Capítulo 29

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Faz apenax 84 anos que não posto nada da Cema, então hoje postarei esse, e mais um, tá?

Eu sei que vocês olharam a sinopse antes de começar, mas é bom aproveitar e explicar mais um pouquinho: A editora me permitiu postar o livro aqui, no Wattpad, desde que eu não postasse o final. Então o final não será postado (e não fica brava comigo, flor, tá escrito lá na sinopse!)

Mas, de boa notícia, eu digo: A pré-venda do físico autografado vai até dia 30/8 e dia 31/8 e 1/9 estarei pleníssima no lançamento da bienal, autografando-o também, lá no estande da 3DEA.

(Se você tiver qualquer outro livro meu e queira um rabisquinho, pode trazer também, que assino com todo carinho e amor do mundo, viu?)

Aparentemente, o final das postagens aqui vai casar com o lançamento lá. Vai ser legal te trombar na Bienal, assinar seu livro, e você ir dormir de coração quentinho quando for ler o final, no conforto da sua casa.

 Vai ser legal te trombar na Bienal, assinar seu livro, e você ir dormir de coração quentinho quando for ler o final, no conforto da sua casa

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**Vai ter mimo pra quem for? Vai sim, senhor!

Chega de falar, Camila.

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Então, todo o sofrimento de raspar a cabeça e vomitar até as tripas foi por nada? Por que passar por todo esse desgaste, se vai perder as mamas do mesmo jeito?

Deitada no próprio quarto, no meio da noite, desde que voltaram do consultório médico, nem Dênis nem Seu Geraldo falaram muito. Respeitaram o silêncio de Iracema, jantaram de televisão desligada e cada um foi para o próprio leito mais cedo.

De olhos abertos no breu, ela ainda não tinha sido capaz de chorar. Mastigava as informações aos poucos, já procurou no Google como os seios ficam depois de reconstruídos e como é a mastologia total. Viu a ação bonita e solidária de algum tatuador que não cobra para desenhar mamilos em seios reconstruídos e se comoveu com depoimentos de mulheres que sobreviveram a tudo o que ela passava.

O foco não era ser bonita, nem ser feminina. Era só sobreviver para contar. Desde que voltou solteira para a casa do pai e começou a sentir os efeitos da primeira quimioterapia, sabia que tudo seria possível. Sabia que a terapia não era garantia de cura, mas viu vídeos de mulheres na mesma situação que a dela que diziam que a quimioterapia sumiu com o câncer, e isso, por mais que não fosse receita de bolo como o médico falou, lhe deu esperanças de não ter que passar por cirurgia alguma.

— Cema — o toquezinho tímido na porta quebrou seu vórtice de pensamentos pessimistas —, tá acordada?

— Tô. — Ela respondeu sem se levantar.

— Pode entrar?

Dênis, de moletom de dormir e camiseta, sorriu triste quando abriu a porta de seu quarto escuro. Ouviu Iracema responder e se enfiou para dentro do quarto antes de ser autorizado a entrar.

Depois, como a Princesa fazia quando ainda podia dormia com sua dona, se enfiou para dentro de suas cobertas, abraçando o corpinho magro e debilitado de uma Iracema entristecida, e beijou a linha de seu maxilar travado de tensão.

— Pode deitar aqui com você? — Perguntou depois de já deitado.

— Adianta eu falar não?

— Não briga, meu dengo.

— Não tô.

— Eu te conheço até do avesso. Se vai chorar — A puxou para o peito, num carinho manso, preguiçoso, e a segurou pelo arco mais esguio de sua cintura —, tô aqui.

Então, aos pouquinhos, o choro aflorava, de dentro para fora. Iracema tinha o direito de chorar de frustração, por nadar sem chegar a lugar algum, e Dênis jamais pediria que não o fizesse.

O barulho de seu choro abafado cortou seu coração e Dênis segurou as lágrimas o melhor que pôde.

— Já vencemos a diaba vermelha. Você achou que não ia aguentar as quatro doses, e olha a gente aqui.

— Foi horrível!

— Horrível foi, mas estamos aqui.

— Eu não sei o que fazer...

— Não decida nada agora. O médico te deu quinze dias de férias. Vamos sumir? Você, eu, a Princesa e seu pai. Vamos catar as roupas, jogar todas elas na carroceria, se esconder no canavial e ver a quermesse da minha cidade. O que você acha?

— Acho irresponsável.

— São quinze dias para sumir, meu dengo, para esquecer um pouco tudo isso, e depois a gente volta pra cá e decide.

— Eu tenho medo...

— Medo de quê? De gostar tanto da minha terra e não querer voltar pra cá?

— Não, de passar mal longe de casa.

— Pois amanhã mesmo volto no seu médico e pergunto o que eu tenho que levar na viagem para cuidar de você como se deve, e o que eu tenho que evitar a todo custo.

— Pergunta o que ele acha. Se ele falar que eu posso ir, eu vou.

— E seu pai?

— O que tem?

— Acha que ele vem com a gente?

Na manhã seguinte, antes que o médico atendesse o primeiro paciente, Dênis o interpelou ainda na calçada, com bloco de notas e canetas, a face inchada de quem não dormiu direito e o cheiro fresco de homem de banho tomado.

— Doutor, desculpa atrapalhar assim. — Ele estendeu as duas mãos antes que o outro achasse que fosse um assalto. — Se eu te catasse lá dentro ia demorar umas três horas até conseguir falar com o senhor.

— Você é acompanhante da Iracema, não é? Desculpe, não lembro seu nome.

— É Dênis, mas não importa. O que eu quero saber — Empunhou a caneta e um bloco de notas roubado da mesinha de telefone de Seu Geraldo — é o que eu tenho que fazer para levar Iracema para Goiás por uns dez dias.

— A viagem vai ser muito cansativa para ela.

— Vai, eu sei, mas cê acha que vai fazer mal?

— Não, não. É até bom que ela saia um pouco, faça caminhadas, respire ar puro.

Anotou duas folhas de recomendações, pegou três receitas médicas para remédios controlados, ficou um tempão com a recepcionista para que ela imprimisse o relatório médico de Iracema caso ela precisasse passar por um hospital diferente e, de tarde, arrumava as malas como se fosse definitivo.

Seu Geraldo não disse nada, só colocava a Princesa na gaiola de viagem, mas sorria com alguma felicidade que não se via há tempos. Sorriso de quem também precisava de férias.

— A gente vai parando. — Dênis comentou quando viu a cara de surpresa de Iracema ao saber que de São Paulo até Itumbiara são oito horas de carro. — A vista é boa, tem bastante mato, cê vai ver.

— Agora que você convenceu até meu pai — Iracema subiu no banco de trás —, eu não posso fazer nada além de aceitar ir.

— Vai te fazer bem, anjo. — Ele deu um beijo em seurosto, contente e muito empolgado, e fechou a porta para ela. — Tô louco paramostrar onde eu moro para a minha melhor amiga do colégio.

Um coração por CasalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora