— Você parecia precisar – sorriu gentil ainda tocando a sua face.

— A única que precisa de algo aqui é você – retirou a mão dela de seu rosto e a encarou após suspirar – Não toque no rosto de outras pessoas ou em qualquer parte do corpo, entendeu? – ela assentiu sorrindo. Parece que teve um traumatismo craniano, mas nada grave. Os outros exames ficarão prontos em uma semana. Não encontramos... – antes que pudesse continuar, ela voltou a lhe tocar – O que foi dessa vez? – indagou impaciente – Eu disse para não tocar nas pessoas, não foi?

— Mas elas não são você, são? – o olhar gentil fez com que ele suspirasse mais uma vez. Nada como aquilo havia acontecido com ele antes.

— Sempre é assim?

— Como?

— Impulsiva e gentil.

Ela não tinha como responder, mas apenas sorriu esperando que respondesse o seu questionamento.

— Voltarei mais tarde, precisa descansar – afastou a mão dela mais uma vez de seu rosto e saiu do quarto o mais rápido que conseguiu. Ele não gostava da sensação que o olhar dela trazia. Em toda a sua vida jamais vira olhos como aquele antes. Olhos gentis e amorosos.

Suas recordações de sua infância começaram a surgir. Os gritos de sua mãe quando se recusava a roubar alguém ou a matar, os lamentos de seu pai, seus irmãos escondidos, a sua irmã gritando ao vê-los assustados. Nada em sua vida poderia ser comparado a uma relação amorosa ou gentil, apesar da relação com seus irmãos ser próxima, eles não eram amáveis um com o outro. Eles se protegiam da loucura de sua família, enquanto tentavam sobreviver, isso era o significado de família para eles. Mas ele havia fugido justamente para não precisar mais pensar nisso, ele desejava viver algo diferente. Algo como a desconhecida. Uma sensação de alguém lhe tocando sem nada em troca, de carinho, era algo que não conhecia, e a desconhecida aparentava gostar de demonstrar tais sensações.

Doce Perigoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن