❝ FEMINILIZAR ❞

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Não é sendo rígido e insensível que você não vai repetir com o próximo o que fizeram com você. Talvez, você esteja no momento da vida em que discursa "agora eu é quem estou no controle, eu é quem vou magoar, não o contrário", talvez, você tenha sido amoroso e carinhoso até o dia anterior em que nos conhecemos e, por algum mistério do universo, eu não tenha podido vislumbrar o seu lado doce na íntegra (pelo qual eu tenho certeza de que me encantaria), mas não há razões plausíveis para os inocentes sofrerem pelos verdadeiros culpados.

Mesmo que você me diga que prefere a forma como está agora, a sua essência iluminada nunca vai mudar e foi por ela que eu insisti, que eu almejei. Não vou mentir e afirmar que não doía quando eu escutava você se referindo ao meu jeito como uma espécie de "doença asquerosa", cuspindo flechas cheias de veneno como "eu já fui como você, ainda bem que não sou mais", no entanto, eu ainda preferia (e prefiro) guardar a minha dor e compreender a sua (a de qualquer outra pessoa).

Eu queria poder sentir que, em uma conversa, nós dois tínhamos a mesma importância um para o outro, como uma via de mão dupla. Mas eu só escutava você falar incansavelmente das coisas que não gostava em mim e em como eu deveria mudar. As suas risadas debochadas ainda ecoam pelo meu cérebro todas as vezes em que a insegurança resolve me fazer uma visita.

Eu nunca entendi esse tratamento diferente que você me deu, desde a primeira troca de palavras. Eu já me questionei diversas vezes se eu sou mesmo tão horrível quanto você me fez parecer ou sentir e, no fim, o que descobri foi pior do que eu poderia imaginar: você estava morto por dentro e gostava de machucar as pessoas. Você me avisou sobre ser instável e sobre mudar de um dia para o outro, o que me causou a constante aflição de que, a qualquer momento, você poderia se decidir sozinho de que queria sumir da minha vida, sem ligar para o que eu sentia. Foi tudo tão injusto! Você queria que eu confiasse em você, que eu lhe entregasse uma parte minha apenas pelo tempo que fosse pertinente a você e, um dia, quando o clima estivesse deprimente, deixando-o ranzinza, você jogasse tudo pela janela.

Desculpe-me se, apesar de tudo, eu ainda gosto das pessoas e vejo esperança nelas. Desculpe-me se eu me importei com você mais do que deveria. Desculpe-me se eu só conseguia vê-lo por meio dos meus olhos bobos, os quais insistiam em me mostrar o quanto você poderia ser incrível, apesar de estar com medo de colocar o pé para fora da sua fortaleza de proteção. Apenas não me desculpo por ser eu mesma e por escolher continuar sendo.

Eu entendi a sua decisão de ser "alguém frio" e me lembro de tê-lo alertado a respeito de você ter muito mais a perder do que ganhar... E você perdeu. Continua perdendo. Aliás, já que você tomou a liberdade de me dizer incontáveis coisas sobre a minha personalidade fraca e retraída, quero dizer que a sua mãe está completamente certa quando diz que você é arrogante. Você sai jorrando tudo o que bem entende em cima das pessoas e, para não sair por baixo na situação, preferiu manter o discurso de que eu não era "mulher suficiente", preferiu se manter como o dono da razão e não falar o que realmente estava pensando (como você mesmo me revelou mais tarde, tarde demais), só para não mostrar que da sua boca saíam asneiras incontroláveis, fazendo jus ao seu título de babaca.

Céus, ouvir de você, justo de você, o quanto eu não sou suficiente como mulher e ser humano, depois de tudo o que compartilhamos um com o outro, do que vivemos, foi como levar uma facada no coração, literalmente. Não é como se eu precisasse que você ou qualquer outra pessoa reafirmasse quem eu sou (eu sei que quem deve saber do meu interior sou eu), mas, se você parar para refletir (o que eu duvido muito que você faça), ninguém gostaria de saber que tais pensamentos inferiores são o que o definem para alguém especial, alguém que é considerado importante.

Realmente não fui o tipo de garota que você esperava conhecer nessa nova fase da sua vida, já que você prefere pessoas com outros ares, com outras formas de ser e de pensar. Confesso que eu não sou nada boa em lidar comigo mesma e, lutando contra toda a resistência dentro de mim, admiti que precisava de ajuda pela primeira vez, sobre essa questão, para você. Por outro lado, eu me considero boa em lidar com as pessoas, em entendê-las e aconselhá-las. Sinto que você é o oposto, prepotente demais para descer do pedestal e ter empatia por outra história que não seja a sua.

Saiba que fazer piadas das suas dores e transformar toda a seriedade das situações em "festa" não quer dizer que você as superou ou que seja a maneira adequada de lidar com elas. Não adianta odiar a sua essência e se culpar por ser alguém que ainda acredita no amor e no brilho das coisas. Você não tem que apagar a sua luz ou, pior, apagar a luz dos outros, só porque encontrou pessoas obscuras no meio do caminho.

O primeiro texto que eu escrevi para você teve totalmente outro tema, então, é estranho que eu esteja escrevendo algo tão contrastante nesse momento, para a mesma pessoa. Isso só prova o quanto o tempo passa rápido e o quanto somos vítimas de suas incertezas. Gosto de pensar que tudo o que você me disse foi uma autodefesa do seu subconsciente (que sentiu que estávamos nos aproximando demais e que isso poderia magoá-lo como todas as outras vezes). Torço para que, um dia, você perceba que eu não estava fingindo ou mentindo sobre nada, mesmo que tudo o que consiga fazer a seu respeito seja especular, pois você é ambíguo em cada milímetro de si, no que diz e faz.

Você mesmo me disse que eu não preciso estar ao lado de alguém que não me dá valor, que eu devo ser completa, e, seguindo esse conselho maravilhoso (o único vindo de você que deu para aproveitar), sua participação na minha vida se encerra aqui, nessas palavras as quais você, mais uma vez, não conseguirá interpretar com profundidade, porque é individualista demais para enxergar alguém além de si mesmo. Acredite, estou rindo pela secura da situação. Afinal, você me disse para sermos sinceros um com o outro e, lhe concedendo uma última fresta da mulher que sou e que você nunca mais terá a chance de vislumbrar, estou sendo muito sincera quando digo que despertei para nunca mais deixar alguém me (des)feminilizar.




Ser autossuficiente é coerente, uma metamorfose dolorosa, de dentro para fora

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Ser autossuficiente é coerente, uma metamorfose dolorosa, de dentro para fora.

PÉTALAS SOLTASWhere stories live. Discover now