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Quinze anos antes


— Cema — Um Dênis de dezesseis anos estava de saco cheio de aula de química. Um Dênis de saco cheio e saudade de casa inventa cada besteira para se distrair, que só nunca foi expulso porque a escola tinha misericórdia da mãe —, cê aposta que eu consigo acertar aquela pombinha-rola com esta borracha?

— Pra que você quer matar o passarinho? — Iracema não tinha paciência nenhuma para o amigo e precisava prestar atenção na aula se quisesse passar no vestibular.

— Matar não vai não, tá barriguda demais.

Os dois, sentados perto da janela, gastaram a explicação do exercício pré-vestibular inteiro olhando a pombinha parada no parapeito.

— Cê vai acertar a coitada com a borracha? Tá doido?

— Quer apostar?

— Apostar o quê?

— Se eu acertar, você me deve. Se eu errar, te devo.

— Nem morta que vou dever favor para você, Cão.

— Não me chama assim, não gosto.

— Que seja, cachorro, não aposto.

— Se eu acertar, você me deve um beijo. Se eu errar, faço a sua lição de biologia por um mês.

— Não aposto com você nem amarrada.

— Tá certo, então não aposte.

— Não mesmo!

— Me beija então sem apostar?

— Não aposto beijo nem amarrada nem ameaçada de morte. Esquece, Dênis.

— E se for a minha vida em jogo?

— Peço pro meu pai te comprar uma coroa de flores e até vou no seu velório.

— Pede nada. Quando eu for embora você vai ser a primeira a chorar no tchau.

— De alegria, só se for.

— Só para constar: — Um Dênis de dezesseis anos não perde — Eu nem queria te beijar.

— Sei...

— É — ele concluiu, pontudo e feito para ferir devolta —, você tem mau hálito.

Um coração por CasalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora