perguntas

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Na segunda feira, quando ele apareceu, eu percebi que minha intuição estava certa.

A chuva caía super forte lá fora, mas a real tempestade provavelmente acontecia no interior do garoto sardento.

Um de seus olhos estava roxo, sua boca estava inteira sangrando, havia uma marca aparente de soco em sua bochecha, suas mãos e braços estavam ralados, pingando um pouco de sangue no uniforme da escola e no chão da loja.

Seu olhar era mais triste do que o normal, como se tivesse perdido toda a esperança no mundo. Porém, estavam secos, como se quem quer que tivesse feito aquilo não merecesse suas lagrimas.

Fico horrorizado e não penso duas vezes antes de sair do meu ponto no caixa e me apressar até o garoto, Chan nem tentou me impedir, pois estava tão estático e preocupado quanto eu.

Percebi que o menino mancava e que seu corpo estava, aos poucos, desistindo, e ele caía no chão, então tentei segura-lo com meu corpo minúsculo, e talvez ele fosse grande demais, pois eu quase caí com ele.

Olhei horrorizado para Chan, que cobria a própria boca com uma das mãos.

Quer dizer, nós somos atendentes de lojas de conveniência, já vi todo o tipo de coisa estranha, mas não é sempre que alguém aparece desta forma e desmaia de fatiga.

— Hyung o que eu faço? — pergunto, desesperado. Chan saiu de seu transe e correu até a área com curativos e produtos para desinfeccionar machucados, pegando um monte de coisa e passando, pegando seu próprio dinheiro pra pagar.

— Você mora aqui do lado não mora?

— Moro sim, por que? — minha cabeça havia desistido de processar informações no segundo que o estudante entrara na loja.

— Leva ele pra sua casa e limpa os machucados dele que essa loja infernal mal tem banheiro — reclamou, colocando tudo na minha mochila e me dando. — Eu cubro seu horário, me avisa assim que ele acordar.

— Aí meu Deus — murmuro, mas concordando com a cabeça. Passo minha mochila pelo meu tronco e Chan me ajuda a colocar o garoto nas minhas costas, e assim eu saio da loja, andando alguns passos e chegando na minha residência.

Com muita dificuldade eu tiro meus sapatos e trago o jovem até o segundo andar, aonde tem meu quarto. Era no meio da tarde, então meus pais não estavam. O coloco na minha cama e abro o WikiHow em meu celular, pesquisando algo relacionado à limpar machucados de uma pessoa inconsciente.

Lavo minhas mãos com pressa e volto para o meu quarto, vendo que sangue caía em minha cama. O machucado dos seus braços, porém, não parecem tão fundos. Pego um pouco dos lenços esterilizados e pressiono de leve nos machucados, rolando a tela do celular para saber o que fazer. Elevei as mãos dele, cada uma em cima de um urso de pelúcia ou almofada que eu tinha — não estava prestando atenção naquilo no momento.

Fiz tudo o que o WikiHow mandou, tomando cuidado e sempre me desculpando para a pessoa inconsciente quando fazia algo que parecia machucar. Agora, já com os braços com curativos feitos, passei a limpar seu rosto. Havia alguns ralados superficiais em seu queixo, o corte em sua boca, e um lugar perto do seu olho sangrando. Limpei tudo e pressionei uma bolsa com gelo nas áreas vermelhas que já começavam a ficar roxas.

Aquilo me fez tirar um tempo para checar seu rosto mais de perto, pela primeira vez. Seus cílios eram maiores do que eu imaginava, e suas sardas pareciam uma constelação perfeitamente calculada, todos os pontinhos estavam no lugar certo. Seus lábios grossos estavam pálidos por causa do frio, e com alguns cortes provavelmente por conta de mordidas constantes.

A pele dele era macia e levemente bronzeada, bem mais morena que a minha, pálida de quem só fica em casa.

Me pergunto quem teve a coragem de espancar um anjo desses, por que teria o feito, qual era o seu nome, qualquer coisa.

Lá no fundo, eu só quero conhecê-lo melhor.

🚬

   Estou no meu terceiro cigarro de cereja quando escuto sons que indicam que o garoto está vivo.

   A janela do meu quarto esta aberta, e eu me sento na sua batente, observando a chuva cair enquanto borrava as luzes da cidade. Apago o cigarro do meu lado e jogo a bituca pela janela, porque sou um ser humano horrível.

   Me arrependo logo em seguida.

   — Não jogue a bituca pela janela — foram as primeiras palavras que ele disse quando acordou.

   — É sério? Nem um "obrigado"? — reclamo, mas internamente concordo com ele e me sinto um lixo por jogar a bituca pela janela.

— De que vai adiantar agradecer se caso você mate o planeta eu vou morrer também?

— Você tem um ponto — eu sorrio, saindo do batente e andando até ele. — Como se sente?

— Como se eu tivesse sido espancado por três pessoas, ah espera, eu fui — satirizou, mas depois parecendo se arrepender. — Haha, boa piada né? Nossa olha a hora, acho melhor eu ir...

— Opa, opa, espera — disse. — Você não vai pra lugar nenhum com essa chuva.

— Isso é cárcere privado e eu exijo meu advogado — exclamou, ameaçando se levantar mas logo se arrependendo e gemendo de dor. — Eu nem te conheço!

— Lógico que conhece, eu sou o atendente da Seven Eleven, todo mundo me conhece.

   — Convencido — ele murmurou, suspirando. — O que eu estou fazendo aqui?

   — Você desmaiou, estava ensanguentado, não podia te deixar pra morrer.

   — Mas por que aqui?

   — Voce gosta de fazer perguntas, em?

   — Minha mãe me disse que sempre foi uma das minhas coisas favoritas.

— Verídico — concordei, dando de ombros. — Minha casa é perto da loja então o outro atendente falou para eu te trazer aqui. Descansa um pouco, vou te fazer chá, pode ir embora só depois que se sentir melhor.

Comecei a sair do quarto, mas o garoto me chamou quando estava quase totalmente do lado de fora.

— Changbin — chamou, e eu primeiramente me assustei por ele saber meu nome, mas lembrei que ele estava no crachá do meu uniforme e tudo fez sentido. — Obrigado.

— Não foi nada.

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Perguntas para quebrar o gelo de início de fanfic!

Pergunta de hoje:
Você acha essas perguntas irritantes? Kkkk
Acha que eu devia parar ou elas são divertidas?

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