Capítulo 15 - O beijo

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"Se tudo estiver indo muito bem, desconfie finais felizes não existem".

Aldo Andrade

Rafael me encarava com um olhar triste, seus olhos se encheram de lágrimas e brilhavam com a luz pálida da lâmpada presa a parede. O quarto parecia mais claro do que estava naquele momento. Ele respirava com urgência, seus punhos estavam cerrados e sua veias formavam protuberâncias em sua pele. Então seu corpo foi relaxando aos poucos, suas mãos se abriram, mas seu olhar não mudara, ele se mantinha fixo nos meus olhos envergonhados. Eu podia ver a decepção em seu rosto, podia ver a dor que nascia ali.

Um coração partido.

Eu queria dizer algo a ele, queria dizer que não era aquilo que ele estava pensando. Que João Paulo havia me agarrado à força. Que eu o amava. Mas não consegui dizer uma única palavra, e mesmo que eu tenha aberto a boca para tentar dizer algo, apenas ar passava por minhas cordas vocais. Seu olhar de reprovação me deixara sem ação.

Eu me sentia culpado.

Culpado por não ter o feito ir embora, por ter deixado que ele chegasse tão perto, que ele tocasse a minha boca. Culpado por tudo o que estava acontecendo naquele momento.

Culpado.

Ele se virou e olhou para João Paulo que estava em silencio, encostado na parede sem esboçar nenhum sentimento em seu rosto, ele apenas estava ali sentado respirando de forma tranquila, suas mãos tocavam o chão frio. Ele olhou rapidamente para ele e depois para mim e abaixou a cabeça. Há algum tempo atrás ele não teria deixado o que Rafael fez por menos de que um soco, mas ele estava diferente.

Controlado.

E sem dizer uma única palavra Rafael saio da enfermaria, a passos lentos e curtos sem olhar para trás. Lisa continuava ali na porta com um sorriso infantil plantado em sua cara, ela olhou para João Paulo e para mim.

- Pisou na bola em "gazela saltitante". – disse ela sorrindo. – e não precisa agradecer pelo meu torpedo ta "veado alfa" – ela riu mais uma vez. Agora o zoológico esta completo. – disse por fim, seguindo o caminho que Rafael fizera.

Olhei para João Paulo que estava em silencio.

- Eu não queria te causar problemas – ele disse por fim.

Levantei-me da maca e fiquei de pé, ele fez o mesmo me olhando nos olhos com urgência.

- Eu sinto muito – disse ele.

- Sente muito? É isso o que você tem a me dizer? Que sente muito?

Virei-me e procurei me acalmar. Meus olhos se encharcaram rapidamente, a luz florescente acelerava a queda das lágrimas que escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava inutilmente seca-las. Então sentir sua mão segurar o me ombro, virei-me o mais rápido que pude e o empurrei com toda a força que tinha, mas ele me abraçou e me prendeu.

- Me solta! Você esta fazendo de novo não vê? – eu soluçava enquanto minhas lágrimas umedeciam sua camisa – Esta destruindo tudo de novo...

- Eu sinto muito, sinto mesmo. Precisa acreditar em mim eu nunca quis isso... Nunca quis ter te deixado, eu fui um idiota e deixei que outro fizesse o que eu devera ter feito com você desde o inicio.

Então ele afrouxou os braços sobre mim e me afastei dele ainda tentando secar as malditas lagrimas que escorriam do meu rosto.

- Porque na droga da minha vida nada da certo? Porque não me deixou morrer naquele dia? Porque não me deixou morrer?

Eu estava chorando mais e ele voltou a me abraçar agora sem resistência minha.

- Porque eu te amo.

Então ele me abraçou mais forte tentando me reconfortar.

João Paulo me deixou sozinho no pátio externo e foi ate a minha sala pegar minhas coisas. Eu não poderia voltar para "minha"... Eu não podia voltar, mas também não tenho para onde ir e em hipótese alguma eu ficaria na casa do João Paulo.  Então ele apareceu me tirando dos meus pensamentos.

- Esta tudo bem?

Não o respondi.

Ele suspirou e olhou para o céu e me disse:

- Telefonei para a sua mãe, ela esta vindo aqui.

- O que? Mas em que diabos você esta pensando? Não deveria envolver minha mãe.

- Ele não fez por mau filho. – disse a voz familiar que estava atrás de mim.

Ela tinha um metro e sessenta e cinco. Cabelos curtos e castanhos vestia um vestido florido e estava com o costumeiro óculos de leitura em seus olhos, sinal de que saio as pressas de casa para chegar ate aqui. Levantei-me e fui em direção a ela que me recebeu com um abraço forte, enquanto eu voltava a chorar.

- Esta tudo bem filho, esta tudo bem... Eu estou aqui, onde sempre deveria ter estado. – disse ela com a voz embargada. – Vamos, vamos para casa.

Olhei para onde João Paulo estava sentado, mas ele não estava, mas ali. Ele havia ido embora. Então minha mãe me abraçou e guiou ate o estacionamento e em silencio seguimos pela avenida que dava acesso ao centro da cidade.

Minha mãe entrou na rua que da acesso a minha casa – que fica ao lado do X-Mart uma loja de conveniência da cidade – era fácil de identificá-la pelo jardim de rosas brancas, as arvores frutíferas que ficavam em frente à propriedade e pela pequena trilha de pedras acinzentadas que levava ate a varanda e lá havia um velho balanço de madeira que fizera parte da minha infância e que me fazia companhia em noites de céu estrelado. Mas ela não parou ali, continuou com o carro em movimento por uma rua adjacente.

- E o papai? – perguntei.

- Ele tem tentado se encontrar. – disse ela olhando atentamente a rua.

Ela parou em frente a uma pequena casa – muito familiar que há alguns anos eu não entrava, desde a morte da vovó – com uma cerca viva ao redor da casa e uma enorme arvore de copa grande e frutífera que eu imaginei que estariam mortas. Havia um ladrilho acinzentado que levava a entrada da casa. Ela tinha um terraço coberto com um banco de madeira e uma velha cadeira de balanço esquecida em um canto que parecia recém-envernizada. Ela era branca com ter faixas duas estreitas e uma mais largas da cor azul, tendo dois andares. A casa continuava a mesma e intacta, mesmo depois de tanto tempo.

Rebeca – minha mãe – abriu a porta da casa e seu interior estava limpo, mobiliado, o vão de entrada tinha o costumeiro cabide vertical com varias hastes para se colocar casacos, guarda-chuvas e chapéus e uma mesa de vidro com um jarro cheia de rosas brancas. A sala tinha um sofá e uma poltrona, havia um tapete e um raque com um aparelho de DVD, TV, e uma aparelhagem de som, havia o balcão e do outro lado estava a cozinha com uma mesa de madeira redonda com quatro cadeiras. Os armários que estavam presos à parede, abancada, a pia, o fogão e a geladeira.

Em um canto escondido estava à escada que levava a parte superior da casa, subimos e estavam os dois quartos, um recém decorado para sediar um rapaz onde havia uma cama, uma escrivaninha com um notebook, um guarda roupa e o banheiro e o outro com uma decoração neutra que se mantinha do jeito que eu me lembrava. Uma enorme cama de casal com um adorno ao seu redor, o papel de parede florido, a penteadeira e o guarda roupa além do próprio banheiro.

- O que achou? Andei trabalhando nesta casa há algum tempo.

- Ela ficou linda mãe. – respondi com um sorriso no rosto.

Ela passou a mão em meu rosto e limpou os vestígios de lágrimas me meu rosto e deu um sorriso reconfortante.

- Sei que não sei o que houve, mas tenho certeza que tudo se resolvera mais cedo ou mais tarde Adam. – ela sorriu de novo.

Retribui com um largo sorriso e perguntei:

- Vai vender a casa?

- Não, jamais. Além do mais sua avó Elizabethy queria que ela ficasse com você... Então esta é sua casa agora.

De Repente Amor | Romance BLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora