Capítulo 12

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Sacou o jogo inteiro da noiva quando voltou para o quarto de hotel. Marina, vestida numa camisola sensual e transparente, parecia outra. Estava dócil. A Marina por quem ele se apaixonou não se rebaixa. A Marina boa batia no peito, quebrava a garrafa de litrão e chamava para a briga. A Marina boa fugia dos pais para dormir com ele.

E agora coloca camisola transparente para convencê-lo de coisas que ele nunca vai ceder.

— Pode cortar o melaço. — Ele disse, cabisbaixo e triste, doido por um banho, pronto para deitar na cama e voar de volta para sua cidade no dia seguinte. — Não tô com cabeça pra isso.

— Ai, Dê... — Ela lhe deu um beijo no rosto, sorrindo um pouquinho do jeito lindo que sempre sorriu e continuou: — Desculpa pelas coisas que eu disse...

— Qual delas? Por eu ser um cowboy que não vale nada se não tiver fazenda, ou por eu ser um jeca qualquer?

— Não vamos brigar, tá?

— Não tô com cabeça para brigar. — Respondeu, colocando as mãos em sua cintura, cedendo um pouco. — Só tomar um banho e deitar, que eu tô quebrado.

— Você comeu? A gente pode pedir alguma coisa pelo serviço de quarto...

— Comi.

— Comeu onde?

— Na casa de amigos.

— Não sabia que tinha amigos por aqui...

— Pois é, eu também não sabia que, para você, Goiás era tão ruim assim.

— Não é, Dê.

— Não?

— É que São Paulo é melhor!

— Você me ama, Marina?

— Que pergunta!

— Me ama do jeito que eu sou, esse cara de chapéu, que não sabe lidar com coisas de cidade grande? Dois dias aqui, meu anjo, e tô farto de passar vergonha. É vergonha para comer, para sair do quarto, para entrar num carro chique, para ir tomar café da manhã. Todo mundo nessa cidade me olha como se eu fosse de outro planeta. Eu não aguento mais!

— Mas você se acostuma...

— Eu não quero me acostumar! — Ele soltou da cintura dela e chutou os sapatos para o canto. — Eu sou assim, Marina. Quero gastar a vida em Itumbiara, plantando cana na minha terra vermelha, obedecendo as vontades de Laurinha. Eu não vou transformar o esforço da minha mãe, a Princesa de Doce, num Álcool Ferraz, nem por você, nem por ninguém!

— Mas você sabe que...

— Do governo nasci sabendo uma coisa: O que ele quer são seus vinte e sete e meio por cento. Ele não quer saber se eu tô passando fome, se meu pai se matou porque não tinha o que comer, se minha mãe tinha dois filhos para criar. Bateram dois caras do governo na porta da casa da minha mãe, na pindaíba que só tinha fubá em casa, e sabe o que eles queriam?

— Dênis...

— Cobrar a dívida que meu pai contraiu para poder plantar trigo. A dívida que a gente só tinha porque o governo limpou a nossa conta na era Collor. Agora você me apresenta dois sujeitos que querem tomar a única coisa que eu tenho, a Princesa, com a promessa de um milhão por mês. Cê acha que eu vou acreditar nisso?

— Dois sujeitos, não, um deles é meu pai!

— Teu pai quer colocar o próprio nome na única coisa que eu tenho! Tá passando por cima de tudo o que eu amo por causa de ego! Tô chamando de sujeito por respeito a você, Marina.

Um coração por CasalWhere stories live. Discover now