❝ (re)clamar ❞

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Eu não quero mais ser quem sou. Não quero ser quem dizem que sou, não quero ter o nome que tenho, não quero sentir o que sinto, não quero ver do jeito que vejo. Não quero mais sobreviver. Não quero pisar pelas calçadas vazias, não quero ter conversas supérfluas, não quero lutar em vão. Não quero mais sofrer. Não quero me enganar, não quero me machucar, não quero me idealizar. Não quero mais ignorar. Não quero fingir que não dói, não quero disfarçar a decepção, não quero forçar a felicidade. Não quero mais escrever. Não quero me calar, não quero dar a desculpa de que não sei conversar, não quero me limitar. Não quero mais negativar. Não quero ser pessimista, não quero me atemorizar sem motivos, não quero desistir antes de tentar.

Eu não quero mais ser quem sou, entende?

Mas quero pronunciar essas palavras todos os dias, até que meu coração se acalme e meus lábios se cansem. Posso subjugar minhas dores ao bel-prazer da depreciação, por enquanto, até que meus joelhos inflamem e minha língua me peça para parar.

Se não posso convencer-me do contrário (de que em mim há qualidades), posso, pelo menos, vencer-me pelo cansaço de falar, desabafar, gritar.

Até que eu pare de acreditar.

Até que eu pare de chorar.

Até que eu pare de clamar.

Clamar e (re)clamar.

PÉTALAS SOLTASOnde as histórias ganham vida. Descobre agora