Capítulo 23 (FINAL)

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Distrito de Dong-gu, Busan — 17.11.1989

Querido Kyungsoo,

O mundo dá muitas voltas. E todas as coisas, de alguma forma, sempre arranjam uma forma de se encaixar. Às vezes, deitado no silêncio do meu quarto, eu me pergunto o que teria acontecido se eu nunca tivesse tomado a iniciativa de falar com você naquela estação de trem. Será que você teria falado comigo? Ou seguiríamos sendo desconhecidos que apenas trocam olhares vez ou outra?

Será que nos conheceríamos de outra forma, em outro lugar?

Será que você me amaria como ama agora?

Se eu nunca tivesse colocado aquele guarda-chuva sobre a sua cabeça, protegendo você e seu livro dos respingos de outono, será que você ainda seria o Dr. Watson do meu Sherlock Holmes?

Eu tendo a acreditar que sim. Quero acreditar que, independente de qualquer coisa, ainda seria você nos meus braços em um fim de tarde como agora. Ainda seria você roubando todos os meus sorrisos. Ainda seria você, de todas as formas. Não importa o que aconteça. Não importa quanto tempo passe. Não importa se a nossa montanha-russa esteja subindo ou descendo.

Porque o mundo dá muitas voltas, Kyungsoo.

E eu espero que todas elas me levem até você.


『▪▪▪』


O quarto de Kyungsoo tem cheiro de café, madeira molhada e livros de romance policial acumulados em prateleiras. E, ainda melhor, tem o perfume dele em cada canto. Deitado ao seu lado na cama, com nossas cabeças encostadas uma na outra, disputando o espaço limitado do seu travesseiro, é como se tudo naquele lugar transbordasse Do Kyungsoo.

— De novo — ele pede. — Leia aquela carta de novo.

Minhas costas estão pressionadas contra dezenas de papéis de cartas, algumas delas espetando a pele descoberta, espalhadas pelo colchão macio numa cascata infinita de envelopes e cartas amareladas. Na sua estante, a apenas alguns palmos de distância, Eye in the Sky está ressoando baixinho em seu toca-fitas.

— De novo? Já é a terceira vez hoje, Kyungsoo. Vou começar a cobrar.

— Eu gosto de ouvir você — ele diz, e eu não respondo nada, porque não quero que a frase se desfaça. Enquanto o silêncio perdura, é como se ela ainda estivesse ali, pairando no ar. Mas não por muito tempo. — E se esse não for motivo suficiente — ele acrescenta —, eu te dou vinte pratas.

Finjo considerar. Eu só preciso inclinar a cabeça um pouco para o lado para observá-lo com olhos semicerrados, avaliando a proposta. Mas, no fundo, não há o que analisar. O baixinho não precisa de muito para me convencer, principalmente com aqueles olhos grandes me olhando bem de perto, a mão segurando a carta contra o meu peito.

— Tenho uma ideia melhor — sugiro, e meu olhar desce até a sua boca. — Eu prefiro cobrar com beijos.

— Então eu te dou dez beijos. Trato feito?

Faço uma careta.

— Você é tão mesquinho — resmungo, mas acabo cedendo no final. — Trato feito. E é bom que sejam os dez melhores beijos da minha vida, ou vou ser obrigado a devolver todos eles.

— Céus... Só leia a carta, Jongin.

Puxo o papel da mão dele com um gargalhada, erguendo-a a alguns centímetros do rosto para poder ler melhor. Ele parece satisfeito, porque beija o meu ombro nu com carinho, direto na pele, sem qualquer camiseta para ficar no caminho.

Querido KyungsooOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz