❝ FEMINILIZAR ❞

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Escrever para quem não sabe interpretar é uma tarefa árdua, pois as palavras exigem dedicação para serem compreendidas. Entretanto, não posso evitar o bater de asas do meu coração, o qual anseia por ser ouvido, por contar de uma vez por todas a nossa história, rompendo o casulo de dor em que nos guardei, com medo de admitir para mim mesma o quão significativo foi o "nada" que nos envolveu. Então, recontarei a você, o mau interpretador.

Desde o início, quando nos conhecemos, eu logo percebi que você era demasiado diferente de mim e das outras pessoas com as quais eu costumava conviver. Nosso círculo social era distinto demais e eu não considerei tal fato como algo ruim, inclusive, achei interessante que estivéssemos trocando experiências. Achei que poderíamos acrescentar um nas lacunas do outro, como a melhor face de um clichê no qual os opostos se atraem, sabe? Porém, ao mesmo tempo em que você insistia em me mostrar apenas a sua versão machucada, que havia desligado todos os sentimentos em relação às pessoas (ligando apenas o "dar de ombros" para o mundo), eu só conseguia notar o quanto você estava se utilizando de uma casca montada pelo seu instinto de proteção para omitir quem você realmente era. Eu vi além do que você se permitia mostrar, entende? Além do que você se esforçava para parecer. Eu enxerguei você de verdade.

Mesmo agora, você não aceita mais ser alguém sensível, empático e altruísta, porque não quer mais que essas características tornem-se armas nas mãos de pessoas maldosas. Você não quer mais ser magoado por causa de quem é e eu sinto muito por tudo o que você já passou, sério. Entretanto, eu só queria que você entendesse que eu não sou nenhuma das outras pessoas que já passaram pela sua vida.

Eu jamais me utilizaria das suas fraquezas para vê-lo sofrer ou se humilhar. Eu não sou esse estereótipo ambulante que você insiste em me moldar. A criação que tive não me permite ser menos do que o melhor que eu possa ser para as pessoas. Está certo que eu sou péssima comigo mesma, tenho incontáveis defeitos, como você bem sabe, mas, de novo, eu não sou nenhuma das outras pessoas que já passaram pela sua vida. Não tenho intenção nenhuma de ser alguém que machuque você. Logo, não mereço ser tratada como se eu fosse a culpada por algum dos seus traumas ou dores porque, na verdade, tudo o que eu tentei fazer, desde o início, foi estender a minha mão para você.

Sabia que eu hesitava em todas as mensagens que eu o enviava? Apesar de ter sentido que tínhamos uma conexão especial (o que percebi ser unilateral), eu simplesmente não conseguia escrever sem, antes, pensar várias vezes em quais seriam as suas respostas secas ou indiferentes para mim. Eu sei, eu sei, você já me disse que fazia algumas coisas para me despertar e para me ajudar. Contudo, havia momentos em que eu só queria me sentir uma garota comum com você, sem que você me visse como um projeto que precisava ser lapidado durante incansáveis vinte e quatro horas. Afinal, uau, na sua concepção, eu tinha muito o que melhorar, não é?

Não estou reclamando da sua boa vontade, por favor, não me entenda errado, gostei de saber que você se "preocupava" comigo (pelo menos, em algum mísero momento daquela mentira toda). Porém, não queria que você se esquecesse de que eu continuo sendo uma pessoa sensível a qual também teve experiências horríveis na vida (como todo mundo).

Eu repetia para mim mesma que você só me tratava de certas formas porque já havia sido muito magoado no passado, então, eu continuava aceitando todos os seus julgamentos e atitudes dolorosas sem me lembrar de que cada caso é um caso e de que cada pessoa é um ser único. Ou seja, o que funcionou para você pode não funcionar para mim (mesmo que as suas intenções tenham sido "boas") e, de fato, todas aquelas grosserias não me foram úteis.

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