Amor De Guerra

12

Ethan

1 ano depois.

A parte mais difícil é acordar todos os dias e lembrar que falta uma parte de você.
Olhar para o espelho é a única guerra que enfrento a cada duas semanas, que é quando minha barba começa a aparecer.
De capitão do exército para um homem sem metade da perna direita. Essa é minha vida agora.

Encaro a prótese escorada ao pé da cama. Ela não é tão ruim.
É confortável e garante uma vida perto da normalidade.
Preciso de um banho. Meu corpo está pegajoso e molhado de suor. Não é algo anormal de uns meses para cá. Tenho pesadelos com a última guerra sempre que esqueço meus remédios para dormir. Remédios que me garante uma noite sem sonhos e agitações.

- Quer ajuda? - Anne adentra o quarto com uma bandeja de café da manhã.

- Não precisa, obrigada - Respondo sem vontade.

Eu já desisti de tentar ser como era. A verdade é que eu nunca mais serei o mesmo homem. Tudo está uma grande merda. Eu não posso mais correr como corria, dormir tranquilo, ser feliz. Tudo que me fazia feliz foi tirado de mim, só me restou Anne.

Assim que percebo o cobertor ser movido, puxo-o para mim com agressividade. Encaro Anne que me olha triste.
Desculpe Anne.

- Não faça isso, por favor - Tento ser passivo.

Eu não gosto que me vejam sem a prótese. A vergonha que sinto é deprimente.

- Não pode negar ajuda para sempre - Ela afasta a bandeja e se senta ao meu lado - Fui eu quem o vi crescer e amadurecer. Quem cuidou de você sempre que chegava de algum lugar todo furado de bala.

- Não é a mesma coisa - Mantenho os olhos fixos nas minhas pernas sob o cobertor.

A mão de Anne acaricia meu cabelo e meu rosto, logo sou forçado a olhar para seus olhos amendoados.

- Claro que é - Ela sorri com carinho, porém, um sorriso sem resquícios de felicidade - Sua rejeição dói muito mais do que te ver nesse estado.

Respiro fundo e retiro o cobertor. Anne encara minhas pernas e volta o olhar para mim sem nenhuma expressão.

- Pode me ajudar? - Peço. Estou lutando contra meu próprio orgulho. Nunca fui uma pessoa orgulhosa, sempre pedi ajuda quando era preciso, mas agora me sinto um fardo, um problema. Não quero ficar mendigando ajuda das pessoas para realizar tarefas básicas, isso é humilhante.

Anne vai até a parede oposta a cama e pega minhas muletas.

- Precisa de um banho. Depois tomará o café - Apenas obedeço.

Com a ajuda de Anne, me mantenho em pé com as muletas.

Em breve terei uma nova prótese, uma que poderei usar dentro da água e poderei dormir com ela, isso facilitará muito minha vida, e poderei finalmente tirar aquelas merdas de apoio de dentro do meu box.

Minha vida mudou drasticamente. Ainda me considero um atleta. Desconto minhas frustrações na academia durante quatro horas por dia.
Estou trabalhando na empresa do meu pai. Anthony Ross, um empresário de sessenta anos que está prestes a se aposentar. Saber que o filho encerrou a carreira militar foi o ponto alto da vida dele.
Não tive muita escolha para falar verdade, assumir a presidência da empresa foi a maneira que encontrei de me distrair e me manter concentrado.
Organizar planilhas, fazer reuniões, resolver problemas e lidar com pessoas é o que faço, não é muito diferente do que eu já fazia, quando não estava comandando algum pelotão, claro.

- Ethan - A voz de Anne surge por de trás da porta - Deixei dois ternos sobre a cama, não sabia qual ia escolher então passei os dois.

- Tudo bem. Obrigado, Anne.