Dia 30 de agosto de 1989

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Cruzamos a rua até o passeio da frente e depois nos dirigimos ao quarteirão do lado esquerdo, onde o pai do pequeno Tomás havia estacionado seu brinquedinho de gente grande. O garoto não ia nada bem. O senhor se atrapalhou todo para fechar a porta, tendo que bater ela umas duas vezes para que finalmente se fechasse. Tinha uma mania estranha, que talvez todos os grandes empresários tenham: ajeitar a gravata várias e várias vezes seguidas, por mais que estivesse perfeitamente alinhada com seu paletó. Parecia uma criança amarrando o tênis novo, mas ainda assim, nervoso em vacilar e acabar sujando ele. Como quem cuida de um filho.

- Bom dia. – Cumprimentou o técnico. O empresário respondeu com um aceno ríspido de cabeça, dando uma boa olhada em tudo o que meu amigo vestia. – Belo paletó.

- Belas calças.

- É, eu...estive com pressa. – Nós esperamos. – Seu filho?

- É. – Ele deu algumas olhadelas para o menino, meio que tímido em olha-lo nos olhos – Sabe, não passamos muito tempo juntos, mas...é, é sim. – Sorriu sem mostrar os dentes.

- Sei.

- Graças a Deus, filho! - Olhou para ele preocupada – Tudo bem com você? – Ele entrou para dentro da casa de cabeça baixa e em silêncio, como Benito disse que aconteceria. – Oi, He...

- Oi digo eu, senhora.

- O quê?

- Olha o respeito rapaz...

- Respeito coisa nenhuma, já faz mais de um mês que a gata da minha tia não para de miar, eu quero satisfações.

- Olha...

- Moça, a senhora é cristã?

- Sim.

- Veja bem, imagino o inferno que a senhora deve estar passando aí dentro. – Olhou para Hector, seu pai, de cima a baixo – E acho que sei muito bem por quais motivos. Mas, pelo amor que tem a Deus, dá para, por favor, educar melhor o seu filho?

- Do que está falando?

- Sabe muito bem do quê. Faz semanas que seu filho não para de jogar bolotas de sei lá o que na janela de lá de casa e eu estou te pedindo para que mande-o parar imediatamente! – Com ênfase na palavra final. Regina tentou disfarçar um sorriso largo por trás do portão. – Está me ouvindo?

- Ah, claro. – Esfregou os olhos. – Olha, eu tenho certeza de que a gente vai acabar chegando a um acordo, tá? Mas é que bem agora...

- Eu peço que a senhorita e seu...Oompa-Loompa...tomem já as devidas providências. – Ela tentou mais uma vez segurar o riso. – Pode ser falta de um certo Willy Wonka para segurar as rédeas da casa.

- Olha aqui... – Ela esfregou os olhos mais uma vez, tentando manter-se a mais centrada possível – Melhor não entrar nesse assunto, ok?

- Olha rapaz, se está aqui só para importunar...

- Importunar? – Ele riu como um velho tossindo – Não faz ideia do quanto aquela velha chata me importuna. Bom mesmo seria se aquele maldito gato malhado engasgasse como uma das suas bolotinhas.

- Bolotinhas? – Regina saiu de trás do portão e apoiou uma de suas mãos sobre a cintura – Senhor, da onde foi que você saiu, hein?

- De um monte de documentos assinados.

- Do quê que...

- De um garoto chato lançando bolinhas no meu gato e da velha a me importunar.

- Garoto, sua atuação é excelente, mas nada do que diz... – Tentou falar o coordenador chefe.

- Eu tenho a solução perfeita para um excelente fim e um acordo entre ambas as partes.

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