20. SILVIA

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Silvia deixava o salão de beleza furiosa por se deixar convencer a sair de casa sem carro

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Silvia deixava o salão de beleza furiosa por se deixar convencer a sair de casa sem carro. Seu noivo, que gentilmente se ofereceu para levá-la e buscá-la quando o teste de penteado e maquiagem para o casamento – ou melhor, a forma descriminalizada de tortura que era ser escovada e penteada e decorada enquanto várias mulheres fofocavam freneticamente em seus ouvidos – terminasse, devia ter pensado melhor sobre o quanto sua futura esposa detestava esperar. E olha que Pedro Augusto só estava um par de minutos atrasado.

Ela digitava freneticamente "cadê você" tantas vezes quanto humanamente possível, até que seu próprio carro virou à esquina. Odiava que dirigissem seu carro e tirassem o banco e os retrovisores do lugar, pensou enquanto franzia as sobrancelhas para o veículo, buscando se certificar mesmo à distância de que seu noivo não havia cometido tamanha atrocidade.

Pedro baixou graciosamente a janela do carona e espiou Silvia coçando os olhos sobrecarregados pelos cílios postiços que a maquiadora insistiu em usar. Seu rosto redondo não era exatamente bonito, mas não era difícil de olhar também. Silvia tinha chegado à conclusão de que qualquer homem fica mais bonito de farda, e o uniforme policial fazia muito mais favores à figura de Pedro Augusto do que desfavores.

Um sorriso agradável deu conta do rosto de seu futuro marido, e ele comentou, enquanto Silvia metia a mão na tranca da porta e se sentava de qualquer jeito ao seu lado, que ela estava belíssima. A marcação que as maquiadoras fizeram nos olhos claros de Silvia os destacavam, mesmo por trás nas grossas lentes de seus óculos. Os lábios pareciam mais volumosos, e as bochechas tinham um bonito tom de saúde - como se Silvia tivesse passado algum tempo sob o sol, e não sob a luz de um computador.

Silvia sequer tinha ouvido o elogio. Já detestava que outras pessoas dirigissem seu carro. Detestava mais ainda que a fizessem assistir quando isso acontecia, e não ajudava o fato de que Pedro estava ignorando o quanto ela detestava todas essas coisas para fazer-lhe louvores.

"Você é uma visão", ele insistiu, estendendo a bochecha na direção de Silvia, provavelmente esperando um beijo – que deixaria a marca dos três produtos labiais diferentes que Silvia usava nos lábios.

"Do inferno?", ela respondeu com amargura, tirando grosseiramente o batom dos lábios com o dorso da mão e digitando furiosamente o endereço da casa de Pedro no GPS. Considerando que ele morava na cidade vizinha, saber quantos minutos exatamente ela teria de sofrer com outra pessoa no volante de seu carro era primordial.

Nenhum beijo foi dado em todo esse processo.

"Do paraíso, Sil", Pedro deu-lhe um beijinho na bochecha, já que ela claramente não daria. Era fofo. Silvia se sentiu mal por nem ter percebido que não o havia cumprimentado direito, de tão irritada que estava com o negócio do carro.

"Você é bom demais", ela depositou a mão sobre sua bochecha, acariciando o seio da face morena de Pedro. "Eu não te mereço."

"Se não merecesse, eu não estaria aqui. Para de me colocar nesse pedestal", ele deu partida no carro, iniciando o trajeto de acordo com o GPS no celular de Silvia. Ele não tinha qualquer intenção de fazê-la ter um ataque de nervos porque ele pegou uma rua minimamente mais movimentada que a outra.

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