I Love You

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    Estamos no Central Park a noite, o que é perigoso. A qualquer momento pode passar alguém mal intencionado e fazer coisas ruins conosco. Mas não nos importamos com isso, não mesmo.

    Jogo a cabeça para trás dando risada de um piada ruim que Jacob acabou de contar. É tão ruim que chega a ser engraçado. Escuto a risada dele acompanhar a minha, baixa e grossa. Já é tarde, mas cá estamos nós, no Central Park contando piadas ruins depois de comer pizza de brócolis.

    Quando as risadas ao pouco vão diminuindo até não existir mais, ando ao lado de Jacob, com o braço roçando no braço dele levemente. O clima está agradável, mesmo que seja quase de madrugada, está fresco e com pouco vento.

— Vamos, conte outra piada ruim.

    Jacob para, e eu também paro. Ele fica a minha frente, e de repente me abraça. Isso foi inesperado.

    Mas ao invés de afastá-lo e fingir que essa aproximação nunca aconteceu, permito que ele me abraça, e surpreendendo a mim mesma, aninho a cabeça no peito dele, sentindo o perfume que estranhamente tem cheiro de maconha. Escuto o coração dele bater rapidamente, é algo reconfortante.

    Quando nos separamos do abraço, Jack segura os meus ombros fazendo com que eu permaneça na frente dele. O garoto procura os meus olhos, e deixo que ele encontre. Vejo que os olhos negros brilham sobe os postes do parque e da lua.

— Eu te amo.

    Seguro a respiração, e procuro nos olhos dele algo que denunciasse... algo desse tipo.

— Essa foi uma piada de muito mal gosto. — falo, tombando a cabeça para o lado e dando uma curta risada.

— Não é piada. — e então eu percebo que realmente não é.

    Arregalo os olhos, dou um passo para trás me desprendendo das mãos dele. Inferno, o que eu fiz para merecer isso? Dou as costas para Jacob e vou em direção a um banco de madeira. Me sento nele, e apoio os cotovelos nas coxas, por fim coloco a cabeça entre as mãos.

    Por que? Como? Quando? Ah não, eu sei onde eu errei. Nunca deveria ter deixado ele me enxergar, ele me ver de verdade. Por que eu me abri para ele? Fui burra, e a culpa é toda minha.

— Eu... eu talvez esperava essa reação mas, ainda assim... — o sussurro de Jack me trás de volta a realidade.

    Encarando o chão consigo perceber que na voz dele há dor. Ainda assim, esperava que eu dissesse 'eu também'. Para me torturar mais um pouco, olho para o garoto sentado ao meu lado. Para o meu melhor amigo. Os olhos negros estão úmidos, a ponta do nariz vermelho, as bochechas também estão avermelhadas. Foram poucas vezes que eu o vi chorar, e foi a primeira vez que o motivo sou eu. Droga, mil vezes droga.

— Jack, eu não sei o que dizer. — falo por fim.

    Jacob concorda com a cabeça, ainda esperando.

— Eu ainda estou esperando você dizer que não foi sua intenção dizer... bem, aquilo. — dessa vez desvio o olhar para o lado. As árvores balançam preguiçosamente. — Ainda espero que seja mentira.

    O meu melhor amigo solta um suspiro. Espero ele dizer algo, espero que ele volte atrás e diga que foi um engano, espero que seja mentira. Espero tantas coisas que sei que nunca vão se tornar realidade.

— Eu não queria, mas eu te amo. — e com essa simples frase ele me arrebenta. Sinto que estou caindo, sinto que algo caiu em mim.

    Sei que ele fala a verdade agora. Ninguém gostaria de me amar — eu não me amo, então porquê outra pessoa iria me amar? —, então deve ser horrível para ele me amar, sabendo quê nunca será retribuído. Estou vazia, não posso oferecer nada a ninguém, não posso me doar a ninguém.

    Me levanto, ele se levanta. Me sinto vazia, me sinto azul. Olho para Jacob, e eu consigo ver que ele entende isso, ele entende todos esses sentimentos e falta deles, ele simplesmente entende. Jack me lança um sorriso, mas nos olhos dele vejo que ele está morrendo por dentro. Não, ele não. Eu posso morrer todos os dias, eu posso ser vazia, mas não o Jack, não esse garoto que me ensinou a voar mesmo eu desejando não ter feito.

    Percebo que estou chorando tarde demais. As lágrimas escorrem gordas, rápidas e quentes, sem previsão para parar. Estou novamente nos braços de Jacob, ele preenchendo o meu vazio, sugando a minha dor. Molho a camisa dele com as minhas lágrimas.

— Eu te amo, mas eu não quero, mas eu te amo. — murmuro a ele, me sentindo cada vez mais suja.

    Ele não deve receber o meu amor sujo, o meu amor falho e frágil. Os braços dele me apertam mais, sinto que ele colocou o queixo no topo da minha cabeça.

— Tudo bem, tudo bem.

Billie Eilish - ContosWhere stories live. Discover now