Cruzamos a rua até o passeio da frente e depois nos dirigimos ao quarteirão do lado esquerdo, onde o pai do pequeno Tomás havia estacionado seu brinquedinho de gente grande. O garoto não ia nada bem. O senhor se atrapalhou todo para fechar a porta, tendo que bater ela umas duas vezes para que finalmente se fechasse. Tinha uma mania estranha, que talvez todos os grandes empresários tenham: ajeitar a gravata várias e várias vezes seguidas, por mais que estivesse perfeitamente alinhada com seu paletó. Parecia uma criança amarrando o tênis novo, mas ainda assim, nervoso em vacilar e acabar sujando ele. Como quem cuida de um filho.
- Bom dia. – Cumprimentou o técnico. O empresário respondeu com um aceno ríspido de cabeça, dando uma boa olhada em tudo o que meu amigo vestia. – Belo paletó.
- Belas calças.
- É, eu...estive com pressa. – Nós esperamos. – Seu filho?
- É. – Ele deu algumas olhadelas para o menino, meio que tímido em olha-lo nos olhos – Sabe, não passamos muito tempo juntos, mas...é, é sim. – Sorriu sem mostrar os dentes.
- Sei.
- Graças a Deus, filho! - Olhou para ele preocupada – Tudo bem com você? – Ele entrou para dentro da casa de cabeça baixa e em silêncio, como Benito disse que aconteceria. – Oi, He...
- Oi digo eu, senhora.
- O quê?
- Olha o respeito rapaz...
- Respeito coisa nenhuma, já faz mais de um mês que a gata da minha tia não para de miar, eu quero satisfações.
- Olha...
- Moça, a senhora é cristã?
- Sim.
- Veja bem, imagino o inferno que a senhora deve estar passando aí dentro. – Olhou para Hector, seu pai, de cima a baixo – E acho que sei muito bem por quais motivos. Mas, pelo amor que tem a Deus, dá para, por favor, educar melhor o seu filho?
- Do que está falando?
- Sabe muito bem do quê. Faz semanas que seu filho não para de jogar bolotas de sei lá o que na janela de lá de casa e eu estou te pedindo para que mande-o parar imediatamente! – Com ênfase na palavra final. Regina tentou disfarçar um sorriso largo por trás do portão. – Está me ouvindo?
- Ah, claro. – Esfregou os olhos. – Olha, eu tenho certeza de que a gente vai acabar chegando a um acordo, tá? Mas é que bem agora...
- Eu peço que a senhorita e seu...Oompa-Loompa...tomem já as devidas providências. – Ela tentou mais uma vez segurar o riso. – Pode ser falta de um certo Willy Wonka para segurar as rédeas da casa.
- Olha aqui... – Ela esfregou os olhos mais uma vez, tentando manter-se a mais centrada possível – Melhor não entrar nesse assunto, ok?
- Olha rapaz, se está aqui só para importunar...
- Importunar? – Ele riu como um velho tossindo – Não faz ideia do quanto aquela velha chata me importuna. Bom mesmo seria se aquele maldito gato malhado engasgasse como uma das suas bolotinhas.
- Bolotinhas? – Regina saiu de trás do portão e apoiou uma de suas mãos sobre a cintura – Senhor, da onde foi que você saiu, hein?
- De um monte de documentos assinados.
- Do quê que...
- De um garoto chato lançando bolinhas no meu gato e da velha a me importunar.
- Garoto, sua atuação é excelente, mas nada do que diz... – Tentou falar o coordenador chefe.
- Eu tenho a solução perfeita para um excelente fim e um acordo entre ambas as partes.
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Depois de Nós
Science FictionUm grupo de quatro pessoas volta no tempo de 2005 para 1989 e, enquanto desvendam uma série de mistérios, tentam finalmente fazer as pazes com os seus passados.
Dia 30 de agosto de 1989
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