I wish you were gay

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Beijo Rick uma última vez, antes dele ir. O garoto da uns passos para trás quando nos separamos.

— Ei, não vai. — sussurro sorrindo, mas ele apenas lança um sorrisinho para mim, balança a cabeça e se vira descendo as escadas do prédio onde moro.

Quando Rick sai de vista, entro em meu apartamento fechando a porta. Há algo que me incomoda, e isso já fa um tempinho. Parece que Rick está me evitando. Não, deve ser coisa da minha cabeça. Pego as almofadas que estão no chão e as coloco no sofá, e depois pego o pote de pipoca que tem apenas caroços e levo para a cozinha deixando em cima da pia.

— Cheguei!!! — a voz de Lay ressoa por todo o pequeno apartamento.

— Estou na cozinha.

A jovem aparece na porta da cozinha, com os braços cruzados e a franja caindo em cima dos olhos.

— E ai, se agarraram muito? Usaram camisinha? — jogo a cabeça para trás dando risada, onde Lay me acompanha.

— Mais fácil você transar com um
homem. — Lay balança a cabeça para os lados ainda dando risada.

— Então você vai morrer virgem se for contar com Rick. — dou risada, mas agora não tem mais tanta graça.

E se ele não gostar mais de mim? E se ele não sente mais atração por mim ou pelo meu corpo?

— Hey, não fica assim não. — Lay percebe o que eu estou pensando.

A jovem se aproxima, e me da um abraço breve, porquê ela odeia abraços, e quando se afasta aperta o meu peito.

— Ei sua safada. — dou um tapinha na mão dela e volto a dar risada.

— Sabe de uma coisa? Vamos sair! Faz tempo que não saímos e vai ser bom pra você.

— E pra você também.

— Mas é claro. Eu estou louca para saciar os meus desejos carnais. — Lay diz com um tom luxuoso, por fim sai da cozinha.

As meias de bolinha colorida deixa engraçado o outfit que Lay está usando. Roupas pretas ou cores escuras, mas as meias meio que quebram esse padrão de rockeira.

— Vamos lá, já são oito horas. Vai tomar um banho, coloca aquele vestido que te deixa gostosa e vamos pra boate. — Layze diz se jogando no sofá e se enterrando no meio das almofadas.

— Não vai se arrumar?

— Não preciso, já estou maravilhosa.

Solto uma risadinha entrando no banheiro. Tomo um banho rápido, tentando não pensar muito sobre Rick. Saio do banheiro com a toalha em volta do corpo, olho para o sofá e Layze ainda está sentado nele, porém mexendo no celular ao mesmo tempo que fuça o controle remoto. Espero que ela não desconfigure a televisão, na última vez tive que pagar uma pessoa pra vir arrumar.

    Depois de ter me arrumado, e por incrível que pareça colocado o vestido que Layze sugeriu, me olho no espelho, tentando ao máximo não pensar em Rick e em questões sobre ele, mas é inevitável. Por quê Rick não curte tanto assim o que nós somos? Acho que eu não sou o suficiente para ele. É um bom ponto. Mas ainda assim, é um ponto que me incomoda como uma pedra no sapato e um espinho no ego.

    Sempre soube que Rick era demais para mim. Ele sendo modelo e tendo uma pequena fortuna, alem de fãs que o amam e outras coisas que apenas pessoas famosas conseguem, Rick sempre foi demais para mim, beleza demais, amor demais, cuidado demais. Mas eu nunca pensei que eu fosse de menos para ele, sempre me esforcei para dar todo o meu amor para ele, retribuir tudo o que ele já me deu.

    Esses questionamentos não são por causa que nunca transamos. Até porquê, não quero perder a virgindade que tenho guardado a tanto tempo para alguém assim, mesmo que seja para Rick — sim, quero me guardar para o meu marido. —, mas a forma que ele me abraça é diferente, a forma que me beija ou segura as minhas mãos. Tem algo diferente. Até mesmo quando conversamos sinto isso. Será que o problema é ele não me amar mais?

— Tá pronta? O táxi já chegou. — Lay fala da sala.

    Olho uma última vez no espelho, decidida a deixar os meus problemas em casa e curtir uma noite com a minha melhor amiga. Minha melhor amiga que na primeira oportunidade vai me deixar sozinha para se atracar com outra garota.

    Descemos as escadas em silêncio, apenas o som dos saltos enquanto eu ando e a respiração audível de Lay pode ser ouvida. Deixei meu celular em casa, e apenas estou com o dinheiro — bem guardado no sutiã — que vou gastar para a balada que Lay nos levar.

    Já dentro do táxi, coloco o cinto de segurança, feliz pelo veículo estar limpo e com aromatizante de pinheiros. Algo sutil e agradável.

— Nos leve até a Sweet Pepper. — Lay diz ao taxista, e por fim se vira para mim com um sorriso malicioso. — Eu já te disse que você fica gostosa nessa roupa?

    Solto uma risada nasalada, já acostumada com os comentários da mulher.

— Já. E ai, quais são os seus planos para hoje?

    Layze pensa um pouco, por fim abre um sorriso e tira a franja de cima dos olhos.

— Beber um pouco, deixar você na pista para dançar e ir a caça.

— Como sempre.

— Como sempre. — ela concorda, feliz com os próprios pensamentos.

    Depois de pagar a corrida, saímos de dentro do carro. Em frente a boate, a um grande número de pessoas esperando em uma fila para poderem entrar, e outras pessoas se agarram no muro do estabelecimento. Vejo que em um deles, são três pessoas ao mesmo tempo.

    A Sweet Pepper, é uma balada direcionada para o público LGBTQ+, mas claro que heteros também vão para se divertir, ou até mesmo explorar novas barreiras. Acho o ambiente interessante, e me sinto confortável para dançar sem que um homem enfia a mão na minha bunda.

    Entramos na boate sem precisar passar pela fila, já que Layze é amiga do segurança — que estranhamente é dono da boate. A música bate estaca fica mais alto, mas não é algo que me incomoda. Sigo Layze para o bar, onde pessoas vestidas de um jeito exótico estão aglomeradas tentando ser atendidas.

— Pega bebida pra gente, eu vou te esperar na porta do banheiro. — grito para a garota, tentando ser escutada.

    Lay levanta o polegar em aprovação. Abro um pequeno sorriso e ando calmamente para o banheiro — que fica do outro lado do lugar —, pedindo licença e tentando não esbarrar em ninguém, o que é meio impossível. Em algum momento meus olhos são atraídos para um homem, que é alto, moreno e com um porte físico invejável. Lápis preto foi passado em volta dos olhos do homem, dando a ele um efeito mais delicioso. Olho atentamente para o homem, e então percebo o porquê ele me atraiu tanto. Esse homem com maquiagem é Rick.

    Ando agora mais rápido, tentando passar pelas pessoas que dançam e esfregam os corpos umas nas outras, tentando chegar a Rick. Mas algo me impede.

    Rick sorri para algo, um sorriso que faz tempos que ele não dá a mim, e por fim, ele puxa alguém pela blusa, e beija com fervor e devoção, se entregando verdadeiramente a pessoa. Rick parece estar genuinamente feliz, beijando o outro homem.

    Observo mais um pouco a cena, apenas para me machucar mais um pouco. Rick é gay. Ele é gay.

Billie Eilish - ContosΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα